A política do Tocantins historicamente tem dado exemplos que se desenvolve em torno de projetos pessoais e de governos que orbitam quase sempre numa lógica de curral, com base em alianças locais sustentadas pelo uso da máquina administrativa. Esse modelo, no entanto, cobra seu preço: não cria estabilidade política, nem coloca o estado em posição de destaque no cenário nacional. O resultado tem sido um ciclo repetitivo de rupturas, cassações e recomeços, sem que se forme um legado de desenvolvimento de longo prazo.

Em pouco mais de um ano, o estado registrou uma sucessão de episódios que reforçam esse quadro: um desembargador e ex-presidente do Tribunal de Justiça afastado sob acusação de venda de sentenças; o prefeito da capital preso e depois reconduzido ao cargo; o governador Wanderlei Barbosa afastado por decisão do STJ; e dez deputados estaduais, incluindo o presidente da Assembleia, alvo de busca e apreensão em operação da Polícia Federal. Esse acúmulo de rupturas expõe a fragilidade de um modelo político baseado em ciclos curtos, personalistas e dependentes da máquina administrativa. O efeito imediato é a desconfiança institucional, a insegurança jurídica e uma economia que perde vigor diante da ausência de garantias de estabilidade.

O próximo passo, seja com Laurez Moreira no exercício do governo ou com quem vier a comandar o estado, será observado justamente pela capacidade de romper com essa lógica do imediatismo. O Tocantins não pode continuar sendo percebido como um terreno de arranjos temporários que preservam apenas projetos pessoais. O desafio que se impõe é a construção de um projeto de maior fôlego, capaz de atrair investimentos, gerar confiança e oferecer previsibilidade política e fiscal.

Analistas avaliam que a preservação da biografia de governantes e a consolidação de um ambiente seguro, político, jurídico e social, são elementos centrais para o futuro do estado. Isso envolve responsabilidade fiscal, mas também políticas públicas consistentes em áreas como saúde, educação, segurança e inclusão social, vistas como pilares de qualquer sociedade que queira se projetar para além das próprias fronteiras.

Mais do que obras ou inaugurações pontuais, o cenário exige a construção de confiança institucional, condição básica para qualquer salto de desenvolvimento. Se o Tocantins quiser se desvencilhar da imagem de rupturas, cassações e operações policiais, seus líderes terão de ser capazes de projetar o estado como protagonista regional.

O potencial existe. O Tocantins reúne localização estratégica, expansão do agronegócio e possibilidade de oferecer qualidade de vida, inovação em políticas públicas e instituições respeitadas. O ponto de interrogação está no campo político: se os governantes conseguirão ir além da conveniência eleitoral e traduzir capital político em legado de longo prazo.