“Na linha de tiro”, morte de jornalistas ao redor do globo cresce ao passo que o mundo perde vozes

04 setembro 2025 às 14h54

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Por: João Reynol
Em uma manhã de segunda-feira, 25, cinco jornalistas foram mortos enquanto auxiliavam as equipes de resgate no Hospital Nasser, na Faixa de Gaza, após um ataque recente ter atingido a única unidade de saúde restante do local. Os assassinatos de Mohammad Salama, Hussam Al-Masri, Mariam Abu Dagga, Moath Abu Taha e Ahmed Abu Aziz foram televisionados para o mundo ver o genocídio que ocorre há pouco menos de dois anos. A morte dos profissionais foi marcada com uma forte mensagem, de que 246 jornalistas faleceram na suposta “Guerra” de Gaza.
O número corresponde ao maior registro de mortes da categoria da história, e ainda dá para acumular os falecimentos de quase todas as guerras do Século XX, como a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, e a Guerra do Vietnã. O único conflito que chegou perto de Gaza foi a Guerra do Iraque, com 168 mortes de jornalistas — incluindo assassinatos com uso de drones —, mas que durou quase oito anos em um país da metade do estado do Mato Grosso em área.
Na Guerra da Ucrânia, conflito que incendeia o leste europeu, foram 19 casos de profissionais da comunicação mortos na linha de tiro em um confronto que se estende há mais de três anos e presenciou o renascimento da guerra de trincheira. Enquanto isso, a Guerra da Síria, que se encerrou em 2025 com a tomada de Alepo por forças revolucionárias, teve a morte de 44 profissionais da área, incluindo a tortura e o assassinato de jornalistas que eram vistos como inimigos do regime de Assad.
A morte, contudo, é apenas um aspecto de um padrão que ocorre desde o nascimento da profissão, mas que aumentou recentemente com o avanço da extrema-direita no governo das grandes potências e a queda dos índices democráticos ao redor do globo. Outras formas de repressão da liberdade de imprensa incluem agressões físicas, assédios morais, sexuais e jurídicos.
Realidade brasileira
Além disso, os casos não são isolados em genocídios ou zonas de guerra, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2024 foram registrados 144 casos de violência contra profissionais da comunicação. O levantamento foi publicado na edição do ano de 2024 sobre a pesquisa da “Violência Contra Jornalistas E Liberdade De Imprensa”.
O número é uma redução, ou melhor, uma recuperação, à alta encontrado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que agora enfrenta um julgamento por tentativa de golpe de Estado. Durante os dois primeiros anos da administração bolsonarista, 2019 e 2020, foram mais de 636 caso, ante os 325 caso registrados nos anos de 2023 e 2024 do 3º Governo Lula. Naquela época, a repressão jornalística não foi um sintoma, mas o modus operandi da gestão Bolsonaro de blinda qualquer acesso à informação aos meios de comunicação, com ameaças e assédios morais.
Entre os principais perpetuadores são os políticos, assessores e parentes, com 33% do total dos casos. Por região, o Sudeste e o Nordeste acumulam a 1ª e a 2ª posição com 38 e 36 casos, respectivamente, enquanto o Centro-Oeste foi o menor com somente 17 casos. Por estados, São Paulo, Paraná, Distrito Federal e o Rio de Janeiro ficaram no topo, por outro lado, Goiás registrou três casos naquele ano.
Casos recentes
Um próprio jornalista do Jornal Opção foi vítima de um ataque covarde do vereador Ronilson Reis (SD), no dia 19 de fevereiro de 2025, devido à matéria “Ronilson Reis tenta antecipar eleição para Mesa Diretora da Câmara de Goiânia, mas é desmobilizado pela presidência” publicada anteriormente.
Outro caso recente remete a agressão física sofrida pelo jornalista Guga Noblat, do Instituto Conhecimento Liberta Notícias (ICL Notícias) e desferida pelo deputado federal Paulo Bilynskyj (PL) na Câmara dos Deputados. Após indagar sobre o processo da morte da ex-namorada, Bilynskyj pressionou fisicamente a nuca do jornalista, um movimento que imobiliza e fere a vítima.
No mesmo mês, o jornalista Heverson Castro foi intimidado e agredido fisicamente pelo prefeito de Macapá, Antônio Furlan (MDB), após perguntar sobre a demora da entrega do empreendimento. Na manhã desta quarta-feria, 3, uma operação da Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação contra a prefeitura de Macapá e apontou Furlan como um dos investigados.