O tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos no último dia 6 de agosto, com sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, caiu como uma bomba no agro brasileiro. No Tocantins, onde cerca de 60% das exportações para o mercado norte-americano são de carne bovina, o impacto é direto e imediato. Araguaína já começa a sentir os efeitos, com a cadeia da carne na linha de frente das preocupações econômicas do município, que somente no ano passado exportou US$ 67,6 milhões aos EUA (equivalente R$ 366,7 milhões nesta sexta, 8).

Mas no meio da crise, uma contradição começa a se impor: a salvação do agronegócio tocantinense (que parte dele não tem lá uma boa fama de preservador) pode estar justamente na proteção ambiental.

Durante reunião com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o governador Wanderlei Barbosa ouviu o que já é consenso nos bastidores da diplomacia comercial brasileira: para conquistar novos mercados, é preciso garantir rastreabilidade ambiental. Em bom português, isso significa comprovar que a carne produzida no Tocantins não vem de áreas desmatadas ilegalmente, nem de terras indígenas ou embargadas. Cabe aqui dizer que, conforme dados do próprio governo do Tocantins divulgados nesta sexta, dos 844,4 km² desmatados no primeiro semestre deste ano, 21,3% dessa da área foi suprimida ilegalmente.

Essa exigência, feita por países como Japão, Vietnã e toda a União Europeia, vem se consolidando como uma nova regra do jogo internacional. E, se o Brasil quiser manter sua posição como potência do agro que exporta, terá que jogar conforme essas regras.

É aí que o Tocantins precisa fazer sua escolha: ou enfrenta o desafio de monitorar e certificar sua cadeia produtiva com ainda mais rigor, ou ficará de fora das mesas globais. Proteger o meio ambiente deixou de ser uma bandeira ideológica ou uma pauta de ONG: virou critério técnico para acessar mercados bilionários cada vez mais exigentes. Mais que isso, se tornou uma condição de sobrevivência econômica. Exportadores sérios sabem a dimensão disso, mas sempre bom reforçar. É aquela velha história: o óbvio precisa ser dito.

É simbólico que essa guinada venha justamente num momento em que o agro se vê pressionado por fora (pela tarifa americana) e por dentro (pela necessidade de manter empregos, arrecadação e estabilidade fiscal nos municípios exportadores). Em Araguaína, por exemplo, parte significativa do ICMS arrecadado com exportação de proteína animal pode evaporar. E com ela, o equilíbrio de contas públicas em 2025.

Não é exagero dizer que a rastreabilidade e a certificação ambiental são hoje as únicas ferramentas capazes de reconectar o Tocantins ao mundo. É a chance de não depender mais tanto dos humores do Trump em relação às medidas do STF ao ex-presidente Bolsonaro e diversificar rotas comerciais com inteligência, responsabilidade e visão de futuro.

O paradoxo é evidente. Para se manter economicamente, terá que proteger ainda mais o meio ambiente. E o Tocantins, que sempre se orgulhou de ser o “estado mais novo e promissor do Brasil”, tem agora a oportunidade de mostrar que também pode ser um exemplo de conciliação entre produção e preservação.

Quem garantir origem limpa, vende. Quem não garantir, sai do mapa. E talvez não volte nunca mais.