Setas aponta 16,9 mil frequências sem comprovação em contrato do Programa Jovem Trabalhador e envia caso à CGE
27 novembro 2025 às 22h46

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A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) identificou inconsistências na execução do Contrato nº 06/2022, firmado com a Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi), responsável pelo Programa Jovem Trabalhador. A fiscalização teria encontrado 16.929 registros de frequência sem comprovação entre junho de 2023 e setembro de 2025.
Segundo a pasta, o volume de registros ausentes representa estimativa inicial de impacto financeiro de R$ 25.702.422,00. A Setas afirma que o valor não tem caráter conclusivo e depende de validação técnica e contábil pela Controladoria-Geral do Estado (CGE).
A inconsistência veio à tona após análise da competência de setembro de 2025, quando fiscais apontaram a falta de comprovação de 393 frequências. O órgão aplicou glosa de R$ 654.113,13 naquele mês. A partir desse caso, a secretaria solicitou relatório completo do período anterior, que identificou a quantidade total de registros sem justificativa.
Notificada, a Renapsi respondeu que o controle e o envio das folhas de ponto são atribuições da administração e dos supervisores dos órgãos beneficiários. A empresa afirmou que os jovens receberam integralmente os salários e que houve prestação regular dos serviços. Os fiscais do contrato contestam essa interpretação e apontam divergências entre as frequências e os demonstrativos de faturamento.
Diante das versões distintas, a Setas encaminhou o processo à CGE para análise e manifestação. A Controladoria já recebeu o material e determinou envio à Superintendência de Gestão e Ações de Controle Interno (Sugaci) para exame técnico e possível abertura de Tomada de Contas Especial, caso verifique requisitos legais.
A secretaria afirma também comunicou o Ministério Público do Tocantins (MPTO), o Tribunal de Contas do Estado (TCE/TO) e a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), sobre o andamento do processo sob análise da CGE.
O contrato com a Renapsi encerra em 30 de novembro de 2025, e a gestão decidiu não prorrogá-lo. A Setas diz preparar lançamento de um novo programa de preparação para o trabalho, estruturado com expansão de arcos ocupacionais, inclusão da iniciativa privada e do Terceiro Setor, cursos profissionalizantes ofertados pelo Sistema S sem custos adicionais ao estado e novos mecanismos de monitoramento e transparência.
Procurada pelo Jornal Opção Tocantins, a Renapsi enviou a seguinte nota:
A Demà, lamentavelmente, informa a todos que o Governo do Estado do Tocantins, por meio da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), interrompeu o Programa Jovem Trabalhador, desligando mais de 1.600 jovens de forma imediata. A decisão foi comunicada oficialmente na tarde desta quinta-feira (27) e encerra a trajetória profissional de participantes, incluindo grávidas, PCDs, quilombolas, indígenas e adolescentes em vulnerabilidade social, interrompendo a qualificação e assistência que estava garantindo o primeiro emprego.
É importante ressaltar que a Demà sempre cumpriu o contrato seguindo todas as regras acordadas e manteve o seu papel de forma transparente, ética e profissional. Sobre as inconsistências alegadas pelo Governo do Estado do Tocantins, a entidade esclarece que as tarefas eram de responsabilidade da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) e que não foram cumpridas de acordo com o combinado.
O programa foi criado para romper ciclos de vulnerabilidade com formação técnica de dois anos, renda mensal e assistência social. Sua interrupção abrupta configura a quebra de um compromisso com a juventude tocantinense e o enfraquecimento de uma política pública essencial.
A Demà informa que buscará diálogo e apoio para que os jovens ativos possam concluir sua formação, garantindo dignidade e continuidade do aprendizado. O impacto social é agravado, pois a modalidade de contratação dos jovens impede a transferência dos participantes para outros programas.
