A segunda fase da Operação Fames-19, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3), resultou no afastamento por seis meses do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama, Karynne Sotero. A decisão foi assinada pelo ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A investigação apura desvio de recursos destinados à compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19, com suspeita de prejuízo superior a R$ 73 milhões aos cofres públicos.

Dentro do material levantado pela PF, aparece o nome de Paulo César Lustosa Limeira, ex-marido da primeira-dama. Entre fevereiro de 2021 e janeiro de 2022, ele foi responsável por 167 saques em espécie, totalizando R$ 665.015,63. Segundo os investigadores, os valores abasteciam a organização capitaneada por Wanderlei Barbosa. A polícia aponta que parte do dinheiro desviado teria sido usada em empreendimentos de luxo, compra de gado e despesas pessoais.

Operador do esquema

De acordo com o relatório da Polícia Federal, as mensagens extraídas do celular do ex-marido da primeira dama, e documentos apreendidos, mostram que ele atuava como intermediário na negociação de propinas e direcionamento de contratos de cestas básicas, com acesso privilegiado ao alto escalão do governo.

As investigações apontam que ele recebeu mais de R$ 1,3 milhão de empresas fornecedoras ligadas ao grupo, como L Maia, Mari MC Comércio de Alimentos e Meta Service, além de valores repassados por Marcus Vinícius Santana, filho de Taciano Darcles, assessor especial e homem de confiança de Wanderlei.

Diálogos revelam ainda que Paulo César se vangloriava de operar os bastidores desde a transição entre Mauro Carlesse e Wanderlei Barbosa, negociando resultados de licitações e garantindo vitórias para empresas previamente escolhidas. Em uma conversa, ao comentar a prorrogação do estado de calamidade pública durante a pandemia, ele ironiza: “Caba tá guloso”, em referência direta ao governador.

Esquema sistemático

Segundo a PF, a engrenagem envolvia fraudes em certames públicos, empresas em nome de laranjas e saques em espécie para ocultar a destinação final dos recursos. Paulo César aparecia como sócio informal de empresários beneficiados, participava de reuniões em galpões de fornecedores e também atuava em parcerias com o próprio irmão, Wilton Rosa Pires, além de manter proximidade com a primeira-dama Karynne Sotero.

Relatórios do COAF indicam que só a MC Comércio de Alimentos repassou R$ 521 mil em 58 lançamentos para Paulo César. Parte do dinheiro, segundo a apuração, era lavada via contratos de fachada com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (Idegesesc), que também teria servido como canal de fornecimento de cestas.

A PF conclui que havia um esquema sistemático e bem organizado de corrupção, em que propinas eram tratadas de forma rotineira e em espécie, com indícios de participação direta do governador Wanderlei Barbosa.

O que diz o governador:

Recebo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte. É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa.

Reforço que, por minha determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) instauraram auditoria sobre os contratos mencionados e encaminharam integralmente as informações às autoridades competentes.

Além dessa providência já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de Governador do Tocantins, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população.

O que diz a primeira-dama:

Reitero meu respeito à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e às instituições, ressaltando que irei dedicar-me plenamente à minha defesa, convicta de que conseguirei comprovar minha total ausência de participação nos fatos que estão sendo apontados.

Desejo que tudo seja esclarecido e reestabelecido com brevidade e justiça, pelo bem do povo tocantinense, a quem dedico meu trabalho e compromisso.

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