Cortes, pressão e memes: as exonerações que incendiaram o clima político no Tocantins
05 novembro 2025 às 15h29

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A tesoura passou pesado na Educação, mas o estrago político foi bem além das salas de aula. A decisão do governo interino de Laurez Moreira de extinguir mais de 1.100 contratos temporários e 14 cargos comissionados da Secretaria da Educação virou o assunto dominante nos bastidores da Assembleia Legislativa nesta quarta-feira, 5, e não apenas pelo impacto administrativo.
O motivo: o secretário da Administração, Marcos Duarte, virou o personagem mais comentado da manhã depois que uma conversa e uma figurinha vazados de um grupo de WhatsApp mostraram o auxiliar brincando com as demissões. Na imagem, ele aparece segurando uma foice, acompanhada de frases irônicas sobre mais cortes a caminho. A piada caiu como bomba no Palácio Araguaia, irritou o próprio entorno do governador interino e deu munição de sobra à militância de Wanderlei Barbosa, afastado do cargo há dois meses.
“Parece que o governo perdeu o senso do momento. Fazer graça enquanto mais de mil pessoas perdem o emprego é, no mínimo, falta de noção”, comentou um parlamentar, em reserva. Outro, mais direto, resumiu o clima: “Virou combustível para Wanderlei.”
Reação em cadeia
Na Aleto, o vazamento foi reproduzido de celular em celular. Deputados riram, não da piada, mas da imprudência do secretário.
O mal-estar veio num momento especialmente sensível: o processo de impeachment contra Wanderlei Barbosa continua travado, mas o clima na Casa é de tensão crescente. O presidente Amélio Cayres (Republicanos) já teria sinalizado que não pautará o tema enquanto o placar estiver apertado, mas se os votos a favor da abertura chegarem a 16, não haverá mais como segurar.
Nos corredores dos poderes, comenta-se que Laurez tenta construir maioria enquanto Wanderlei se reaproxima de velhos aliados para brecar o avanço do processo. As exonerações em massa, por coincidência ou não, foram lidas por parte dos parlamentares como um movimento político com mira dupla: aliviar as contas públicas e testar a fidelidade da base.
Palácio em alerta
No Palácio Araguaia, o episódio pegou mal. Fontes do governo afirmam que o entorno de Laurez não teria gostado da “brincadeira” do secretário e que o caso gerou desconforto em meio ao esforço para mostrar seriedade nas medidas de ajuste fiscal. A Seduc, por sua vez, divulgou nota tentando conter o desgaste: disse que os servidores desligados eram excedentes não modulados e que a economia mensal com os cortes deve chegar a R$ 2,7 milhões.
Mas, na prática, o estrago político já estava feito. A oposição e a militância que ainda cerca Wanderlei aproveitaram o episódio para reforçar o discurso de insensibilidade da gestão interina e se reposicionar no debate público, transformando uma medida administrativa em símbolo de arrogância e falta de empatia.
Entre o ajuste e a articulação
No papel, o governo fala em reorganização administrativa e otimização de recursos. Internamente, o que se vê é um jogo de sobrevivência política. Com as contas no vermelho e o impeachment à espreita, Laurez tenta equilibrar a imagem de gestor técnico com a necessidade de formar maioria parlamentar.
O problema é que, com um meme mal calculado, o discurso do ajuste virou motivo de escárnio, e a “foice” de Marcos Duarte acabou cortando também um pedaço do capital político que o governo interino tentava preservar.
