O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou nesta terça-feira, 24, uma acareação entre o general da reserva Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid, no âmbito das investigações sobre uma possível tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022. O procedimento ocorreu a portas fechadas e foi conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, com acompanhamento do ministro Luiz Fux e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.

A audiência teve como foco esclarecer divergências entre os depoimentos prestados anteriormente pelos investigados. Um dos pontos centrais da acareação foi a suposta entrega de dinheiro vivo a Mauro Cid, alegadamente destinado a custear a participação de manifestantes em atos em Brasília. Cid reafirmou que Braga Netto lhe entregou uma sacola de vinho contendo dinheiro no Palácio da Alvorada, após o PL negar recursos para apoiar a mobilização. Já Braga Netto negou ter feito qualquer repasse e afirmou que, diante da negativa do então tesoureiro do partido, coronel Azevedo, não voltou a tratar do tema com Cid.

De acordo com os registros da acareação divulgados pelo STF, ambos confirmaram que houve uma tentativa inicial de buscar apoio financeiro junto ao PL, mas divergiram sobre os desdobramentos após a recusa. Cid sustenta que o general buscou outras formas de viabilizar recursos, enquanto Braga Netto diz que o assunto foi encerrado com a resposta do partido.

Outro ponto discutido foi uma reunião entre Braga Netto e dois coronéis encaminhados por Cid, supostamente para tratar de insatisfações com o resultado eleitoral. As versões sobre a ocasião também se mostraram conflitantes. Braga Netto alegou que os oficiais foram apenas cumprimentá-lo, sem tratar de temas políticos, enquanto Cid indicou que o encontro poderia ter tido conotações mais sérias, especialmente à luz de informações que surgiram posteriormente com a operação “Punhal Verde e Amarelo”.

A sessão foi acompanhada pelos advogados dos réus, conforme autorização do ministro relator, mas sem qualquer tipo de gravação, conforme determinação do STF. O conteúdo da audiência foi registrado por escrito e integra os autos do inquérito que segue sob sigilo em sua maior parte.

As acareações fazem parte das diligências autorizadas pela Corte para elucidar as ações de agentes públicos e militares no período pós-eleitoral de 2022, dentro da investigação que apura se houve articulações para deslegitimar o resultado das urnas e interferir na transição de governo.