A rápida saída de Eduardo Siqueira Campos (Podemos) da Prefeitura de Palmas, por decisão do STF, mudou mais do que a rotina administrativa. A ausência de 20 dias mexeu com o centro do poder na Capital. Novos nomes ganharam espaço, velhos aliados se estranharam e algumas relações políticas não devem mais voltar ao ponto em que estavam. A Câmara Municipal, por exemplo, que era um espaço de apoio quase unânime, pode voltar do recesso mais dividida, e mais propensa à crítica.

Durante a interinidade de Carlos Velozo, o vice-prefeito assumiu com plenos poderes e promoveu mudanças sem consultar Eduardo, segundo o próprio prefeito declarou recentemente. Não chegou a ameaçar a estabilidade institucional, que levasse a um impeachment, mas movimentou cargos e acenos que foram lidos, no núcleo de Eduardo, como ensaios de rompimento. A avaliação do grupo do prefeito é que houve mais do que substituições administrativas: houve aproximações políticas incômodas, especialmente com nomes projetados por Eduardo Siqueira.

Um dos exemplos é o vereador Carlos Amastha (PSB). A indicação para que ele assumisse a Secretaria da Zeladoria já vinha do próprio Eduardo antes do afastamento. O problema não está na nomeação em si, mas na relação que Amastha teria passado a cultivar com o interino durante a ausência de Eduardo. A leitura do entorno do prefeito é que ele teria se aproximado demais do vice-prefeito, a ponto de gerar desconfiança. Amastha nega, mas é cotado para deixar a base siquerista.

Se Amastha for para a oposição, ele pode ter companhia de Débora Guedes (Podemos). Apesar de fazer parte do mesmo partido que o prefeito, Débora é ligada à Assembleia de Deus, Nação Madureira, que no Tocantins é comandada pelo pastor Amarildo, tio de Carlos Velozo e considerado seu principal mentor. Partiria do pastor as mudanças feitas na interinidade de Velozo no Paço Municipal.

Desde o início da gestão de Eduardo, Débora ocupava a Secretaria de Educação, vaga que seria parte do acordo político entre os grupos, sendo ela indicação do grupo religioso. Eduardo a exonerou assim que reassumiu e deixou o recado que o grupo da igreja não teria mais espaço, pelo menos nesse primeiro momento. Débora publicou um texto de agradecimento à gestão, mostrou fotos e vídeos de como vestiu a camisa para ajudar a eleger o prefeito, sem ressentimento, mas que passou em branco entre os perfis ligados ao prefeito. Foi vista como “despedida protocolar”.

A lista de dissidentes pode crescer. Vereadores que teriam algum alinhamento a Velozo durante a interinidade ainda estão sob avaliação. Mesmo sem cair em impeachment, a mudança de cargos e lealdades perturbou o equilíbrio que Eduardo mantinha na Câmara, antes incontestável.

Apesar disso, Eduardo voltou mais forte. Enfrentou prisão, um infarto e voltou com aprovação popular. A população via seu afastamento como uma afronta ao voto. Aliados dizem que ele precisa aproveitar esse momento de força, antes que outros eventos embaralhem as cartas.

Quando a Câmara retomar o trabalho, a base de Eduardo vai revelar sua real dimensão. Ceder demais pode sinalizar fraqueza, romper demais pode atrapalhar a aprovação de projetos vitais. O terreno legislativo que antes era firme pode virar um labirinto tenso, e isso é algo que o prefeito precisará gerenciar com frieza.