Tocantins chora mais uma vítima de homens violentos

15 setembro 2025 às 10h21

COMPARTILHAR
Nos últimos dias, o Tocantins virou pauta nacional diante de uma notícia insuportável: Harenaki Javaé, jovem indígena de apenas 18 anos, foi encontrada morta na Aldeia Canuanã, em Formoso do Araguaia. O corpo apresentava sinais de violência sexual, mutilações e carbonização. Ela estava grávida. O principal suspeito? O próprio padrasto, investigado também pela morte da mãe dela, em 2022.
Esse não é um crime qualquer. É o retrato cru do que os dados já vêm dizendo: a violência no Tocantins não para de crescer. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), só de 2020 a 2024 os casos novos aumentaram de 6,6 mil para mais de 10,2 mil. Em 2025, até julho, já são 6,3 mil. Pode ser pelo fato de as mulheres estarem denunciando mais, mas é um dado que não deixa de assustar. A imensa maioria dos agressores é homem.
Há anos aprovamos leis: Maria da Penha, feminicídio, medidas protetivas, tornozeleiras eletrônicas, tipificação do stalking, criminalização do uso de deepfake para violência psicológica. Mas nada disso conseguiu evitar que Harenaki fosse violentada, mutilada e morta. O que está acontecendo com os homens?
Não é falta de aviso. Não é falta de legislação. É um problema profundo, cultural, entranhado. Meninos ainda são educados para reprimir sentimentos, resolver conflitos na violência, enxergar mulheres como posse, achar que têm direito sobre corpos alheios. Falamos pouco sobre masculinidades, sobre saúde mental masculina, sobre prevenção. E, quando os sinais aparecem (ameaças, agressões anteriores, denúncias) quase sempre são ignorados até o pior acontecer.
A morte de Harenaki expõe também o racismo e a vulnerabilidade das comunidades indígenas. Se já é difícil para uma mulher não indígena denunciar, imagine para uma jovem indígena com deficiência intelectual, em um território onde o Estado chega frágil e o pior: chega tarde.
Não dá mais para tratar isso como “casos isolados”. O padrasto suspeito é símbolo de uma estrutura maior: homens violentos continuam tendo espaço para agir, mesmo quando já são conhecidos pelas autoridades. E nós, como sociedade, continuamos chocados, mas sem mudar a base do problema.
O que está acontecendo com os homens? Está acontecendo que nunca houve um trabalho sério, nacional e continuado para enfrentar masculinidades violentas. Enquanto não houver educação de gênero, atendimento psicológico para agressores e acompanhamento sistemático dos reincidentes, vamos continuar contando vítimas. E cada nome, Harenaki, sua mãe, e tantos outros, é um lembrete doloroso do preço da omissão.