Era 2020, lembro da última vez que pisei na rua antes de ter que me trancar em casa. Era o dia 7 de março de 2020, fui na casa de um amigo onde tivemos um jantar e bebemos vinho com pessoas próximas. Eu, que acompanho notícias do mundo todo, sabia que algo estava por vir. Na China, onde assistia canais notícias durante as madrugadas que não conseguia dormir, via que um vírus se espalhava.

Esse vírus chegou ao Brasil uma semana depois daquele 7 de março. Desta vez estava em casa, com minha irmã, cunhado e cachorro. Ela perguntou: “Será que é grave?” Eu sabia que sim.

Os próximos meses foram complicados. Sem poder sair de casa, ficamos lá fazendo o possível para nos distrairmos, jogavamos UNO, assistíamos filmes e liamos os livros que estavam lá. Por um tempo foi agradável, foi bom. Até que tudo começou a se apróximar.

Em 2020 assistiamos e liamos os jornais, meio que de forma religiosa, e vimos o que começou a acontecer na Itália, que tinha uma população mais idosa, e aquilo nos chocou. Mas por qual motivo apenas a Itália nos chocou?

Poucos meses depois, o mesmo começou a acontecer no Brasil. Mas como? A população brasileira não é tão velha. Mas era algo que estava nos aproximando. Era agosto, ainda estavamos todos, como presidiários, com poucos momentos para sequer ver o sol.

Chegou novembro e o grande baque: minha avó morreu no interior do Tocantins e, pela primeira vez em meses, tinhamos que sair de casa. Viajamos e fomos, eu e minha irmã. Essa não foi pela Covid-19 mas teve uma dor pior. Lá, eu, jornalista, fui entender o que se passava em um interior e entendi que a realidade era muito mais difícil.

O tempo passou, as coisas pioravam, contrai Covid algumas vezes (6 para ser exato) e entendi: muitos vão morrer, mas não precisavam.

Durante toda a pandemia, o governo fez algo que não se deveria fazer: incentivar o povo a contrair uma doença mortal. O povo trabalhador, que era quem mais tinha potencial de contrair a doença, foi jogado às traças e obrigado a trabalhar no período mais difícil desde a última pandemia da Gripe Espanhola, em 1918.

Esses dois anos que a Covid-19 nos deixou confinados, com medo e em luto, nos mostrou a ineficiência de quem deveria nos proteger. Bolsonaro, o maior torcedor do vírus que ceifou a vida de 700 mil brasileiros, jogou a população para manter seu projeto econômico, que também falhou.

Quando lembramos de 2020 – 2021, lembramos de uma época sem esperança, sem vida. Lembramos de uma época de sacrifício do povo brasileiro.

Já em 2022, quando Bolsonaro perdeu a reeleição, era culpa de tudo, menos dele. Era a culpa daqueles que não foram fortes o suficiente para sobreviver a uma doença que estava lá para nos matar, mas não dele.

A negligência causada, não só em Manaus, mas em todas as 27 capitais de um país continental tem um culpado: Jair Messias Bolsonaro. É até engraçado, do humor mais sádico possível, assistir ele, hoje, pagando por seus crimes mais recentes, e não pelos mais graves.

Como falei, não perdi ninguém tão próximo, mesmo perdendo familiares mais distantes, mas assisti amigos que perderam pessoas vitais para suas vidas e tudo isso para manter um projeto político. Hoje, no banco dos réus, Bolsonaro provavelmente será preso, mas não pagará em vida pelos crimes que cometeu.

Mesmo se Bolsonaro tivesse o melhor desempenho econômico, social ou sei lá, pandemia é sim inegociável.