Afastamento de Wanderlei esvazia candidatura de Amélio e pressiona futuro do governador sobre renúncia

03 setembro 2025 às 21h54

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O afastamento de Wanderlei Barbosa (Republicanos) desmonta não só o governo, mas o cálculo político que ele vinha fazendo para 2026. O governador jogava no conforto de ter aprovação popular, dono da caneta e confiante de que teria força suficiente para bancar seu candidato à sucessão, o deputado estadual e presidente da Assembleia, Amélio Cayres (Republicanos). Amélio, mesmo atrás nas pesquisas e alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira, 3, era o nome de confiança do governador. Com a saída de Wanderlei, a candidatura dele esvazia de imediato.
Se Wanderlei sonhava em ser senador, ele tinha um problema de imediato: para disputar, precisaria deixar o cargo em abril daquele ano, o que automaticamente colocaria o vice, Laurez Moreira (PSD), no poder.
Wanderlei não aceitava essa hipótese. A aversão ao vice era tamanha que ele preferia abrir mão da candidatura ao Senado e permanecer no Palácio até o último dia, a fim de impedir Laurez de assumir o comando. O discurso era esse: terminar o mandato, indicar um sucessor (Amélio Cayres) e, depois, pensar no futuro.
Com a decisão do STJ, Wanderlei foi afastado por 180 dias e Laurez assumiu. O pior cenário para o governador se materializou sem que ele tivesse escolha: o vice está no cargo, a máquina está nas mãos dele, e a candidatura de Amélio Cayres perde força de forma instantânea, passando as expectativas para os grupos que irão se formar em torno da senadora Dorinha Seabra (UB) e do próprio governador em exercício, os dois são pré-candidatos ao governo em 2026.
Além de responder às denúncias da Fames-19, Wanderlei precisa recalcular a rota. Afastado, perde poder de barganha, enfraquece sua base e fica sem instrumento para projetar a sucessão.
A situação coloca Wanderlei diante de um dilema que ele sempre evitou: renunciar e se lançar ao Senado, deixando espaço para Karynne Sotero tentar vaga na Câmara. Mas, sem a força do cargo e com a imagem arranhada pela operação, o lastro popular pode não se segurar para esse projeto.
O que era uma escolha estratégica virou imposição política. Wanderlei, que se agarrava ao governo para não ver Laurez no comando, agora vê o vice sentado na cadeira e com a caneta na mão.