Por: Italo Wolff

A “nova” articuladora política do Palácio do Planalto é Gleisi Hoffmann (PT), que assumiu a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) nesta segunda-feira, 10. As aspas em “nova” buscam indicar dois desacordos: Gleisi Hoffmann não é nova, é um quadro do PT antigo que chega com equipe veterana dos governos Lula e Dilma; e a função de Gleisi Hoffman não é nova, ela já atuava politicamente manifestando críticas a medidas técnicas de Haddad e Galípolo. 

Aqui, não se argumenta que Gleisi Hoffmann seja despreparada: ela já foi ministra, senadora, deputada federal, dirigente partidária, e é uma agente política com objetivos e modus operandi bem definidos. Entretanto, vale a pena refletir sobre esta personagem da República, que historicamente encarnou a ideologia do núcleo duro do PT e ficou marcada por travar debates em defesa das visões de seu grupo. Como ela pode colaborar para avançar as pautas de um Executivo que luta já há dois anos para se entender com o Legislativo?

Antes de assumir o cargo, parte da função de Gleisi Hoffmann enquanto “ombudsman do PT”, parecia ser classificar o ministro da Fazenda como técnico por meio do contraste. Se Fernando Haddad tomava uma medida liberal e recebia críticas de um medalhão do PT, a impressão é de que o presidente tinha decidido agradar ao mercado em detrimento do partid. O teatro, é claro, era ilusório — nunca houve pêndulo que pudesse ser tombado para qualquer lado; as escolhas finais sempre foram de Lula. 

Agora, com Gleisi Hoffmann na linha de frente da articulação, as impressões se tornam mais imediatas. Não há teatro. A própria nomeação da nova ministra é um recado: nomear ela, que já foi presidente do PT, expressa valorização da ideologia pelo Executivo em detrimento do acordo com os diferentes. Críticos chamarão de “radicalização do governo”, apoiadores chamarão de “resgate do governo”. Buscando ser mais objetivo, o que podemos esperar é que Lula retomará posturas do passado. 

A própria equipe de Gleisi Hoffmann indica isso: o médico e diplomata Marcelo Costa vai ser o chefe de gabinete; já trabalhou com Gleisi no Senado. O jornalista Ricardo Amaral será chefe da Assessoria de Comunicação na SRI; já foi assessor de Gleisi na imprensa na presidência do PT. André Ceciliano e Zunga Alves de Lima são outros que atuaram como assessores da petista em ocasiões passadas.

A nomeação de Gleisi Hoffmann significa um projeto de que o governo retorne a um passado bem-sucedido? Não necessariamente. No contexto atual, de institucionalização do orçamento secreto, em que Lula tem de jogar conforme regras diferentes, a nomeação de uma líder leal parece significar uma introspectiva volta do governo para dentro de si mesmo. O gesto é uma forma de se defender contra desgastes e chantagens a que se submete aqueles que tentam negociar. É uma má notícia para o sempre ávido parlamento e é um sinal de que pautas do Executivo podem andar ainda mais lentamente.