Gustavo Soares

O recorde da moeda americana que encerrou a terça-feira, 2, a R$5,66 depois de bater R$5,70, movimentou o cenário geopolítico deste início de semestre. A crescente do dólar preocupa o mercado e o governo brasileiro. Foi necessário até um jantar na casa do ministro da Fazenda com antigos integrantes de uma gestão anterior de governo — considerados conservadores e inflexíveis — para discutir decisões para lidar com o contexto financeiro sensível.    

Essa frequência de alta da moeda fez com que, pela terceira vez seguida, alcançasse um patamar maior desde janeiro de 2022, quando bateu R$ 5,67. Isso porque o juro básico nos Estados Unidos está por um tempo constante, sem alteração desde julho do ano passado entre os valores de 5,25% a 5,50%. A estabilidade oferecida pelo mercado americano é de interesse de investidores que veem oportunidade de se afastar de atividades de risco e oscilações. 

O aumento de investidores na moeda americana leva a saída de países considerados emergentes (em evolução) na compra do dólar, seguindo a lógica da oferta e demanda. Sem a possibilidade de se comprar dólar, a moeda em relação ao real tende a ficar maior. Nesta terça, 2, a moeda brasileira chegou a se desvalorizar -14,6% comparada ao dólar. Economistas e políticos apontam que, também tem influência na valorização da moeda americana, as expectativas em relação às próximas eleições presidenciais americanas. 

A boa performance de Trump sobre Joe Biden no último debate é de interesse de investidores, uma vez que milionários não veem complicações na reeleição de Trump, apesar dos problemas com a justiça. Além de que, uma das principais pautas do ex -presidente é a redução de impostos, que beneficia esses investidores. No Brasil, investidores questionam o governo federal que vive rivalidade com o Banco Central, presidido por um indicado da gestão anterior, antagonista. 

Segundo o atual presidente do Brasil, Lula, o BC deveria diminuir a taxa Selic  (taxa básica de juros)  que alcança o valor de 10,5%. A alta dessa taxa não colabora para o crescimento do país porque sai mais caro adquirir dinheiro no sistema financeiro.  Em contrapartida, o presidente do BC, Campos Netto, considera que a gestão não sabe controlar os gastos públicos e coloca o país em risco de inflação,  justificando o porque os juros devem se manter altos.

A verdade é que o BC pode sim manobrar a alta do dólar através de ações como contratos de swap cambial, que significa vender a moeda no mercado futuro, o que reduziria a pressão sobre alta no momento atual; Vendas diretas de dólar, à vista, que seriam retiradas de reservas internacionais brasileiras; e leilões de linha que também seriam vendidos dólares de estoque, porém, os valores desses dólares seriam devolvidos nos meses seguintes. A liberação do dólar no mercado para investidores brasileiros oxigenaria o cenário.