Ex-vice-governador do Tocantins que acredita que Bolsonaro venceu as eleições em 2022 assume presidência da AEM

27 setembro 2025 às 08h05

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Nomeado pelo governador interino Laurez Moreira (PSD) para presidir a Agência de Metrologia, Avaliação da Conformidade, Inovação e Tecnologia do Tocantins (AEM), o ex-vice-governador Paulo Sidnei carrega no currículo mais de quatro décadas de atuação no serviço público. Ao mesmo tempo, carrega também polêmicas recentes, como discursos questionando a lisura das urnas eletrônicas.
O anúncio da nomeação saiu no Diário Oficial nº 6907, desta sexta-feira, 26, e foi acompanhado de declarações oficiais que exaltam a experiência do novo gestor. O governo interino apresentou Sidnei como “um profissional com amplo conhecimento legislativo e executivo, preparado para reforçar a confiança da sociedade tocantinense nos produtos da indústria e comércio”.
A AEM é o braço estadual delegado do Inmetro, responsável por assegurar que pesos, medidas e certificações atendam aos padrões nacionais. Sua missão institucional é promover a competitividade legal das empresas, garantir confiança da sociedade nas medições e elevar a qualidade dos produtos.
Trajetória política
Natural de Inhumas (GO), arquiteto de formação, Paulo Sidnei construiu uma carreira marcada por passagens em cargos municipais, estaduais e federais. Foi interventor em Araguaína antes da criação do Tocantins, deputado federal constituinte em 1988, vice-governador em duas ocasiões, prefeito de Araguaína e deputado estadual. Também acumulou pastas estratégicas como Planejamento, Governo e Articulação Política. No início de 2024, ele entrou para o PDT, em um evento que contou com a presença do então vice-governador Laurez.
Polêmicas
Apesar do histórico, Sidnei voltou à cena bem antes de se filiar ao ex-partido do governador interino. Em 2022, em um ato realizado em frente ao Quartel da Polícia Militar, em Araguaína (2º BPM), por um grupo pedia intervenção militar no país, o político deu declarações que colocaram em xeque sua imagem pública. Na ocasião, ele afirmou que as urnas eletrônicas teriam sido fraudadas para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro, chegando a dizer que o ex-presidente teria vencido “com 65% dos votos”. A fala foi registrada em vídeo e repercutiu localmente como exemplo de adesão ao discurso golpista.
“Estão aqui desde o primeiro turno e pouca gente sabia disso. Fizeram uma auditagem nos dois turnos das eleições. Os dois turnos foram surrupiados. Vou dar uma informação pra vocês que me passaram e espero que se confirme mais tarde, hoje. O Bolsonaro ganhou as eleições no 2º turno com 65% dos votos. O relatório dessas empresas foi entregue para o Exército e eles fizeram quatro relatórios constatando tudo no 1º e 2º turnos. Todos dois foram fraudados”, teria dito Paulo Sindei, arrancando aplausos e sendo ovacionado pela plateia.
A contradição chama atenção: quem agora tem a tarefa institucional de reforçar a confiança em certificações e padrões técnicos já manifestou publicamente desconfiança em um dos pilares da democracia brasileira, o sistema eleitoral.
Desafio de imagem
Do ponto de vista técnico, a AEM segue normas rígidas do Inmetro, o que limita a margem para decisões pessoais. Mas no campo político e institucional, a nomeação pode gerar ruídos. A credibilidade da Agência depende justamente da percepção pública de imparcialidade, rigor técnico e confiança.
Para aliados de Laurez, a escolha reforça vínculos políticos em Araguaína, cidade estratégica na disputa municipal de 2026. Já para críticos, a indicação de um nome associado a discursos conspiratórios expõe a gestão interina ao risco de desgaste, especialmente em um órgão cuja essência é transmitir segurança e confiabilidade.