Entre Laurez, à esquerda, e Dorinha, à direita: a construção das candidaturas ao governo do Tocantins em 2026

15 setembro 2025 às 19h59

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A eleição presidencial de 2014 marcou o início de uma polarização política que se aprofundou no Brasil. Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) por margem estreita no segundo turno nacional, mas no Tocantins a petista teve desempenho mais expressivo, alcançando 59,48% dos votos. Esse cenário se repetiu em 2018, quando Jair Bolsonaro (PSL) superou Fernando Haddad (PT) em nível nacional, mas o petista venceu no estado com 51,02%. Em 2022, Lula voltou à disputa e manteve a hegemonia do PT no Tocantins, superando Bolsonaro por 51,36% a 48,64%. Em um recorte recente, por três pleitos seguidos, o estado mostrou fidelidade às candidaturas presidenciais do PT, mesmo em contextos de derrotas nacionais.
Esse padrão, no entanto, não se refletiu nas eleições estaduais. Em 2022, por exemplo, o candidato petista Paulo Mourão terminou em terceiro lugar na disputa para o governo, com pouco mais de 10% dos votos, muito atrás de Wanderlei Barbosa (Republicanos), que foi reeleito com 58,14%. A discrepância entre o voto presidencial e o voto local mostra que o eleitorado tocantinense separa a política nacional da estadual, apoiando Lula e companhia nas urnas, mas não transferindo esse capital político para os candidatos do PT no estado. O partido, inclusive, não conseguiu eleger deputados federais, estaduais ou senadores na última eleição.
O cenário que se desenha para 2026 tende a colocar em polos opostos Dorinha Seabra (União Brasil) e Laurez Moreira (PSD). Dorinha, que consolidou espaço político em Brasília e chegou a ser considerada aliada de Wanderlei Barbosa, migrou de fato para a oposição, quase que sem querer, após o afastamento do governador pelo STJ e a ascensão de Laurez ao comando do Palácio Araguaia. Com o União Brasil já distante da base de Lula e o apoio de lideranças como o senador Eduardo Gomes (PL), ligado a Bolsonaro, Dorinha reúne pré-requisitos para encampar a candidatura da direita ao governo estadual.
Já Laurez Moreira, que formaliza filiação ao PSD em outubro, partido que transita entre os dois campos políticos, tende a contar com o apoio de Lula e do PT. O governador interino é apadrinhado pelo senador Irajá Abreu (PSD), filho da ex-senadora Kátia Abreu, nome histórico do campo lulista. Embora demonstre apreço por figuras da direita nacional, como Ratinho Júnior e Tarcísio de Freitas, Laurez não parece disposto a caminhar sem o peso político dos Abreu, aos quais está atrelado. A agenda de um encontro em breve com o presidente Lula pode indicar algum reposicionamento, mas sua trajetória mostra que dificilmente romperá essa vinculação.
O quadro tocantinense, portanto, é peculiar. Enquanto o PT mantém hegemonia nas eleições presidenciais no estado, seu desempenho em disputas locais é frágil. Isso coloca em evidência a força de lideranças regionais, mais do que o peso das legendas, em um eleitorado que distingue com clareza a política nacional da doméstica. Até aqui, Dorinha Seabra e Laurez Moreira despontam como os dois principais nomes para a disputa ao Palácio Araguaia em 2026, mas o cenário ainda depende da indefinição em torno de Wanderlei Barbosa, que tenta reverter seu afastamento no STF. Caso consiga retornar ao cargo, pode reconfigurar alianças e embaralhar a polarização em construção, ainda que, no momento, Dorinha e Laurez apareçam como protagonistas da corrida estadual.