De palanque com Laurez a aliado de Wanderlei: Eduardo Fortes ganha status de leal; Jorge Frederico, de traidor por fazer caminho inverso
10 novembro 2025 às 19h15

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Um ano separa as imagens de Eduardo Fortes (PSD) no palanque ao lado de Laurez Moreira (PDT) em Gurupi e o atual rótulo de “homem de confiança” do governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos). O contraste ajuda a entender como, no jogo político tocantinense, lealdade e traição são conceitos moldados pelas circunstâncias.
Em 2024, Fortes disputou a Prefeitura de Gurupi com apoio direto de Laurez, então presidente do PDT no estado. O filho do vice-governador, Juarez Moreira, foi seu candidato a vice. Naquele momento, Fortes integrava o círculo político mais próximo de Laurez, que já mantinha uma relação desgastada com Wanderlei.
A aproximação entre Fortes e o Palácio Araguaia começou após as eleições. O relacionamento com Kátia Chaves, então secretária da Governadoria na gestão de Wanderlei, abriu caminho para um novo alinhamento. Kátia é amiga da primeira-dama, Karynne Sotero, e o casal passou a frequentar o núcleo íntimo do governador. O compadrio selou a aliança: Wanderlei e Karynne se tornaram padrinhos do filho de Fortes e Kátia.
Enquanto Laurez articulava sua pré-candidatura ao governo em 2026, Fortes consolidava espaço na base política de Wanderlei. Fortes sabia que com a derrota para prefeito, nas eleições de 2026 dificilmente teria o apoio direto de Laurez para deputado estadual, já que por questões familiares, o vice-governador iria, certamente, apoior seu sobrinho, Gutierres Torquato (PDT). Com o rompimento definitivo entre o governador e o vice, o deputado passou a ser tratado como traidor pelo grupo de Laurez, já que teria decidido ficar ao lado de Wanderlei.
Quando o Superior Tribunal de Justiça afastou Wanderlei em setembro e Laurez assumiu o comando do estado, chegou a circular a hipótese de um realinhamento entre os dois. Uma base ampliada na Assembleia poderia facilitar o impeachment do governador afastado e garantir a permanência de Laurez até o fim de 2026, com a máquina nas mãos para disputar a reeleição. O reencontro, no entanto, não ocorreu. Fortes não apenas se recusou a apoiar o impeachment, como também tentou retardar a tramitação de um projeto de interesse do governo interino, um pedido de vistas sobre o empréstimo que Laurez buscava aprovar. O deputado também se ausentou do plenário durante a votação.
As críticas se intensificaram. O parlamentar que um ano antes estava no palanque de Laurez virou alvo do mesmo grupo que o impulsionou em Gurupi. Para aliados do governador interino, Fortes é um traidor; para os apoiadores de Wanderlei, um símbolo de lealdade. O mesmo gesto, trocar de lado, recebe interpretações opostas. A diferença está no interesse de cada grupo.
Jorge Frederico
A trajetória de Jorge Frederico (Republicanos) reforça o contraste. Assim como Fortes, o deputado pode estar prestes a subir nos dois palanques. Em 2024, ele recebeu o apoio direto de Wanderlei na disputa pela Prefeitura de Araguaína, mas acabou derrotado por Wagner Rodrigues (UB). Agora, cotado para assumir a liderança do governo interino na Assembleia, Jorge é visto pelos aliados de Wanderlei como um desertor.
Fortes, que também mudou de campo, é tratado como o inverso: o político que resistiu às pressões pelo impeachment e manteve fidelidade ao governador afastado. Na prática, os dois agiram de forma semelhante nas escolhas políticas, guardada a questão familiar que agora envolve Wanderlei e Fortes. O julgamento, contudo, segue critérios de conveniência, uma regra recorrente na política tocantinense.
