João Paulo Alexandre

O homem preso suspeito de espancar a mulher momentos antes de ela cair do 10º andar de um prédio em São Paulo recebeu R$ 12 milhões da produtora executiva da cinebiografia de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o portal Metrópoles, a verba para Alex Leandro Bispo dos Santos teve como origem um contrato da Prefeitura de São Paulo para instalar e manter wi-fi gratuito em comunidades carentes.

Segundo documentos obtidos pelo jornalista Demétrio Vecchioli, há assinaturas de Alex Bispo, da vítima, Maria Katiane Gomes da Silva, como testemunhas, e de Karina Pereira da Gama, presidente do Instituto Conhecer Brasil (ICB) e da produtora executiva do filme “Dark Horse” a partir da produtora Go Up, da qual é sócia.

O Intercept fez uma reportagem que mostra que o ICB foi contratado pela Prefeitura de São Paulo em junho do ano passado, por R$ 108 milhões, para instalação e manutenção de 5 mil pontos de wif-fi gratuito em regiões de baixa renda por um ano. A contratação veio a partir de um edital que tinha ao menos 20 irregularidades, segundo o Tribunal de Contas do Município (TCM). Entre elas, a escolha de uma Organização Não Governamental (ONG) para prestação de serviços genéricos.

Os documentos mostram ainda um disparidade entre os valores: enquanto a Prodam – “gov tech” municipal – cobra R$ 306 para manter os funcionamentos dos pontos de wi-fi, o ICB foi contratado ao custo de R$ 1.080 por cada ponto e mais de R$ 1800 mensais pela manutenção.

O plano foi alterado pouco dias depois, a pedido da prefeitura. Segundo o ICB, cerca de 3,2 mil pontos foram postos em funcionamento. Porém, a gestão Nunes aceitou colocar o dia 30 de junho de 2024 como data de início de instalação, sendo que isso só aconteceu em setembro do mesmo ano. Desse modo, a prefeitura pagou R$ 26 milhões pela manutenção de pontos que ainda não existiam.

É nesse momento que entra Alex Bispo: uma empresa dele, a Favela Conectada, foi contratada como terceirizada para realizar o serviço de manutenção e receber R$ 712 por ponto de maneira mensal. Em um dos pagamentos, a empresa recebeu 12 “mensalidades” de manutenção em 218 pontos instalados entre 22 e 28 de abril de 2025, em um contrato que tinha validade até 30 de junho. Ou seja, o serviço funcionou pouco mais de dois meses, porém, recebeu por 12.

Apesar do contrato de R$ 12 milhões entre o ICB e a Favela Conectada, assinatura do contratado aparece homem sobre o nome do Alex e o CPF no contrato juntado à prestação de contas. Depois, o nome completo e o CPF de Alex Leandro aparecem em um termo de operação, que também foi assinado por Maria Katiane – a vítima.

A empresa de Alex também funciona no mesmo prédio de um escritório cujo o aluguel é pago pelo ICB com recursos do contrasto. O cheque caução do aluguel, de R$ 18 mil, foi colocado na prestação de contas apresentadas à prefeitura.

Em nota à reportagem, a Prefeitura de São Paulo disse que “a organização social cumpriu todas as exigências previstas no edital, e a prestação do serviço está em andamento com 3.200 pontos de Wi-Fi implementados e 1.800 pontos previstos para 2026. O prazo de execução precisou ser ampliado mas sem qualquer custo adicional à Prefeitura. A contratação de uma OSC ocorreu porque a Prodam não pode atuar em ambientes privados. Além disso, organizações sociais têm maior expertise na atuação direta às comunidades. Já a antecipação de roteadores foi formalizada por um Plano de Trabalho com o objetivo de acelerar o atendimento em regiões que apresentavam demanda social urgente por conectividade. A cidade tem hoje 7.923 pontos de Wi-Fi instalados e ativos”, disse a prefeitura.

A reportagem não conseguiu contato com o ICB e nem com a defesa de Alex Bispo.

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