Giovanna Cardoso

Se enganou quem achou que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) não sabia escrever. Além de saber ler e discursar, Bolsonaro também sabe organizar suas ideias no papel. O ex-mandatário se mostrou um exímio escritor no artigo “Aceitem a democracia”, publicado essa semana no jornal Folha de São Paulo. Falando como um representante da direita, Bolsonaro diz que a “moda é nos acusar de inimigos da democracia”. Quando ele fala “nos”, se refere aos cidadãos que se identificam como sendo do espectro político de direita.

De repente, a palavra democracia passou a constar no pobre vocabulário do ex-presidente. Inelegível até 2030, ele tenta passar a impressão de que foi perseguido politicamente, mas que mesmo fora de cena continua articulando pelos “seus”. Mesmo quando nem seus próprios aliados parecem “o assumir” politicamente. Além de perder para Lula em 2018, ele foi derrotado novamente nas eleições de 2024. Veja bem, o suposto representante da direita que perdeu para a própria direita. Nas urnas, os eleitores têm mandado o recado: o Brasil marcha para o centro e as pessoas estão cansadas de extremismos.

O filme “Ainda Estou Aqui”, que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira, 7, retrata com uma sensibilidade inenarrável a dureza da ditadura militar no Brasil. Protagonizado por Fernanda Torres e baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme conta a história da mãe do autor, Eunice Paiva, e explora temas de dor, resiliência e memória.

O enredo gira em torno de Eunice, que enfrenta o desaparecimento do marido, Rubens Paiva, um deputado cassado e ativista político preso e morto pelos militares em 1971. Eunice se vê sozinha, com cinco filhos para criar, enquanto tenta entender o que aconteceu com seu marido e lida com as adversidades da época, como a censura e o medo constante. O filme retrata a luta de Eunice para manter a família unida e seguir em frente, apesar da dor e da repressão.

Fernanda Torres dá vida a essa personagem complexa, e o filme expõe as consequências da ditadura para as famílias dos perseguidos políticos, além de abordar questões como amor, perda e resistência.

Nova imagem de Bolsonaro

Esses são os que se apresentam como “democratas”, autonomeados “salvadores da democracia”, uma democracia que pisoteiam quando podem. Além do mais, vivem numa realidade paralela, ilhados dentro das suas bolhas, afastados do povo e dos trabalhadores que um dia disseram representar. São incapazes de compreender que não é possível, a não ser numa ditadura absoluta, impedir a manifestação da vontade popular, da qual os líderes são apenas portadores. Se suprimirem um líder, outro aparecerá.

O recado de Bolsonaro, apesar de estar travestido de ideologia, vale tanto para a direita quanto para a esquerda. Tanto a esquerda quanto a direita seguem sem herdeiros para os eleitores de Lula e Bolsonaro. As eleições dos Estados Unidos mandaram o recado de que a idade -para além do partido- é um fator considerável para os eleitores. Entre Lula e Bolsonaro, a população vai escolher qualquer outro.

Abjeto, chucro e agressivo, é compreensível que até Bolsonaro tente se afastar de sua imagem construída enquanto presidente da República. Agora, aposentado e sem perspectivas políticas, Bolsonaro tenta adotar um tom mais neutro e escreve artigos para à imprensa, que um dia menosprezou. “Nada consegue conter a onda conservadora”, ressalta Bolsonaro no artigo.

A democracia, como sistema, é apresentada como um espaço onde todas as vozes, de direita e de esquerda, têm lugar, mas em que a defesa de ideias não deve ferir a integridade das pessoas. No Brasil, as percepções sobre “direita” e “esquerda” variam conforme a experiência e visão de mundo de cada pessoa, mas o ponto central é que, em uma democracia, as escolhas e debates devem ser conduzidos de forma livre e respeitosa.

Os parlamentares precisam ser exemplo para a população e devem ter a responsabilidade de respeitar e preservar o espaço democrático, atacando ideias, mas não pessoas. Assim, mesmo em tempos de polarização, a liberdade de escolha e a defesa da democracia se mantêm como os principais valores a serem defendidos.

Ditadura militar no Brasil

A ditadura militar no Brasil foi um regime autoritário que durou de 1964 a 1985, marcado pela concentração de poder nas mãos dos militares e pela restrição das liberdades civis e políticas. O golpe militar de 31 de março de 1964 destituiu o então presidente João Goulart, sob a justificativa de que o governo estava em risco de um suposto avanço do comunismo e de uma “ameaça à ordem”. Esse período foi caracterizado por censura à imprensa, repressão a opositores, perseguição a movimentos sociais e suspensão de direitos políticos.

Durante o regime, foram instituídos os Atos Institucionais, especialmente o AI-5 (1968), que ampliou os poderes do Executivo, permitindo o fechamento do Congresso Nacional, a cassação de mandatos, a suspensão do habeas corpus e a restrição de várias garantias constitucionais. A resistência ao regime se deu de diversas formas, incluindo protestos, movimentos estudantis, ações armadas e a mobilização de setores da sociedade civil. A Anistia, em 1979, e o movimento pelas Diretas Já foram marcos do processo de abertura, que levou à redemocratização e à eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, embora ele não tenha assumido devido a problemas de saúde.

Hoje, o período da ditadura militar é amplamente estudado e debatido. Os efeitos da repressão e as violações de direitos humanos ainda ressoam na sociedade, e há um consenso entre historiadores e estudiosos de que se tratou de um período de perda significativa das liberdades e de sofrimento para muitos brasileiros. Ao mesmo tempo, essa memória reforça a importância de preservar a democracia e as liberdades fundamentais no país.