A cena pode parecer ordinária: um prefeito afastado por decisão judicial, um vice discreto assume, trocas administrativas seguem o curso. Mas o que ocorre na Prefeitura de Palmas, desde a saída de Eduardo Siqueira Campos (Podemos), é mais do que uma simples reacomodação de aliados. Trata-se da montagem de um novo eixo de influência silencioso, técnico e com projeção para além da Capital. E nesse rearranjo, há engrenagens finas operando com precisão. Uma delas atende pelo nome de Dalide Barbosa Alves Corrêa.

Discreta, com um currículo que dispensa holofotes, Dalide não precisa de cargo para orbitar o poder. Advogada com pós-graduações em Direito Constitucional, Tributário e Processual Civil, também cursou Teologia no Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Pindamonhangaba (SP). Foi diretora jurídica da Caixa, procuradora da ANAC, assessora de ministros do STF e diretora do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Ao longo de décadas, construiu uma rede que liga o Palácio do Planalto às fazendas de gado no Tocantins. É justamente nesse ponto de interseção entre Brasília, fé e agronegócio que sua influência se torna visível.

Tanto Dalide quanto o Grupo Monte Sião mantêm conexões com o pastor Amarildo Martins, que é presidente da CONEMAD-TO/MA, lidera mais de 10 mil pastores e é pai do deputado federal Filipe Martins (PL). A afinidade entre esses grupos ajuda a decifrar o avanço recente sobre a gestão interina de Carlos Velozo (Agir).

A nomeação de Priscila Alencar Veríssimo, sobrinha e sócia de Dalide, para a Procuradoria-Geral do Município, somada à entrada de Jandir Vasconcelos na Habitação (ligado a Filipe Martins), e à escolha de Fábio Bernardino para a Secretaria de Representação em Brasília (vice-presidente nacional do Agir), conferem à gestão uma cara de projeto político em construção, não apenas de transição.

A teia entre Velozo, Dalide e Amarildo é composta por vínculos institucionais, jurídicos e patrimoniais. Se Amarildo sustenta a base evangélica, Dalide aporta densidade técnica e articulação com núcleos de poder. No STF, chefiou a Assessoria de Relações Parlamentares sob Gilmar Mendes. No Executivo, transitou com desenvoltura por ministérios, com interlocução direta com nomes como Dias Toffoli e Dilma Rousseff.

Mesmo aposentada do serviço público, não se afastou dos centros de decisão. Pelo contrário: ao lado do empresário Leandro Luiz, lidera o Grupo Monte Sião, holding com sede no Tocantins e prestígio consolidado no agro de elite. É também sócia-administradora do escritório Alves Corrêa & Veríssimo Advocacia, com sede em Brasília.

A estrutura do grupo impressiona. A Agropecuária Monte Sião, a Genética Monte Sião e o Monte Sião Haras concentram bovinos e equinos de alta linhagem. Mas o investimento do grupo vai além da técnica. Há uma construção simbólica e política em curso. Em 2023, durante a Expoagro de Porto Nacional, o grupo montou um estande exclusivo com shows privados de Gusttavo Lima, Fernando & Sorocaba e Edson & Hudson. O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), presente no evento, foi chamado ao palco para orações e discursos ao lado do CEO do grupo, Leandro Luiz. Deputados e secretários assistiram da plateia. Durante a feira agropecuária, quem também circulou pelas dependências do estande do grupo foi o deputado federal Filipe Martins.

Não se trata apenas de branding agro. As movimentações dos últimos anos têm cara de projeto político. Em 2022, Dalide já havia aparecido como primeira suplente ao Senado na chapa do ex-deputado João Campos por Goiás. Agora, pode estar diante de capital acumulado em três frentes: jurídico, econômico e político. São três referências que podem viabilizar uma candidatura, se vitoriosa ou não, apenas as urnas podem responder. Se a situação seguir favorável ao grupo, o nome da advogada pode figurar como possível aposta para uma das vagas ao Senado em 2026.

A gestão de Velozo, nesse cenário, funciona mais como vitrine do que como fim. Pelas falas e decisões que tem tomado, o prefeito interino demonstra segurança para fazer as mudanças que julga necessárias. Os movimentos não parecem aleatórios: ocupações técnicas com alinhamento político bem calculado. A base que se forma não visa apenas garantir uma sobrevida no Paço Municipal. Está ancorada em Brasília, sustentada por capital agro e afinada com interlocutores do alto escalão dos poderes.

Se há um novo centro de poder em formação, é hora de começar a nomeá-lo.