A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relatou em depoimento que sofreu importunação sexual por meses por parte de Silvio Almeida, então ministro dos Direitos Humanos. Segundo seu relato, as investidas começaram após a posse de ambos, em 2023. O caso, que já era de conhecimento de membros do governo, só veio à tona após a situação fugir do controle.

Conforme o depoimento de Anielle, as interações inicialmente amistosas entre os dois se transformaram em comportamentos inadequados por parte de Almeida. O ministro teria feito elogios impróprios, proferido comentários de conotação sexual e, em um episódio mais grave, chegou a tocar as partes íntimas da ministra durante uma reunião. A situação foi considerada insustentável, e Anielle buscou resolver o problema de maneira discreta, temendo que a exposição do caso pudesse prejudicar sua carreira, e a de Almeida.

Durante o depoimento, Anielle relatou detalhes sobre a perseguição que sofria há meses, mencionando episódios em que Almeida a tocou de maneira inapropriada e descrevendo situações em que ele sussurrou fantasias sexuais. Apesar do constrangimento e do assédio recorrente, Anielle não formalizou a denúncia antes por temer ser desacreditada, uma realidade comum para vítimas de assédio sexual.

Silvio Almeida, por sua vez, atribuiu as denúncias a uma disputa de protagonismo entre ele e Anielle em relação à pauta de combate ao racismo, mas negou qualquer tipo de assédio. Em sua defesa, ele apresentou trocas de mensagens com a ministra que, segundo ele, mostravam uma relação de confiança e respeito. Algumas das mensagens incluíam elogios e juras de parceria entre os dois.

A situação se agravou após rumores sobre o assédio circularem em gabinetes de Brasília, inclusive entre assessores do presidente Lula. A primeira-dama, Janja da Silva, amiga de Anielle, também tomou conhecimento dos detalhes, mas, à época, a ministra não estava disposta a formalizar a denúncia. No entanto, as tensões entre os dois ministros aumentaram, a ponto de ambos nem se cumprimentarem mais em eventos oficiais.

No último dia 6 de setembro, Silvio Almeida foi demitido, após o site Metrópoles divulgar que a ONG Me Too Brasil havia recebido denúncias de assédio contra ele, e que Anielle era uma das vítimas. Almeida negou as acusações, afirmando ser alvo de uma perseguição política e apresentou mensagens trocadas com a ministra como supostas provas de que mantinha apenas uma relação cordial com ela. O ministro ainda mencionou um jantar entre eles como evidência de sua inocência, mas, conforme o depoimento de Anielle, o encontro foi uma tentativa de resolver o problema discretamente.

A publicação das denúncias e a pressão que se seguiu levaram à demissão de Silvio Almeida. Embora tenha negado as acusações e se mostrado disposto a apresentar provas, o governo decidiu que era necessário afastá-lo. Almeida chegou a considerar renunciar, mas, antes de fazê-lo, divulgou uma nota classificando as acusações como “ilações absurdas” e anunciou que pediria uma investigação rigorosa. Apesar disso, o presidente Lula já havia decidido pela demissão. A nova ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, assumirá o cargo em breve, encerrando o caso no Palácio do Planalto.