“Por enquanto, gostaria de expressar minha profunda gratidão a todos aqueles que trabalharam arduamente para que eu fosse reeleito”, diz uma carta publicada pelo presidente norte-americano Joe Biden, neste domingo, 21, ao anunciar sua desistência do projeto de reeleição à Casa Branca. A jogada de toalha, é claro, não foi nenhuma surpresa.

Desde o final de junho, quando protagonizou de forma atabalhoada e até cômica um dos maiores vexames em debates de presidenciáveis da história dos EUA, o democrata era alvo de intensa pressão de seu próprio partido para abrir mão da tentativa de se reeleger presidente.

Um nome trocado ali, uma confusão de ideias aqui, um esquecimento de dado importante acolá, o sentimento de aliados passou a ser cada vez menos de admiração por um presidente dos EUA, para cada vez mais de pena e preocupação. Joe Biden, chefe de Estado americano e principal cotado para a reeleição, havia se transformado em um meme ambulante.

Diante de um Biden octogenário, confuso e com ares senis, um Trump, apesar de também idoso, cresceu de forma assustadora. A pedra final em sua coroa de “ressurreição” foi cravejada no último dia 13 de julho, após o republicano sofrer um atentado durante um comício na cidade de Butler, na Pensilvânia. A bala disparada contra Trump pegou de raspão, na orelha, mas as marcas que ficaram em sua pré-campanha ressoaram alto.

Uma imagem capturada durante a confusão do ataque, mostrando um Trump ensanguentado, com o punho erguido, destemido e quase imparável, refletiu o sentimento dos republicanos: o líder deles voltou, e não está para brincadeira.

Não deu outra: Joe Biden cedeu aos apelos de aliados e decidiu sair de cena, mas não sem antes deixar evidente sua preferência pelo nome que irá substituí-lo. “Minha primeira decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E foi a melhor decisão que tomei. Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas – é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso”, escreveu o presidente, logo após a publicação da carta de desistência.

Esta é a segunda vez em oito anos que os holofotes dos ianques se voltam para a chance real de, pela primeira vez, uma mulher ser eleita presidente dos Estados Unidos. A primeira, em 2016, passou perto: contrariando previsões e pesquisas, Donald Trump derrotou Hillary Clinton e foi eleito, na época, o 45º presidente dos EUA. Ao longo da campanha, Hillary frequentemente afirmou ser a candidata mais qualificada, citando sua trajetória como primeira-dama, senadora por Nova York e como secretária de Estado. No entanto, o currículo não foi suficiente e Trump levou a melhor.

Kamala Harris pode chegar, agora, como a nova portadora da tocha do desejo de eleger uma mulher presidente dos EUA. Filha de mãe indiana e pai jamaicano, Kamala tem 59 anos, tendo sido a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos. Ela cursou Direito na tradicional Universidade Howard e iniciou sua carreira na promotoria do condado de Alameda, na Califórnia, virou promotora-chefe em San Francisco em 2003, antes de ser eleita a primeira mulher negra procuradora-geral da Califórnia. Nesse cargo, ganhou reputação como estrela ascendente do Partido Democrata, até ser eleita ao Senado americano.

Apesar da crise na popularidade – um compilado de pesquisas do FiveThirtyEight, aponta que 51% dos americanos desaprovam Harris, enquanto 37% a aprovam -, apoiadores destacam um levantamento da emissora americana CNN que revela que Kamala se sairia melhor do que Biden na disputa contra Trump nas eleições. Em uma batalha direta, a vice-presidente aparece apenas dois pontos atrás do republicano, enquanto Biden ficaria seis pontos atrás.

É claro que a escolha de Kamala Harris para entrar no lugar de Biden ainda não está acertada. O presidente norte-americano venceu a etapa de primárias para obter a nomeação e, ao desistir, o processo de escolha do candidato terá de recomeçar, mas há pouco tempo. E caso seja Kamala Harris de fato a escolhida, e se utilizando de sua desenvoltura e carisma na política, as chances de os Estados Unidos terem uma mulher como presidente, e ainda derrotando uma figura como Trump, voltam a se tornar mais prováveis do que nunca.