Guilherme de Andrade

O mês de junho se tornou internacionalmente conhecido como mês do Orgulho LGBT+. Grandes companhias colocam as cores do arco-íris em suas peças publicitárias e mudam o roteiro a fim de abarcar a diversidade e manter a imagem positiva perante o público. Logo que passa junho, se nota a diminuição dos signos da comunidade na grande mídia. Enquanto isso, o Brasil continua sendo “o campeão mundial de homicídios e suicídios de LGBT+”, conforme afirma o levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB). 

Diante desse cenário, é preciso se perguntar: que orgulho é esse que bradam as companhias durante o mês de junho? Orientação sexual e identidade de gênero são questões inatas, se nasce assim. Uma vez que se descobre, não é preciso esforço para ser de forma individual, isso se dá naturalmente. O maior ponto a se orgulhar é o resistir e existir enquanto pessoa LGBT+ em uma sociedade que coíbe toda e qualquer manifestação fora da norma social. 

Desde a infância, se ouve de amigos, familiares e desconhecidos qual a melhor forma de andar, o jeito certo de falar, as atividades mais adequadas, as roupas corretas, e de quem se deve gostar, com base exclusivamente em seu sexo biológico. “Endireita essa mão, menino!”, “Senta que nem moça”, “engrossa essa voz!” e “Isso não é coisa de menino(a)”, são comentários que pessoas LGBT+ escutam desde a infância. Quando vem a adolescência e a descoberta da sexualidade, novas regras surgem a fim de podar qualquer comportamento não normativo. 

Aqueles que, bravamente, reafirmam quem são, apesar das normas impostas, precisam encarar uma sociedade que abertamente os odeia. O relatório do Observatório de Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil de 2023 mostrou que o país registrou uma morte violenta a cada 34 horas. Ao todo, foram 257 assassinatos com requinte de crueldade provocados por LGBTfobia no país, deixando o Brasil, por mais um ano consecutivo, como o campeão de mortes violentas de pessoas LGBT+. 

O GGB afirma ainda que: “reconhecemos que tais estatísticas são subnotificadas, pois muitas vezes é omitida a orientação sexual ou identidade em tais publicações fúnebres”. O levantamento do grupo é feito com informações coletadas na mídia, já que não existem fontes oficiais sobre esse tipo de dado. 

O levantamento da ONG mostra ainda que gays e transexuais são os principais alvos. 49% das mortes violentas registradas em 2023 foram de travestis e transexuais, enquanto 46% de gays. A pesquisa dá ainda detalhes de algumas mortes, destacando o tom de crueldade dos assassinos. 

Motivos para se orgulhar

Apesar da realidade que oprime em todos os níveis e dos dados assustadores, o Brasil tem apresentado sinais de evolução no quesito aceitação da diversidade. 

Nas eleições de 2022, Érika Hilton foi eleita deputada federal, e pouco depois se tornou a primeira pessoa transexual a liderar uma bancada na Câmara dos Deputados. Em 2013, a rede Globo de televisão exibiu, mesmo que timidamente, o primeiro beijo gay em novelas brasileiras, e em horário nobre. A Parada Gay de São Paulo, que em sua primeira edição reuniu de 500 a 2 mil pessoas, agora leva às ruas mais de 70 mil pessoas. Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esses são apenas alguns dos avanços que vimos nos últimos trinta anos, e eles existem em diversos níveis. 

Mesmo que timidamente e com percalços, os avanços existem. Ao custo do sangue, de lágrimas e do adoecimento (físico e mental) de milhares de pessoas da comunidade LGBT+, os avanços legais, sociais e culturais seguem surgindo, e esses são, de fato, os motivos para se orgulhar.