Valter Pomar no Tocantins: “O PT precisa reaprender a comunicar e a lutar”

12 maio 2025 às 10h14

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Candidato à presidência nacional do PT, o historiador Valter Pomar esteve no Tocantins na última semana em agenda política, onde declarou apoio à chapa “A Esperança é Vermelha”, liderada por Jozafá Ribeiro Maciel, na disputa pelo Diretório Estadual do partido. O Processo de Eleição Direta (PED) 2025 ocorrerá no dia 6 de julho, quando será realizada a votação que irá eleger representantes de diretorias municipais, estaduais e nacional.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Pomar defendeu mudanças profundas no Partido dos Trabalhadores e não economizou nas críticas à forma como o partido lida com a própria comunicação, tanto com a população quanto com os filiados. Segundo ele, o PT cometeu um erro estratégico quando, ainda nos anos 1990 e 2000, abriu mão de construir seus próprios canais permanentes de diálogo com as bases e passou a depender da mídia comercial.
“A comunicação do PT foi terceirizada. A gente aparece só de dois em dois anos, em época de campanha. Depois reclamam que o partido é visto como tradicional. Ué, claro! O povo não vê o PT como partido porque ele não aparece como tal”, disparou Pomar.
Para ele, o problema é agravado por um ambiente dominado por um oligopólio da mídia, que impede o fluxo plural de informação no país, cenário que, segundo Pomar, deveria estar sendo enfrentado diretamente pelo governo federal.
“A Constituição diz que não pode ter monopólio. E desde 2003, a nossa postura é de capitulação total. Basta ver o caso do ministro Juscelino. Mesmo que ele não fosse um picareta, o que já é demais esperar, ele não tem compromisso nenhum com democratização da comunicação”, criticou, sem rodeios.
Pomar defendeu que o PT retome uma comunicação direta, com produção de conteúdo independente e regular, citando inclusive propostas viáveis como jornais de distribuição semanal em terminais de ônibus, rádios, plataformas digitais e até mesmo uma redação profissionalizada. Ele relata, inclusive, ter pressionado internamente por mais qualidade e autonomia nas publicações da fundação.
“Fizeram uma revista chamada Focus. Aí publicam uma matéria sobre a guerra na Ucrânia que era basicamente um Ctrl C + Ctrl V da Reuters. Nós somos um partido político! Temos posição própria! Por que não pedem um texto ao nosso secretário internacional, à direção do Fórum de São Paulo, ou a mim mesmo? Mas não. A cabeça é outra. Não querem comunicar o que o PT pensa, querem só repetir os releases do governo”, refletiu.
Mobilização das bases
Valter Pomar usou o exemplo da mobilização em torno da escala 6×1, que ganhou força nas redes sociais e chegou às centrais sindicais, para ilustrar como o PT se afastou das pautas concretas da base trabalhadora. Para ele, o partido e a CUT demoraram a abraçar um debate que já era urgente para quem está no chão da fábrica, nos hospitais, no comércio. Só depois de dois anos de pressão nas redes e nos territórios, a demanda ganhou o palanque do 1º de Maio, com falas de Lula e da cúpula sindical.
Pomar defende que o PT precisa voltar a ter presença organizada nas lutas sociais, não apenas reagindo, mas compreendendo e liderando os enfrentamentos que emergem da vida real da classe trabalhadora.
Além da reorganização social, o candidato ao diretório nacional voltou a bater na tecla da identidade socialista do PT. Segundo ele, o partido precisa resgatar com clareza a proposta de transformação radical da sociedade, como resposta à crise civilizatória em curso, por exemplo, marcada por riscos de guerra, colapso climático, pandemia e avanço da automação.
Na visão do historiador, o socialismo é a única saída coerente para o caos gerado pelo capitalismo global, e abandonar essa perspectiva em nome de pragmatismos eleitorais ou institucionalistas é um erro fatal. O PT, diz ele, deve parar de tratar o socialismo como um enfeite de aniversário e voltar a colocá-lo no centro da política, como alternativa concreta de esperança e de sentido coletivo.
Segundo pré-candidato, essa omissão tem um custo político e formativo. “Se o partido é militante, ele precisa orientar sua militância. Isso vale para a comunicação, para a formação política e até para as finanças”, alertou.
Receitas
Na parte financeira, aliás, Pomar foi além: criticou a decisão do partido de dispensar a contribuição dos filiados, o que teria resultado não apenas na perda de receitas próprias, mas também na quebra de um vínculo formativo com a militância.
“Hoje, 99% da receita do PT vem de fundo partidário e eleitoral. E se os 3 milhões de filiados dessem só R$ 10 por ano, daria R$ 30 milhões. Se dessem R$ 10 por mês, seriam R$ 360 milhões por ano! Não é só dinheiro, é deseducação política. Viramos um partido que não se sustenta com sua base”, finalizou.
PED
Durante a entrevista, Valter Pomar não deixou de chamar a atenção ao Processo de Eleição Direta do PT. Para ele, o modelo adotado desde em 2001 é falho e desmobilizador: a maioria dos 3 milhões de filiados sequer aparece para votar, no máximo 30%, e os poucos que vão às urnas geralmente o fazem sem ter participado de qualquer debate real entre as chapas. Ou seja, vira um ritual vazio, sem discussão política de verdade.
Na avaliação dele, o PED virou terreno fértil para abuso de poder, interferência externa e até fraude, práticas que, segundo Pomar, minam a democracia interna do partido. Ainda assim, ele reconhece que em momentos críticos, como em 2005, o processo serviu para virar a chave e reposicionar o PT. É esse tipo de inflexão que ele espera repetir em 2025, agora como candidato da Articulação de Esquerda.