Às vésperas da aplicação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2025, o Tocantins intensifica as ações voltadas à melhoria dos indicadores educacionais. Gerente de Elaboração de Itens e Análises dos Resultados de Avaliação e Indicadores Educacionais da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Emerson Soares destaca o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos para recompor aprendizagens, fortalecer as formações de professores e consolidar um sistema estadual de avaliação próprio.

Na entrevista a seguir, concedida ao Jornal Opção Tocantins, Emerson detalha as estratégias da rede estadual, comenta as boas práticas observadas nas escolas e fala sobre as expectativas para o desempenho dos estudantes tocantinenses no Saeb deste ano.

Como a Secretaria da Educação está se preparando para o Saeb 2025?

A Secretaria vem se preparando desde o Saeb de 2023. Naquele ano, fizemos um trabalho forte voltado principalmente à participação, para garantir o resultado de todas as escolas. Isso é importante porque o Ministério da Educação só libera resultado para escolas que têm, no mínimo, 80% de participação. Conseguimos alcançar quase todas as escolas, apenas algumas turmas ficaram de fora.

A partir daí, com o resultado de 2023, divulgado em 2024, continuamos o trabalho na parte de proficiência. Analisamos as habilidades que foram e as que não foram desenvolvidas e montamos material voltado para isso. Então, o trabalho de 2024 e 2025 é uma continuidade, e agora estamos na reta final, com a preparação para a aplicação da prova.

A Secretaria tem promovido ações de divulgação, inclusive é importante a participação de vocês, do jornal, nessa divulgação sobre a importância do Saeb. A preparação conta com apoio das Superintendências Regionais de Educação. O secretário está sempre em contato com os superintendentes e com as unidades escolares que vão receber a prova nas turmas de 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio, além do 2º ano do fundamental.

Em termos de números, há uma estimativa de quantas escolas vão participar este ano?

Está previsto que 345 unidades escolares da rede estadual participem neste ano, envolvendo turmas de 5º ano, 9º ano e 3ª série do ensino médio.

Há alguma novidade em relação à logística da aplicação?

A logística segue o mesmo formato de 2023. O que estamos aprimorando é o nosso fazer. Estamos intensificando o trabalho de busca ativa para garantir a presença dos estudantes no dia a dia e, consequentemente, a maior participação no Saeb.

Também estamos fortalecendo o transporte escolar, pois às vezes há problemas com ônibus quebrados, e queremos garantir que tudo funcione normalmente durante o período da avaliação. Além disso, temos trabalhado a logística com os grêmios estudantis, fortalecendo o protagonismo juvenil. Os alunos produzem vídeos e pequenas apresentações sobre o Saeb, ajudando a mobilizar a comunidade escolar e garantindo uma aplicação com qualidade.

Falando sobre os anos finais, especialmente o ensino médio, que é uma fase decisiva para o ingresso no ensino superior, há estratégias específicas para esses alunos?

Em relação ao Saeb, o padrão é o mesmo para 5º, 9º e 3ª série. Mas a Secretaria desenvolve um trabalho específico voltado ao Tô no Enem, que é um programa próprio. Podemos até indicar a equipe responsável por ele para conversar com vocês.

De toda forma, o Saeb está relacionado à matriz da BNCC, que também é a base utilizada no Enem. Nosso material de recomposição do Documento Curricular do Tocantins (DCT) está alinhado à BNCC, e, consequentemente, à matriz do Enem.

Os alunos que têm bom desempenho no Saeb costumam ter bons resultados no Enem e nos vestibulares. Por isso, trabalhamos com os estudantes a importância da prova, mostrando que ela também os prepara para a vida, para o vestibular e para concursos.

E quanto aos professores, há capacitações específicas voltadas ao Saeb?

Sim. Em 2024 fizemos a análise dos descritores críticos e reorganizamos a matriz de recomposição, que foi apresentada aos professores. Essa matriz é uma versão específica do documento curricular voltada às deficiências observadas nas avaliações.

Promovemos formação para professores e coordenadores pedagógicos. As equipes das superintendências regionais receberam a formação e passaram a fazer o monitoramento e o acompanhamento das escolas.

Neste ano, a Secretaria adquiriu um material estruturado com foco na BNCC e no DCT. Esse material reforça o desenvolvimento das habilidades voltadas ao Saeb e traz simulados. Tivemos três simulados ao longo do ano com foco nesses documentos, diretamente ligados ao Saeb.

Então essa matriz é ajustada a cada ano, conforme os resultados?

Exatamente. Conforme os resultados do Saeb, fazemos adequações anuais na matriz para aprimorar o trabalho.

E quanto às escolas com baixo desempenho? Há ações específicas voltadas a elas?

Sim. A Secretaria tem o que chamamos de escolas prioritárias, que recebem atenção especial em termos de formação. Geralmente são escolas mais distantes dos grandes centros, em periferias ou zonas rurais.

Os técnicos regionais fazem o acompanhamento dessas unidades. Com base nos resultados de 2023, já começamos, em 2024, a trabalhar com essas escolas e seguimos até o dia da aplicação do Saeb.

Nem sempre o baixo desempenho está ligado à localização, mas muitas vezes os estudantes de zonas rurais ou periféricas têm menos contato com tecnologia e informação, o que impacta a proficiência. A Secretaria trabalha para superar essas dificuldades em sala de aula.

Também observamos boas experiências em algumas dessas escolas, que servem de exemplo para outras unidades. O foco maior é no trabalho pedagógico, com o coordenador e o professor atuando juntos para melhorar os resultados.

Quando os resultados do Saeb são divulgados, quais indicadores a Seduc analisa com mais atenção?

O Saeb trabalha os componentes de Língua Portuguesa e Matemática. Os especialistas dessas áreas analisam os resultados e identificam as habilidades mais deficitárias. A partir disso, elaboramos o material de apoio, que é a matriz de recomposição.

Os demais componentes curriculares — História, Geografia, Inglês, Ciências — também se baseiam nessas análises, porque as habilidades são interdisciplinares. Por exemplo, Ciências envolve matemática e interpretação; História e Geografia exigem leitura e produção textual.

Assim, os professores dessas áreas reorganizam suas matrizes para ajudar os alunos no desenvolvimento de competências como letramento matemático, resolução de problemas, interpretação e produção de texto.

E de que forma esses dados contribuem para o alcance das metas do Ideb e para a formulação de políticas públicas?

O Saeb tem como um dos principais objetivos subsidiar políticas públicas. Além dos resultados das provas, há os questionários contextuais respondidos por professores, diretores e estudantes. Eles ajudam a relacionar a aprendizagem com o contexto socioeconômico e escolar.

A partir dessa correlação, conseguimos observar, por exemplo, que escolas com professores concursados e diretores selecionados por processo seletivo costumam ter melhor desempenho.

A Secretaria também montou um processo seletivo para diretores, e hoje cerca da metade das nossas escolas têm gestores que passaram por esse processo. O diretor é estabilizado, faz uma prova e passa a atuar com foco nos indicadores do Ministério da Educação e nos nossos próprios indicadores.

Com base nesses resultados, a Secretaria promoveu concurso público em 2023, com a posse de mais de 4 mil professores em 2024, alinhando essas ações às metas e indicadores do Ideb.

O Estado tem algum sistema próprio de avaliação complementar ao Saeb?

Sim. A Secretaria instituiu no ano passado, por lei, o Sistema Estadual de Avaliação da Educação Básica do Tocantins — o Saeto. Ele trabalha nos mesmos moldes do Saeb, com uma matriz semelhante, embora um pouco mais ampla.

O Saeto abrange outras séries além do 5º, 9º e 3ª série. Já realizamos avaliações para o 4º e o 8º anos e para a 2ª série do ensino médio. Também temos avaliação diagnóstica desde o 3º ano do fundamental até o final do ensino médio.

Essa avaliação é anual, o que a torna mais próxima da realidade das escolas, e ajuda a fortalecer os indicadores estaduais. Ela também inclui questionários contextuais, como o Saeb. Nosso sistema é alinhado ao do Ministério, mas com acompanhamento mais contínuo.

Estamos na expectativa de que o trabalho realizado com o Saeto se reflita em bons resultados agora no Saeb.

Quais foram os principais desafios nas últimas avaliações?

Um dos desafios foi a queda na proficiência em 2023, reflexo dos impactos da pandemia entre 2020 e 2022. A recomposição da aprendizagem surgiu justamente para enfrentar isso, inclusive, o Ministério da Educação lançou um programa de recomposição que segue a linha do Tocantins, que já havia iniciado esse processo.

Outro desafio é o momento da aplicação: a prova ocorre em um único dia, então é preciso organizar bem a escola para receber os alunos com qualidade. Oferecemos lanche antes da prova, que dura cerca de duas horas e meia, incluindo o questionário.

As escolas se preparam para acolher os estudantes, e em 2023 conseguimos bons resultados. Para 2025, seguimos com apoio do grêmio estudantil, professores e gestores escolares. Acredito que conseguiremos superar os desafios com tranquilidade.

E quanto às boas práticas, há exemplos de escolas que se destacaram nesse processo?

Sim. Temos escolas que já trabalham com foco no Saeb há algum tempo. Algumas são prioritárias, mas também há escolas que já têm bom desempenho e servem de referência.

Essas escolas promovem simulados, fazem formações internas, além das formações oferecidas pela Secretaria — e criam uma cultura de pertencimento, o que reflete diretamente na aprendizagem e nos resultados.

Posso citar o Instituto Passo a Passo, o Colégio Elisângela e alguns colégios militares de Palmas e do interior, que tiveram bons resultados.

E quais são as expectativas para o Saeb 2025?

As melhores possíveis. É como se fosse a cereja do bolo, um trabalho que vem sendo feito desde 2023. As avaliações nas escolas começam já na próxima semana e esperamos encerrar esse ciclo com chave de ouro: boa participação, alunos tranquilos, aplicadores preparados e uma aplicação de qualidade.

Depois da prova, seguimos trabalhando até o fim do ano com foco no Ideb, já que ele considera o fluxo escolar. Acompanhamos para que o máximo de alunos seja aprovado com qualidade na educação básica do Tocantins.

Na visão da Secretaria, quais mudanças ainda são necessárias para consolidar avanços e ampliar o número de escolas com bons resultados?

As mudanças já estão em curso. O principal é garantir a permanência das políticas voltadas à recomposição da aprendizagem e à realização das avaliações com qualidade.

Precisamos continuar aprimorando a formação de professores e diretores, e fortalecer cada vez mais o sentimento de pertencimento das equipes escolares e da própria Secretaria nesse processo de recomposição e avaliação.

Para finalizar, que mensagem o senhor deixaria para professores, gestores e alunos que vêm se preparando desde 2023 para o Saeb 2025?

Primeiro, parabenizar pelo trabalho realizado nesses dois anos, o Saeb é bianual e reflete o esforço de 2024 e 2025. Quero reforçar que estamos juntos com gestores e professores para oferecer todo o apoio possível. Esperamos que as escolas estejam ainda mais preparadas que em 2023, que já foi um bom ano, e acreditamos que teremos um grande sucesso nesta edição, fruto do trabalho feito em 2023, 2024 e 2025.