Por: Amanda Costa

Todas as manifestações e mobilizações em defesa da Constituição Federal e de um Brasil democrático foram ameaçadas não pelos cidadãos, mas por aqueles que os representam. A situação se intensificou após o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar um ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes de roubo após as eleições de 2022. Desde então, observou-se a articulação dos deputados federais em pautas que visam atender a interesses próprios.

Com caráter de urgência, a Câmara dos Deputados votou a chamada PEC da Blindagem [proposta que serve exatamente para dificultar a abertura de processos criminais contra parlamentares] e logo depois a PEC da Anistia. Detalhe: agora por estratégia do relator Paulinho Força (Solidariedade-SP) e aliados querem mudar para PEC da ‘Dosimetria’ – palavra não tão formal da língua portuguesa. Esmiuçando para ti, caro leitor, significa ausência de igualdade. Por isso, Paulinho foi logo dizendo que o texto buscará um ‘equilíbrio’ – nem para esquerda e nem para direita.

A sensação que temos é de avanços e retrocessos. Hora a Justiça julga se respaldando na Constituição Federal. Horas depois, nossos ‘representantes’ articulam projetos para favorecer somente seus próprios interesses. Em entrevista ao Jornal Opção, o deputado federal por Goiás Jeferson Rodrigues (Republicanos) afirmou que os manifestantes não eram golpistas e sim pais de família, inclusive, um deles poderia ser o próprio filho dele.

Já o deputado Ismael Alexandrino (PSD) afirmou que o julgamento do STF foi corrompido e que precisaria ser superado. “Vândalos precisam ser punidos na medida do seu vandalismo. Condenar uma pichadora de estátua com batom a 17 anos de prisão pode ser qualquer coisa, menos justiça”. Entendedores entenderão que não eram meros ‘vândalos’ e muito menos ‘massa de manobra’ e que mesmo sendo pais de família, tinham consciência sobre os atos que estavam fazendo.

E a população?

O país realmente está dividido? Segundo o levantamento Quaest, 41% da população é contra a anistia para Bolsonaro e 36% a favor para os envolvidos na tentativa de golpe de estado após a eleição de 2022. As movimentações na Câmara dos Deputados, no Senado – após o julgamento do ex-presidente, no STF vai repercutir, claro, nas ruas.

O Senado Federal iniciou uma consulta pública sobre o projeto de lei que propõe anistia parcial. Até as 12h58 desta quinta-feira, 18, a consulta já havia registrado 1.349.170 votos, sendo 724.878 contrários à proposta (53,73%).

Movimentos sociais, parlamentares e artistas convocam atos para este domingo, 21. Ou seja, o que iremos assistir agora são protestos por várias capitais do Brasil. A reação nas ruas está sendo comandada pela esquerda e visa aproveitar a rejeição mostrada por um levantamento com 2.004 pessoas de todo o país feito pela Quaest. A pesquisa indicou que 41% dos entrevistados são contra qualquer anistia.

Os atos têm o mote “Congresso inimigo do povo” e há manifestações confirmadas em várias capitais do país: Brasília — com concentração no Museu da República, às 10h —, Belém, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba.

“PEC da Bandidagem”

O músico Caetano Veloso disse que a PEC da Blindagem é sinônimo de PEC da Bandidagem. Em suas redes sociais, convocou a população brasileira para responder nas ruas e manifestar contra os deputados federais. “A gente tem que ir para a rua, para a frente do Congresso, como já fomos outras vezes. Voltar e dizer que não admitimos isso, como povo, nação. Não admitimos”.

“A PEC da Blindagem vai contra tudo o que conquistamos de melhor na nossa democracia. Transparência é honestidade com quem paga os impostos, com as cidadãs e cidadãos brasileiros”, argumentou em suas redes, a cantora Daniela Mercury.

A cantora Anitta também entrou no coro e compartilhou um banner com uma cobrança aos senadores: “PEC da Bandidagem, não. Senadores, contamos com vocês”.