Guilherme de Andrade

Os Jogos Olímpicos de 2024 começaram na última sexta-feira, 26, em Paris, e vão até o dia 11 de agosto. A atenção do mundo está voltada para os atletas que se reúnem na maior competição esportiva do planeta. Os esportistas brasileiros carregam consigo, além dos esforços e sacrifícios em sua vida pessoal, as expectativas de toda uma nação. Entretanto, esses profissionais não recebem o devido investimento para alcançar os resultados esperados e a competição escancara o despreparo brasileiro. 

Atualmente, o pódio das Olimpíadas de Paris conta com a China em primeiro lugar (com 13 medalhas, sendo 6 de ouro), o Japão em segundo (com 12 medalhas, sendo 6 de ouro) e com a França em terceiro (com 16 medalhas, das quais 5 são de ouro). O Brasil aparece na 19° colocação, com apenas 3 medalhas, e sem nenhum ouro. Os poucos atletas que conseguem subir ao pódio se tornam destaques em todo o país, como Rayssa Leal, no skate, e Willian Lima e Larissa Pimenta, no judô.  

O Brasil chegou na França com 277 atletas em suas comitivas, dos quais quase 90% participam do Bolsa Atleta, ou seja, para além dos patrocínios, o apoio do Estado é fundamental para aqueles que escolhem se dedicar ao esporte. 

O Bolsa Atleta é um programa do Governo Federal de financiamento individual de esportistas de alto desempenho. Os pagamentos são mensais, por um ano, e pode ser renovado dependendo do Ministério do Esporte. São R$ 410 mensais para as categorias “Atleta Estudantil” e “Atleta de Base”, R$ 1025,00 para “Atleta Nacional” e R$ 2.051 para os profissionais da categoria “Atleta Internacional”. Atletas Olímpicos, Paralímpicos e que já ocuparam o pódio (profissionais no topo da carreira) possuem valores diferenciados. Na categoria Olímpico e Paralímpico, os atletas recebem R$ 3.437, e os atletas “Pódio” ganham R$16.629,00. 

Esses valores deixam de ser pagos quando o desempenho do profissional deixa de atingir as metas estabelecidas pelo Ministério do Esporte. Para além do financiamento público, existem aqueles profissionais que se associam a marcas com patrocínios para conseguir fonte de renda secundária.  

Apesar do sucesso que se vê no topo da carreira, poucos pensam na trajetória desses profissionais até as Olimpíadas. Quantas pessoas conseguem se dedicar em tempo integral ao esporte no Brasil? Quantas pessoas têm acesso às estruturas e ao pessoal necessários para seu treinamento? Com tempo em atividade menor que das outras carreiras, esses profissionais ganham o suficiente? Até que ponto as pessoas consideram investir no esporte como uma aposta e não como um investimento? São várias as incertezas e os desafios que cercam o cotidiano daqueles que se entregam ao esporte como principal fonte de renda. 
Em 2023, o setor do esporte recebeu 0,0080% e em 2024, a previsão é que receba 0,04% do orçamento federal anual. Enquanto mais de 40% desse montante é destinado ao pagamento de juros e amortização da dívida pública, o esporte é política pública individual, apenas para aqueles de alto rendimento. 

O esporte tem potencial de transformação social e, caso o governo adotasse uma postura de investimento coletivo, poderia mudar a realidade de milhares de pessoas nas comunidades mais afastadas, que muitas vezes sofrem com altos índices de criminalidade. A cada quatro anos, o país é lembrado que o investimento no esporte não é algo a ser tratado de forma individual. 

Sempre que um brasileiro que chegou às Olimpíadas, depois de muito esforço e sacrifício, perde uma disputa e suas lágrimas emocionam toda a nação, lembre-se dos ginásios sucateados no seu bairro, das piscinas secas nos clubes, das bolsas individuais e da falta de equipamentos e estruturas adequadas para o treinamento necessário. A forma como o esporte é tratado pelo país é a resposta para a posição no ranking de medalhas.