Bonny Fonseca

Eu morro de preguiça de redes sociais e tomei esse ranço depois de trabalhar em uma agência de publicidade. Meu dia se resumia em fazer posts para as redes dos clientes, administrar crises e metade desse tempo eu passava no Whatsapp. Para não parecer um eremita eu tive que ceder e todo dia abro um pouco a mão da minha paciência por conta do trabalho, porque, hoje, a internet é o principal meio de comunicação de difusão das informações. 

Mas desde 2018 pra cá esse ambiente se tornou o pior do mundo para se estar e hoje ele está por todos os lados. As redes sociais correram tanto a mente das pessoas que elas hoje não sabem pensar e tem pouco, muitas das vezes, nenhum senso crítico para mover um neurônio de refletir sobre aquilo que estão lendo ou assistindo. 

Minhas redes são fechadas e sigo um grupo bem seleto de pessoas com coisas que eu quero assistir. Tem um perfil de uma pessoa que eu gosto bastante por conta do sarcasmo com que ele trata a burrice alheia. Certo dia ele foi “cancelado”, por isso. 

Ele falou que em suas redes que “tatuagem protege do frio”, e por isso ele tinha várias. No dia seguinte ele trouxe alguns comentários que apareceram no in box dele do Instagram. Uma seguidora comentou que achou interessante, que não sabia disso e refez a pergunta: “Nossa protege do frio mesmo? Não sabia que legal”. 

Foi o auge para agir da maneira mais verborrágica e maravilhosa. “Vocês são burros a ponto de achar que uma tatuagem vai proteger contra o frio? Vocês acreditam em tudo que vocês leem mesmo”. 

A seguidora inundada por ódio devolveu dizendo que não sabia, porque não tinha tatuagem. E lá vem ele de novo: “Mas você é burra ao ponto de acreditar em tudo que te falam e não tem a capacidade de pesquisar para saber se aquilo é verdade ou não?”. Depois dessa exposição começou o cancelamento e ele deu uma breve pausa, de um dia nas redes. 

O grande mal desse momento que a humanidade atravessa é que isso se espalha para todos os ambiente e o pior deles é na política, porque acaba por influenciar decisões de estado, deixando as políticas públicas à mercê de ideologias. Com isso os vulneráveis ficam mais vulneráveis, os pobres ficam mais pobres e assim caminha a humanidade a passos de caranguejo e com vontade de errar (antes fosse a passos de formiga, pelo menos estaríamos andando para frente, mesmo que sem vontade).

O resultado disso tudo é muito ódio sem sentido e argumento, morte pela pressão social e a sociedade passa a se enxergar com os olhos do vizinho e vice versa. Sendo que a vida de quem mora ao lado pode, ou está, pior do que a sua.

As redes sociais e a política estão servindo para lacração, não existe mais fundamento científico, social ou basicamente bom senso. Escrevo isso justamente falando para os movimentos de extrema direita no Brasil e dessa política torpe que se faz hoje em dia. 

Durante a visita do presidente Lula à Goiânia, na sexta-feira, 6, compareceram no evento, além da militância e de simpatizantes, meia dúzia de bolsonaristas – que inclusive são filiados e candidatos a vereador pelo PL em Goiânia. Tumultuaram a solenidade e passaram mais de três horas discutindo com os seguranças e com o cerimonial da Presidência da República. 

Ao final, quando três pessoas estavam sendo retiradas, uma garota, sem noção até a tampa, gritava com um segurança a segurança pelo braço. “Como eu odeio a voz desse velho (se referindo ao presidente Lula), ladrão, ladrão”. 

Estava no evento cobrindo a visita presidencial, mas quando eu ouvi isso eu fiquei pelas tampas e falei comigo mesmo. “O que diabos você está fazendo aqui então garota?”. Mas a intenção dessa meia dúzia, ou menos, de gatos pingados ali era lacrar, gerar tumulto e postar nas redes. Lula é o presidente e pronto, lute em 2026 para ver se a história muda. Da mesma maneira, Jair Bolsonaro foi presidente. 

Apesar da contenção, os veículos de imprensa foram lá, deram palco para ódio. Nenhuma notícia tinha crítica ou análise. Muito pelo contrário, o que rendeu para o grupinho do arroubo antidemocrático foi o palco gerado pelo pretexto da audiência. 

Quando receber, ler, assistir algo nas redes sociais tenha a grandeza de valorizar a sua existência e saber sobre o que estão falando e se aquilo é verdade ou não. Não seja burro porque a pessoa que mora ao lado também é.