Tão desiguais, mas uns mais iguais que os outros
18 janeiro 2024 às 14h40
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Aline Bouhid
A renda da elite do país cresceu o triplo da dos outros brasileiros. Os ganhos do grupo que representa 0,01% da população cresceram 96%, enquanto os do restante avançaram apenas 33%. Os dados são provenientes de um estudo da Fundação Getulio Vargas. A análise detalhada das declarações de Imposto de Renda expõe que essa elite, composta por 15 mil brasileiros, desfruta de uma renda mensal estratosférica de R$ 2,2 milhões. Este cenário acentuou ainda mais a concentração de riqueza no país.
Economistas apontam que o crescimento exponencial desses rendimentos se deve principalmente aos ganhos com atividade rural e ao aumento nos lucros e dividendos, ressaltando a iminente necessidade de reformas nas políticas tributárias.
A desigualdade evidente consta também em relatório da Oxfam divulgado ontem, 16, indicando que a fortuna das cinco pessoas mais ricas do mundo mais que dobrou no último ano, enquanto a renda de 5 bilhões de pessoas diminuiu.
No Brasil, quatro dos cinco bilionários mais ricos aumentaram sua riqueza em 51%, contrastando com outros 129 milhões de brasileiros que experimentaram um empobrecimento. Essa desigualdade não só afeta a economia, mas também alimenta crises migratórias e agravamento da fome.
A Oxfam destaca a possibilidade de redução da desigualdade redistribuindo recursos, propondo que ações governamentais fortaleçam serviços públicos, implementem impostos sobre grandes fortunas e promovam uma distribuição mais justa de renda. No Brasil, a desigualdade persiste há décadas, e embora programas sociais tenham sido retomados recentemente, sua eficácia é limitada, exigindo medidas mais robustas e metas concretas para reverter esse quadro.
No cenário internacional, o Fórum Econômico Mundial em Davos relega a desigualdade social a um segundo plano e concentra-se em questões climáticas. A ausência do presidente Lula, defensor dessa causa, é notável. O Brasil, ao enviar representantes com foco nas mudanças climáticas, deixa de lado a urgência da agenda social. A Oxfam propõe que o Brasil lidere a definição de metas para reduzir a desigualdade, paralelamente ao enfrentamento das emissões de gases de efeito estufa. Mais que discurso, a análise da desigualdade no Brasil aponta para a necessidade de medidas imediatas, incluindo revisão nas políticas tributárias, para combater efetivamente a concentração de renda e promover uma distribuição mais justa dos ganhos.