A soja ganhou 402 mil hectares a mais no Tocantins entre uma safra e outra, chegando a 1,6 milhão de hectares plantados em 2025. O dado é da SpectraX, empresa especializada em inteligência territorial, que aponta o Estado como um dos que mais cresceram na região da Amazônia Legal. A expansão, segundo o levantamento, ocorreu sobre áreas de pastagem já abertas, muitas delas degradadas.

Além do Tocantins, Mato Grosso, Pará, Maranhão, Rondônia e Roraima puxaram o avanço do grão no Norte do país, redesenhando o mapa da soja no Brasil. O Mato Grosso continua liderando a produção nacional, mas começa a dividir espaço com estados que, até pouco tempo, tinham menor expressão nesse mercado.

A explosão da soja no Tocantins segue o padrão observado em outras regiões: lavouras avançam sobre pastos, bons ou ruins, em sistemas que integram agricultura e pecuária. Para pesquisadores da Embrapa, isso tem ajudado a melhorar a produtividade sem a necessidade de abrir novas áreas. Mas há controvérsias.

Pressão ambiental

O crescimento da produção ocorre em paralelo a um aumento de 15% no desmatamento do bioma Amazônia entre agosto de 2024 e maio de 2025, segundo o Imazon. O instituto, no entanto, não relaciona diretamente o avanço da soja à devastação, e sim a queimadas e extração de madeira. Ainda assim, o dado assusta: 2.825 km² de floresta foram derrubados, uma área maior do que Palmas inteira.

O Tocantins não está entre os Estados com maior volume de desmatamento, mas parte do seu território está na Amazônia Legal e pode sofrer impactos indiretos. Para pesquisadores, o avanço da soja precisa ser acompanhado de perto, principalmente nas regiões mais ao norte e nas bordas do Cerrado.

Tecnologia puxa a produtividade

A aposta do agronegócio está na biotecnologia. Com a edição gênica, técnica que permite alterar os genes das plantas, a expectativa é dobrar a produtividade em áreas que já são usadas hoje. A Embrapa já desenvolveu uma soja que exige menos água e deve funcionar bem em regiões mais secas do Tocantins.

Segundo Alexandre Nepomuceno, da Embrapa Soja, o país pode ampliar produção sem desmatar. “O Brasil tem tecnologia para isso. Hoje tem produtor colhendo 7 toneladas por hectare. A média nos anos 1980 era 1,7”, disse ao Estadão.

No papel, tudo funciona

A questão, como sempre, está na prática. Embora o discurso seja de produção sustentável, o avanço do agronegócio nem sempre vem acompanhado de fiscalização, controle ambiental ou compensações adequadas. Com o crescimento da soja no Tocantins, o desafio passa a ser garantir que esse avanço não leve a mais pressão sobre áreas de floresta ou comunidades vulneráveis.

Para o Imazon, as queimadas de setembro e outubro do ano passado foram o principal fator de degradação ambiental. Só em maio deste ano, a floresta perdeu 679 km² por causa de queimadas e atividade madeireira, um salto em relação aos 6 km² perdidos no mesmo mês do ano anterior.

Com isso, o Tocantins entra de vez na rota da expansão agrícola. Mas o custo dessa escolha, ambiental, social e econômico, ainda está em aberto.