Fusão travada entre PSDB e Podemos já naufragava no Tocantins

12 junho 2025 às 09h12

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A anunciada fusão entre PSDB e Podemos ainda está longe de virar realidade. Internamente, o movimento enfrenta resistência nos estados, ruído de comunicação e uma condução que não caiu bem entre dirigentes da legenda comandada por Renata Abreu, que já teria travado o processo nos bastidores após perceber que a movimentação tucana não passava de uma operação para engolir o partido.
O estopim foi a convenção nacional do PSDB, no início deste mês, que aprovou a possibilidade de incorporação do Podemos sem qualquer representante da outra sigla presente. A ausência não foi casual. Integrantes do Podemos, inclusive da executiva nacional, relatam que não houve convite oficial, e a leitura foi de desrespeito.
“Eles esqueceram de convidar” disse com ironia, e em reservado, um cacique do partido que conhece as conversas por dentro.
Nos bastidores, a avaliação é de que o Podemos, hoje, tem mais musculatura política que o PSDB em número de cadeiras e presença em capitais, e que não faz sentido falar em “incorporação”, como se fosse um reboque. A posição interna é clara: o Podemos não abre mão do nome, nem do número. Ou seja, qualquer união que passe por apagar a sigla está fora de cogitação.
No Tocantins, o mal-estar é ainda maior. A fusão colocaria no mesmo palanque dois nomes que andam distantes: Eduardo Siqueira Campos (Podemos), atual prefeito de Palmas, e Cinthia Ribeiro (PSDB), ex-prefeita da Capital. A relação entre os dois é fria, especialmente após a gestão de Eduardo tornar públicas dívidas herdadas da administração anterior, números que desgastam a imagem de Cinthia e aumentam a distância harmônica entre os dois partidos no Tocantins, em um exemplo do que parece ser comum em outros estados.
Embora tenham dividido palanque no segundo turno de 2024, quando Cinthia declarou apoio a Eduardo, os tucanos alegam que não pediram espaço na gestão de Siqueira. Ainda assim, o PSDB tocantinense trata o gesto como uma espécie de crédito político, que o Podemos “ainda não pagou”. Em uma eventual fusão, já que o Podemos não leva incorporação à sério, o partido de Eduardo Siqueira, como revelado por integrantes da sigla, também não abririam mão da presidência do novo partido no estado, já que além do prefeito da principal cidade do Tocantins, contará também com um deputado federal, o que o PSDB não tem, no momento.
Na antevéspera da convenção nacional do PSDB, a ex-prefeita Cinthia Ribeiro reuniu as principais lideranças tucanas do Tocantins em Palmas. O objetivo: explicar os termos da possível fusão, discutir nome, número e, de quebra, se recolocar no cenário para 2026, embora ainda sem dizer para qual cargo. A leitura interna é que a fusão daria mais musculatura à ex-prefeita, que considera a Capital um ponto de passagem obrigatório para qualquer projeto majoritário no estado. Mas para isso, Eduardo Siqueira também teria que comprar a ideia, o que nunca aconteceu. O Podemos não abriria mão do protagonismo, e a relação entre os dois, embora já tenha rendido palanque, hoje é de distanciamento. A não-fusão apenas mostra o que nos bastidores já era tratado como certo: cada um no seu quadrado, pelo menos até o ano eleitoral bater à porta.
A condução da cúpula tucana nacional também é alvo de críticas internas. A ideia de “incorporar” o Podemos teria sido tomada sem diálogo, reforçando a imagem de um PSDB com nomes de peso e pouca votação, e que hoje tenta se manter relevante via acordos assimétricos. O recado que circula dentro do Podemos é direto: quem tem voto não aceita ser tratado como sigla menor.