Deputados avaliam que vazamento da operação ficou restrito ao núcleo familiar de Wanderlei; base política teria sido deixada de lado
12 novembro 2025 às 18h22

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A nova decisão do ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que resultou na deflagração da Operação Nêmesis nesta quarta-feira, 12, para apurar possível embaraço às investigações da Fames-19, reforça a percepção de deputados ouvidos pelo Jornal Opção Tocantins de que apenas o núcleo familiar do governador afastado Wanderlei Barbosa tinha conhecimento prévio da ação policial de 3 de setembro de 2025, enquanto seu núcleo político na Assembleia Legislativa (Aleto) teria sido surpreendido.
A avaliação se baseia no conteúdo da decisão de Campbell, que descreve que o ex-secretário de Parcerias e Investimentos, Thomas Jefferson, visitou Wanderlei na véspera da operação, às 23h07, sem realizar ligações ou enviar mensagens, comportamento interpretado pela Polícia Federal como estratégia para evitar rastros digitais.
A partir desse encontro, segundo a PF, o governador e seus familiares, entre eles o deputado Léo Barbosa (Republicanos), teriam tomado providências para esconder documentos e valores. Já na visão de alguns parlamentares, os demais aliados, inclusive nomes da base até aquele momento, foram pegos de surpresa pela ação da PF, sem tempo para apagar registros ou se desfazer de possíveis provas.
“Se o vazamento aconteceu de fato, quem sabia se movimentou. Já quem confiou, ficou pra trás. Os nomes citados na imprensa que teriam tido acesso previamente são do núcleo familiar, o que no fundo foi até melhor para alguns colegas ou teriam mais desgaste com essa nova operação”, resumiu um deputado ouvido em caráter reservado.
O relatório da segunda fase operação Fames-19 mostra que, entre os alvos, Léo Barbosa teve uma abordagem sem intercorrências. Ele estava sozinho em casa, entregou apenas o celular, mas não informou a senha de desbloqueio. Os policiais não encontraram outros materiais naquele dia na casa do filho do governdor. Enquanto isso, outros deputados, que eram da base até aquele dia, viveram manhãs turbulentas naquela data.
Amélio Cayres
Na casa do presidente da Aleto, Amélio Cayres, aliado histórico de Wanderlei, a PF apreendeu R$ 25 mil em espécie dentro de uma sacola com o nome da Assembleia, além de encontrar um veículo oficial do Legislativo sob uso do filho do parlamentar, Raul Cayres, que não é servidor público. Raul afirmou que o dinheiro era dele, mas não apresentou comprovação da origem.
Além do dinheiro e do carro oficial já mencionados, o relatório da PF apontou suspeita de ocultação patrimonial e lavagem de dinheiro envolvendo o deputado Amélio Cayres. Entre os documentos apreendidos estão contratos imobiliários, escrituras, guias de ITBI, carnês de IPTU e declarações de ITR em nome de familiares e terceiros, mas custeados diretamente por ele.
Segundo os investigadores, o material revelava um padrão de pulverização da titularidade de bens, em que Cayres registrava imóveis e movimentava recursos por meio de interpostas pessoas, mantendo-se responsável pelos tributos e despesas.
Jorge Frederíco
No caso do deputado Jorge Frederico, que estava em Araguaína no dia da operação, a PF relatou que as diligências transcorreram sem intercorrências. O parlamentar, segundo o relatório, foi colaborativo e não apresentou resistência ao cumprimento do mandado. Os agentes apreenderam um celular, R$ 36 mil em espécie, € 1.855 e dois veículos avaliados em mais de R$ 100 mil cada, além de duas agendas com anotações consideradas de interesse investigativo.
Valderez Castelo Branco e Lázaro Botelho
Na residência do casal Valderez Castelo Branco e Lázaro Botelho, em Araguaína, os policiais encontraram resistência inicial para acesso ao imóvel. Após forçar a entrada, os agentes localizaram duas armas registradas em nome de Lázaro, uma espingarda calibre 16 e um revólver calibre .38 —, além de um cofre trancado no quarto do casal.
Com o auxílio de um chaveiro, o cofre foi aberto, e dentro dele a PF encontrou R$ 698.050 em espécie, guardados junto com perfumes e suplementos alimentares. Desse total, R$ 697.350 foram depositados judicialmente, e R$ 700 encaminhados à perícia papiloscópica.
Além disso, três veículos de luxo, uma Honda XRX Hybrid, uma Toyota Hilux e uma Fiat Titano Ranch, todos em nome de Lázaro, foram apreendidos naquele dia.
Olyntho Neto e Valdemar
Na residência de Olyntho Neto, também da base, a PF encontrou R$ 64.450 em espécie, além de US$ 1.000, 4.970 euros, joias, relógios de luxo e uma arma de fogo. Já na casa de Valdemar Júnior, foram apreendidos R$ 4.105 dentro de uma Hilux da Assembleia, mais R$ 570 em espécie, relógios de grife e uma antena Starlink.
“Há muitos exemplos do que foi apreendido naquela data que demonstram que os colegas não tinham ideia da operação ou pagaram para ver. Talvez a operação de hoje tenha mostrado o que eles não esperavam”, comentou outro deputado.
Cláudia Lelis
No dia da operação de setembro, as buscas nos endereços da deputada Cláudia Lelis (PV) ocorreram sem intercorrências, resultando apenas na apreensão de dois celulares e documentos considerados de interesse da investigação.
Segundo o relatório, Cláudia e seu marido, Marcello Lelis, foram intimados para depor na sede da PF em Palmas às 9 horas do mesmo dia, mas não compareceram.
Assim como Léo Barbosa, Cláudia foi alvo novamente nesta quarta-feira, na Operação Nêmesis, que apura obstrução das investigações.
Contudo, não há qualquer indicação de que ela tenha sido avisada da operação pelo ex-secretário, como no caso de Léo. A deputada, segundo a PF, entrou no rol de investigados desta nova fase porque foi flagrada por câmeras de segurança na casa da sogra de Wanderlei Barbosa, na Quadra 603 Sul, em Palmas, o mesmo endereço apontado pelos investigadores como ponto de partida para eliminação de provas.
A presença de Cláudia no local foi confirmada por laudo facial pericial, incluído na nova decisão de Campbell, que traz inclusive fotos da parlamentar na cena.
Defesas
Por meio de notas divulgas na imprensa nesta quarta-feira, 12, o governador Wanderlei Barbosa e os deputados Léo Barbosa e Cláudia Lelis se manifestaram. Confira.
Nota de Wanderlei Barbosa
O Governador Wanderlei Barbosa recebeu com estranheza mais uma operação da Polícia Federal ao mesmo tempo que aumenta a expectativa pelo julgamento do Habeas Corpus que pode devolvê-lo ao cargo.
Ao mesmo tempo reitera a sua disponibilidade para colaborar com as investigações e mantém a sua confiança na justiça e nas instituições.
Nota Léo Barbosa
O deputado estadual Léo Barbosa informa que colabora com as investigações em curso e que jamais concorreu ou colaborou para atrapalhar quaisquer investigações. Reitera sua total confiança na Justiça e provará sua inocência de todas as acusações no transcorrer do inquérito.
Nota Cláudia Lelis
A deputada estadual Cláudia Lelis (PV) foi surpreendida, nesta quarta-feira (12), com o cumprimento de mandado de busca e apreensão expedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e executado pela Polícia Federal (PF).
A parlamentar afirma estar tranquila e confiante em relação às investigações, uma vez que não praticou qualquer conduta ilícita.
Cláudia Lelis destacou, contudo, ter se surpreendido com a operação, especialmente considerando que o fundamento apontado para a medida teria sido uma visita de solidariedade ao governador Wanderlei Barbosa e à primeira-dama Karynne Sotero, sua amiga pessoal, em razão da operação realizada em 03/09/2025 (Operação Fames-19, 2ª fase).
A deputada reitera seu respeito às instituições, em especial ao Poder Judiciário e à Polícia Federal, e aguarda com serenidade a oportunidade de prestar todos os esclarecimentos necessários, confiante de que a verdade será plenamente esclarecida.
