Fábio Pereira Vaz, atualmente secretário de Educação do Estado do Tocantins (Seduc), nasceu em 1978 em Goiânia, mas cresceu em Palmerópolis, sul do Tocantins, onde sua família se estabeleceu em 1973. Formou-se em Letras em 2002 em Palmas e, após concluir sua graduação, retornou a Palmerópolis, onde começou sua carreira como professor no Colégio Estadual de Palmerópolis, hoje Colégio Militar Maria Guedes. A partir de 2003, lecionou em três turnos enquanto administrava uma mineradora de calcário de sua família.

Com forte ligação com a política, influenciada por seu pai, que foi prefeito de Palmerópolis, Fábio decidiu se candidatar a vereador em 2004, ano em que foi eleito o mais votado da cidade. Conciliando sua vida pública com a educação, ele continuou a lecionar e a trabalhar na fazenda da família. Reeleito em 2008, Fábio usou sua posição para implementar mudanças na educação do município.

Em 2012, Fábio se lançou como candidato a prefeito e foi eleito com campanha fortalecida pela participação da juventude. Sua gestão, iniciada em 2013, focou em tornar Palmerópolis uma referência em educação no Tocantins. Um de seus projetos foi a transformação de uma antiga escola em uma creche de tempo integral, que passou a atender crianças a partir de oito meses de idade. Isso teve grande impacto na cidade, com a oferta de cinco refeições diárias e permitindo que as mães se inserissem no mercado de trabalho.

Durante seu tempo como prefeito, Fábio implementou programas sociais voltados para crianças e idosos, captando recursos para projetos que melhoraram a qualidade de vida na cidade. Seu trabalho na educação foi reconhecido, colocando Palmerópolis entre as cidades com as melhores educações do Tocantins.

Após sua gestão como prefeito, Fábio continuou sua trajetória política e profissional, conquistando prêmios na área ambiental e se destacando como um gestor. Ele disputou quatro eleições e venceu todas, mantendo forte conexão política com a cidade.

Na sua atual posição como secretário de Educação do Tocantins, Fábio explica em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins como tem aplicado suas experiências anteriores para promover a educação de qualidade no Estado, formando uma equipe de servidores efetivos e buscando inovação e continuidade nos serviços educacionais.

Quais foram os principais desafios que o senhor encontrou na educação do Tocantins e como está resolvendo essas questões?

Cheguei aqui no dia 23 de novembro de 2021, no início do afastamento do ex-governador Mauro Carlesse, época em que Wanderlei Barbosa assumiu o mandato. Quando me convidaram, fiquei preocupado com o meu CPF. Na minha cidade, que é uma das menores do Tocantins, o prefeito não era o ordenador das despesas; quem fazia isso eram meus secretários.

E, de repente, eu vim para cá, onde o orçamento era de R$ 40 milhões, e agora eu tinha que lidar com um orçamento de R$ 2 bilhões, e era o meu CPF que estaria à frente. Fiquei preocupado.

Ao chegar, me deparei com várias situações em andamento. Eu conhecia todos os ex-secretários que estiveram aqui, pois trabalhei com eles. Eu só deixei a educação em 2012 quando me licenciei para ser prefeito. Mesmo durante a campanha, sempre estive envolvido com a educação.

Sempre me mantive em contato com a educação. Todos os secretários que passaram por aqui foram meus amigos, como a senadora Dorinha Seabra, que foi minha chefe, a Adriana Aguiar, o Adão Francisco de Oliveira, e o Danilo Melo, que foi meu professor e depois meu colega. Cheguei com essa experiência e o governo me deu carta branca para montar a equipe. Mas isso foi a 40 dias do fim do ano, e ainda tínhamos que cumprir o índice dos 25% de gastos com a educação.

Mergulhei nos processos e, ao mesmo tempo, a educação estava desacreditada. Perguntei ao governador Wanderlei Barbosa o que ele queria para a educação do Tocantins, e ele disse que queria que fosse boa e que os professores fossem valorizados. Isso se alinhava com minha missão, já que também sou professor de carreira.

Então, analisando o que estava previsto para o fim do ano, decidimos cancelar mais de R$ 200 milhões em processos que não faziam sentido naquele momento. Eu conversei com o governador e expliquei que preferia usar esses recursos para pagar os direitos dos professores, como progressões e datas-bases, que estavam atrasadas desde 2014.

O governador concordou, e começamos a resolver essas questões. Estávamos em plena pandemia, com as escolas fechadas, e havia um saldo disponível. Conversamos com o Tribunal de Contas para conseguir uma resolução que nos permitisse usar o dinheiro de 2021 para pagar despesas de anos anteriores. O Tribunal autorizou, e isso foi a virada de chave para a educação no Tocantins.

Quando começou a quitar essa dívida?

Cheguei em novembro e, na véspera de Natal, em 23 de dezembro, fizemos um pagamento de R$ 50 milhões para os professores. Logo após o Natal, entre 27 e 28 de dezembro, pagamos mais R$ 40 milhões. Com isso, conseguimos quitar R$ 90 milhões devidos aos professores.

Foi uma surpresa para os professores. Eles me ligavam, dizendo: “Professor, tem 30 mil reais na minha conta, será que está errado? Vou ter que devolver esse dinheiro?”. Teve até professor que recebeu 200 mil e não acreditava. Nesse momento, a classe começou a perceber que tinha uma gestão que queria olhar por eles, e o governador se sentiu acolhido pela educação.

Havia essa incerteza, porque o Carlesse foi afastado no final de outubro, e eu assumi no dia 23 de novembro. Mas ele estava com uma liminar, então havia sempre a possibilidade de voltar. O Wanderlei estava como governador interino, e eu cheguei num momento de muita incerteza. Pensei: “Vou mexer nas coisas aqui, mas e se amanhã o Carlesse volta e muda tudo?”.

Era um período de muitas incertezas. Mas eu senti que era minha missão. Falei: “Vou pagar os direitos dos professores, fazer minha parte, e se precisar sair, já cumpri o que tinha que fazer”. Nos primeiros 40 dias, consegui resolver muitas pendências. Me senti um canal de bênção na vida desses professores.

O processo seguiu. Em março ou abril de 2022, o Carlesse renunciou, e isso trouxe estabilidade para o governo do Wanderlei. Só que, nesse meio tempo, estávamos em ano eleitoral. Meu primeiro ano de gestão foi em meio a uma eleição.

Agora, imagine a situação: um orçamento de R$ 2 bilhões, mais de 20 mil funcionários, problemas profundos na gestão, baixa autoestima dos servidores, e a educação com índices nacionais muito baixos. Estava tudo complicado.

Quando o governador assumiu definitivamente, eu já vinha discutindo as questões desde novembro.Eu estava vindo de uma experiência totalmente diferente. Eu estava na escola. Deixei de ser prefeito no dia 31 de dezembro e voltei para a escola em 1º de janeiro. Sou servidor de carreira. Depois, tirei férias e fui trabalhar no Polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB), em Palmeirópolis. Minha mesa era uma mesinha de aluno, com uma cadeira pequena. E de repente, me vi lidando com um orçamento enorme.

Quando me perguntaram o que fazer [na Seduc], eu disse: “Cadê o planejamento estratégico?”. E adivinhe? Não tinha. Na minha prefeitura, eu tinha planejamento estratégico, mas aqui nada. Estava tudo complicado. Mas aí começamos a construir o planejamento estratégico. Foi quando percebemos a necessidade de criar o Programa de Fortalecimento da Educação (Profe). Começamos a desenvolver esse projeto no início de 2022.

Independentemente de o governador Wanderlei ganhar a eleição ou não, o próximo secretário que assumir precisa ter esse planejamento em mãos.

Assim, começamos a desenvolver um planejamento abrangente para toda a secretaria, identificando oito eixos que precisavam ser implementados. Um deles era a valorização do servidor, que incluía melhorar a carreira dos professores. Precisávamos realizar concursos públicos e processos seletivos para diretores das escolas.

Tínhamos que fazer isso. O eixo de valorização era essencial. Depois, havia o eixo estrutural, que se referia à reforma e estruturação das escolas. Também tínhamos o eixo de aprendizagem e um específico voltado para a educação inclusiva. Um dos eixos que não discutimos aqui era o dos municípios. Não adiantava tratar da educação a partir do sexto ano, sendo que a alfabetização na idade certa é crucial. Precisávamos integrar as discussões sobre educação com os municípios.

Nós só discutíamos transporte escolar. Então, criei o eixo “municípios”. Com isso, conseguimos estruturar os oito eixos do planejamento. Mas para tudo isso funcionar, precisávamos ganhar a eleição, certo? E, de fato, ganhamos. Quando o ano parlamentar retornou, o planejamento já estava pronto.

O programa foi aprovado em abril de 2023, apenas dois ou três meses depois do retorno da Assembleia. Estava tudo a postos. Agora, com o programa em andamento, posso trabalhar com convênios com os municípios. Hoje, a educação municipal é avaliada de forma sistemática. Em 2023, desenvolvemos o Sistema de Avaliação do Tocantins (Saeto), que monitora a qualidade da educação.

Como funciona essa avaliação?

Temos o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, que é o Saeb, que fornece os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas implementamos um sistema de avaliação no Tocantins que ocorre anualmente. Enquanto o Saeb acontece de dois em dois anos, a avaliação local é feita todos os anos. Avaliamos as escolas municipais, focando no segundo e quinto ano. Assim, posso acompanhar a qualidade da educação em qualquer cidade do Tocantins, algo que antes não existia.

Antes, tudo era às escuras. Hoje, temos um diagnóstico. Com um clique, consigo entrar em qualquer escola e avaliar os alunos do segundo e quinto anos. Por exemplo, posso visitar uma turma no Colégio Centenário ou na Escola Municipal Pequenos Brilhantes na minha cidade. Quando entro na sala de aula, posso identificar quais alunos não estão aprendendo adequadamente. Isso é possível graças a um sistema que temos em parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), que é uma das maiores plataformas de avaliação do país.

E isso permite que você saiba o que os alunos precisam aprender?

Exatamente! Ao criar o programa Profe, consigo integrar essas informações. Posso compartilhar dados e oferecer apoio financeiro e pedagógico. Antes, no Tocantins, não tínhamos essa capacidade. Agora, posso fornecer material didático e recursos para as escolas municipais que se destacam. Por exemplo, se uma escola deseja construir um auditório ou um banheiro, posso ajudar.

Dessa forma, reconheço as melhores práticas educacionais no Tocantins. Por exemplo, em Aliança, 96% das crianças são alfabetizadas ao final do segundo ano. No entanto, sabemos que há lugares onde apenas 10% a 12% dos alunos conseguem ler e interpretar. Imagine uma sala com 20 alunos, e apenas 2 conseguem ler. Quando esses alunos avançam para o terceiro ano sem a alfabetização adequada, acabam ficando ansiosos e desmotivados, pois não conseguem acompanhar o conteúdo.

Como educador, agora tenho condições de trabalhar com os municípios. Aprovamos a lei do Profe, que estabelece que todos os municípios tocantinenses são obrigados a realizar avaliações.

Jornal Opção entrevista secretário da Educação, Fábio Vaz | Foto: Seduc

E dentro do Profe, há inclusão de perfis, como o afro e o indígena. Isso parece único no país, certo?

Sim, é verdade. Esse tipo de inclusão é algo que não encontramos em outros estados do país. O Profe é um programa abrangente que se desdobra em várias vertentes. Uma delas é o Poder Afro, que visa garantir que nossas escolas não sejam racistas. Isso é parte de uma linha do Profe que observamos cuidadosamente. Além disso, criamos um organograma para a Seduc, que antes era muito pequena em relação às necessidades. Hoje, discuto 500 escolas estaduais e 400 escolas públicas, pois também acompanho as escolas municipais.

Isso é importante, pois as escolas municipais afetam os resultados das escolas estaduais.

Exatamente! A interligação entre as escolas é fundamental. Também introduzimos o Profe Indígena, que busca ressignificar a educação indígena. Antes, o foco era apenas na abertura de escolas em aldeias, sem uma compreensão adequada da qualidade. Agora, discutimos qualidade educacional. Temos uma equipe na diretoria composta por representantes de seis etnias, com diretores e gerentes indígenas, todos concursados pelo novo concurso.

Isso fortalece a inclusão e além do Poder Afro e do Profe Indígena, temos a Escola de Emoções, que trabalha com a maior rede de psicólogos escolares do Brasil. O Tocantins, proporcionalmente, tem uma grande quantidade de psicólogos nas escolas, e todo esse trabalho faz parte do Profe.

O Profe efetivamente reestruturou a Seduc e isso está vinculado ao mandato da gestão do governador, que é apoiada por uma lei aprovada em abril e sancionada em agosto de 2022, com validade de cinco anos. Essa mudança transforma a política de gestão em uma política efetiva.

E ao chegar à Seduc, percebi que dos 4.900 professores efetivos, apenas 1.100 estavam em sala de aula. Criamos uma gratificação para incentivar os professores a retornarem às suas áreas de formação. Com isso, atraímos mais de 900 professores de volta.

Dentro do Profe, implementamos uma gratificação de R$ 700 para os professores que permanecem em suas áreas de formação. No entanto, é necessário que esses professores estejam dedicando 60% de sua carga horária à sua disciplina. Antes, muitos professores trabalhavam em áreas diferentes ou como assistentes de direção, mas agora precisamos trazê-los de volta às salas de aula.

E quanto ao apoio financeiro para os estudantes?

Dentro do programa, lançamos o “Presente Profe”. Antes mesmo do governo federal apresentar o programa “Pé de Meia”, já estávamos oferecendo R$ 100 por mês para alunos em tempo integral. Se forem aprovados, recebem um bônus de R$ 1.000 em dezembro.

Já existia o programa antes mesmo do Pé de Meia do Governo Federal. Isso está presente dentro da estratégia do programa. Foi um processo intenso, onde discutimos tudo o que precisávamos fazer para o futuro. Nos debruçamos sobre isso por um ano, envolvendo todos os aspectos. E o programa vai se desdobrando. Recentemente, lançamos o “Bem-Estar”, que é uma pesquisa virtual e parte da valorização dentro do Profe. Ele ressignifica toda a estrutura que temos.

O Profe muda completamente o olhar que temos sobre a educação estadual e sobre o território. Ele nos permite observar todas as escolas e dá um direcionamento para a gestão.

O senhor já percebe melhorias nos índices após esses dois anos de trabalho?

Se você avaliar, começamos a preparar a população para olhar os resultados. O Ideb do ano passado foi um sucesso. Em 2023, estamos todos focados em melhorar. Com essa parceria e a discussão em torno da educação no território, temos boas expectativas. E a melhor surpresa é que o Tocantins é o Estado que mais avança em alfabetização no Brasil. Estávamos com um índice de 14%, agora estamos com 44%. Isso nos coloca como o Estado que mais avançou nesse aspecto.

Isso é um avanço significativo. Durante um evento com o presidente Lula, eu estava presente, e os números mostraram que o Tocantins havia avançado muito. O governador estava na minha frente, e eu observei que, apesar dos desafios, estávamos entre os que mais avançaram. Saímos de uma situação crítica, mas avançamos muito.

E isso mostra que estamos progredindo, certo?

Exato! O resultado do Ideb nos coloca como a melhor educação da região Norte do país. Quando somamos todas as médias, somos os melhores. No ensino médio, estamos em décimo lugar no Brasil. Essa mudança é um reflexo do crescimento do Estado.

Quando você observa todo esse fortalecimento do Estado do Tocantins, especialmente nos últimos anos, e considera os números da educação… Os índices que tínhamos em 2021 refletiam a qualidade do ensino e aprendizado desde 2008.

Como você imagina que um Estado que ficou 14 anos sem avanços. Como era o olhar para a educação? O professor estava desanimado. Tínhamos 1.100 professores efetivos e 7 mil contratados no ambiente escolar. Onde está o pertencimento? Quando troca o político, troca-se os contratos. Antigamente, todos diziam: “Ah, mudou a gestão, mudou o governo…” Mas, quando você tem professores efetivos, eles permanecem, dão continuidade ao trabalho, se sentem pertencentes.

O concurso da Seduc ofertou 5.242 vagas, dentro destas vagas passaram um total de 3.721 candidatos. Isto é,1.521 vagas não foram preenchidas! Por exemplo, tiveram dois municípios do Tocantins em que não houve nenhum aprovado. Nas sete convocações que já realizamos, para além dos aprovados dentro das vagas, já foram convocados 4.302 novos profissionais da educação. Isto é, já chamamos quase 600 professores que estavam no cadastro de reserva.

Mas não foram preenchidas todas essas vagas?

O edital do concurso previu as vagas, por cidade. Um dos problemas que enfrentamos no Tocantins é o preenchimento das vagas no interior. Por isso, discutimos um edital que contemplasse as escolas dessas cidades. Precisamos de professores de química e matemática lá no interior. Existe uma carência, e precisamos suprir essa demanda, então ao candidato é oferecida a possibilidade de disputar a vaga de lá. Sim, das mais de 5 mil vagas, apenas 3 mil candidatos foram aprovados. Tivemos cerca de 8 mil candidatos classificados para 3.721 aprovados dentro das vagas previstas.

Então, este concurso vem para resolver um problema sério na gestão em relação às escolas dos municípios do interior, que é fixar professores nas cidades menores, assegurando aos estudantes a mesma oportunidade dos alunos das maiores cidades, além de ser um professor de nível superior e efetivo. O Edital, não dá a prerrogativa de redistribuição das vagas, somente após o estágio probatório que é de 3 anos.

O edital do concurso não permite que um candidato que se inscreveu para determinado município, seja redistribuído para outro local, isto é, que assuma a vaga em outro município. O que acontece é que, na medida do possível, queremos adequar estes profissionais às novas vagas que estão surgindo. Ontem, um professor me perguntou: “Professor Fábio, tinha 100 vagas previstas para língua portuguesa em Palmas e chamou 137?” Eu respondi que sim, porque se a demanda aumenta, por exemplo, com a abertura de novas escolas, surgem novas vagas e conseguimos contemplar mais profissionais. É o caso da implementação das Escolas em Tempo Integra (ETI), que representava 11% das escolas da Rede Estadual, no início da minha gestão, e agora já representa 17% da rede estadual. A nossa meta, alinhados com o MEC, é chegar a 22% de ETIs no Tocantins.

A Seduc vai abrir mais vagas?

Sim, estamos aumentando. Mas isso cresce mais nas grandes cidades, como Palmas e Araguaína. No Tocantins, 93% das cidades ficaram estagnadas, sem crescimento populacional. Somente Palmas tem crescido muito, devido ao fluxo migratório. As outras cidades continuam com a mesma quantidade de habitantes, então as vagas são determinadas por isso.

Existe um questionamento no concurso que apresenta dois lados: há servidores que estão ali e pessoas que passaram no concurso e estão prestes a ser chamadas, mas não querem saber de redistribuição. Por outro lado, há outros que estão lá atrás e querem redistribuição. Se você aciona a redistribuição, imagine que você é um professor de matemática e tem cinco na sua frente para ser chamado.

De repente, aparecem mil pessoas de matemática que foram aprovadas e tínhamos mil vagas. Aí fazemos uma nova lista e o seu nome vai para o final, pois aqueles 995 podem ter notas melhores que a sua. Você será chamado para outra cidade. Isso é questionável. A redistribuição é um percurso jurídico que precisa ser discutido. Existem cidades que têm professores contratados, há 2 mil vagas, mas não posso pegar alguém daqui e mandar para lá. Não é assim que funciona; são as regras do concurso.

O senhor prevê, então, a possibilidade de um novo concurso por conta disso ou vamos aproveitar este?

Este concurso tem validade de dois anos, prorrogáveis por mais dois. Estamos completando 10 meses, então não posso discutir um novo concurso neste momento. Porém, teremos mais uma chamada agora em dezembro. Fizemos sete chamadas até agora. Em dezembro, haverá mais oportunidades, pois alguns já se aposentaram e mais escolas vão se transformar em tempo integral. Estamos passando de 17% para 22% [de escolas em tempo integral], em 2025.

Não podemos simplesmente enviar quem passou para Palmas. Temos questões de edital, pactuação e somos demandantes de vagas. O concurso da Seduc é realizado, mas quem contrata é a Secretaria da Administração (Secad). No Tocantins, apenas a Secad pode fazer concurso. Mesmo que a Seduc se responsabilize pelas inscrições e pagamentos, a Secad é quem assina a contratação. Portanto, somos demandantes de vagas e precisamos de efetivos. Porém, o concurso aberto não previu a redistribuição, e essa é uma discussão que precisa ser feita na esfera jurídica.

Seria uma ótima solução. Contudo, há pessoas nas grandes cidades que não querem a redistribuição, pois podem se sentir prejudicadas. Para nós, seria ideal se pudéssemos redistribuir, resolveríamos o problema com apenas efetivos. Nesse processo de concurso, temos uma outra questão interessante: a seleção de diretores. Hoje, o diretor da escola estadual precisa passar em um teste.

Tivemos prova neste domingo (20/10). No ano passado, fizemos para 300 e poucas escolas, mas só 145 passaram. Abrimos novamente o processo.

Atualmente, novos professores em fase probatória podem participar da seleção, pois havia 80 escolas sem nenhum inscrito. Diante disso, foi necessário abrir a prova para os profissionais que entraram recentemente. A prova foi realizada no domingo e é a primeira fase do processo seletivo, que incluirá mais etapas, como a elaboração de um plano de trabalho e entrevistas. O diretor da unidade escolar do Tocantins é escolhido por meio de processos seletivos, representando uma conquista.

A valorização do servidor é um dos eixos principais dessa iniciativa. Observa-se uma série de melhorias, incluindo a infraestrutura, que é um ponto importante. As obras estão sendo totalmente repensadas, e diversas construções paralisadas desde 2008, 2010 e 2012 estão sendo retomadas.

Havia obras que estavam paralisadas há anos, e quando a nova administração chegou, encontrou um saldo de convênios em contas que somava até R$ 100 milhões, recursos destinados a escolas em tempo integral. Esses valores precisam ser utilizados para adquirir equipamentos e realizar reformas. Até agora, cinco escolas foram inauguradas.

Governador Wanderlei Barbosa visita obras de ampliação da Escola Estadual Cívico-Militar Maria dos Reis Alves Barros, no Jardim Taquari, em Palmas – Foto: Esequias Araújo/Governo do Tocantins

O montante parado gerou rendimentos ao longo do tempo. O recurso é da Seduc, e é necessário solicitar ao Ministério da Educação (MEC) a liberação dos saldos. Estamos conseguindo dar andamento a projetos que estavam paralisados desde 2002. No total, mais de 230 escolas passaram por reformas, ampliações e construções novas, o que representa um avanço considerável no universo de 500 escolas.

Além das obras realizadas pela Seduc, as próprias escolas também realizam melhorias, como reformas e pinturas, com apoio financeiro. Isso demonstra a autonomia das instituições, que apresentam planos e custos para a administração da Seduc.

A climatização das escolas é outro ponto importante. No entanto, ao instalar ar-condicionado, surgem novos desafios relacionados à infraestrutura elétrica. Muitas escolas têm redes elétricas antigas e, ao ativar vários aparelhos simultaneamente, a energia pode cair. Isso ocorre porque a capacidade dos transformadores atuais não é suficiente. Portanto, um desafio é a necessidade de instalar transformadores em torno das escolas estaduais, com mais de 200 unidades aguardando essa atualização.

O fornecimento de energia tem sido um desafio. Quando adquirimos ar-condicionado, precisamos garantir que haja energia disponível para operá-los. É frustrante ter ar-condicionado instalado e não poder utilizá-lo em um Estado quente como o Tocantins.

Há uma parceria com a Energisa para avançar nesse aspecto, mas a realidade é que, em algumas localidades, não conseguimos ligar os aparelhos devido à falta de energia.

A questão dos transformadores precisa ser discutida, pois quando cheguei, apenas três escolas tinham certificação do Corpo de Bombeiros. O desafio é grande, pois, de um total de 1.500 escolas, muitas não têm a documentação necessária.

Para emitir certificados de conclusão para alunos do terceiro e nono ano, as escolas precisam estar regularizadas. O processo exige o envio de documentos para o Conselho Estadual para validação. Atualmente, já temos mais de 200 escolas com laudos do Corpo de Bombeiros, e mais de 90 estão em construção, o que implica em cumprir uma série de requisitos para garantir a certificação.

Os problemas na educação vão além da questão pedagógica; também envolvem questões estruturais, como a discussão sobre salários de professores e alimentação escolar. No segundo ano, reajustamos em 70% o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Antes, a liberação desse programa estava atrelada a questões federais, mas agora passamos a administrar diretamente para as escolas estaduais.

Hoje, todos os alunos que estudam à noite no Tocantins têm direito a um jantar. O foco inicial foi na Educação de Jovens e Adultos (EJA), considerando que muitos alunos trabalham. Quando esses alunos chegam às escolas à noite, recebem um jantar. Em vez de esperar pelo lanche, eles têm uma refeição completa antes de ir para a sala de aula. Isso é uma questão de dignidade, especialmente para os trabalhadores que estudam à noite.

Na verdade, avançamos muito na educação. Estamos nos preparando para as metas do ano de 2025 e temos a expectativa de alcançar todas as nossas metas.

Qual é o legado que o senhor deseja deixar para a educação do Tocantins? O senhor tem mencionado que esses projetos são um sonho. À medida que a gestão se aproxima do fim, o que o senhor espera?

Faltam apenas dois anos e dois meses para finalizar a gestão. Meu objetivo é deixar uma educação que seja referência nacional. Espero que, em 2025, o Tocantins esteja entre os estados com o melhor ensino médio do Brasil. Quero avançar principalmente na alfabetização e acredito que estaremos bem adiantados nesse aspecto.

Mesmo a alfabetização não sendo uma atribuição direta do Estado?

Exatamente. Hoje trabalhamos com o conceito de Educação de Território, então passamos a olhar e investir na formação de professores da rede municipal, oferecendo bolsas e material didático. Estamos investindo bastante na educação, especialmente para as crianças do primeiro e do quinto ano, por meio do Programa Alfabetiza Mais Tocantins.

Para os professores da Rede Estadual de Ensino, por exemplo, fornecemos um notebook para cada professor. É essencial que nossos educadores tenham conhecimento tecnológico, pois a sociedade do futuro demanda isso.

Nossas crianças já têm contato com tecnologia fora da escola, mas muitas vezes aprendem de forma negativa, associando a internet apenas ao TikTok e ao Instagram. Portanto, implementamos o Google for Education e a Station Plus, que é uma das melhores plataformas de educação do mundo. Os alunos do ensino médio já têm acesso a Chromebooks e estamos entregando mais dispositivos, com um Chromebook para cada três alunos.

Quero que nossos professores estejam conectados com essa nova educação, preservando nossa cultura e compreensão do mundo, mas sem se desligar da realidade externa. A tecnologia deve ser utilizada com intencionalidade pedagógica, auxiliando o processo educativo. Não podemos ignorar a necessidade de conhecimento tecnológico nas escolas, pois isso nos coloca em desacordo com o que os alunos encontram fora da escola. Portanto, é fundamental preparar e qualificar nossos professores, e estamos elaborando um excelente plano de carreira para eles.

Superamos grandes dificuldades. Quando eu conto a história, parece que coloco o professor como vulnerável. O professor sofreu muito. Nos últimos anos, a educação no Tocantins pagou um preço alto. A carreira docente foi bastante desvalorizada. Quando cheguei aqui, os professores eram reconhecidos como os melhores do país, mas hoje estamos muito atrás. Portanto, a valorização da carreira é fundamental para que o professor sinta orgulho de seu trabalho.

Estamos implementando um plano de carreira que prevê um descanso de voz. Os professores com mais de 20 anos de experiência terão redução da carga horária, pois eles estão mais cansados e precisam de mais tempo para planejar e desenvolver suas atividades. Para os novos professores, estamos criando uma carreira que os estimule desde o início.

Os dados mostram que muitos professores desistem da profissão logo nos primeiros anos devido a dificuldades. Precisamos de uma carreira mais atrativa para que eles não abandonem a escola. Após se firmarem, é mais provável que permaneçam até o final de sua carreira. Portanto, nosso plano de carreira visa tornar o início da profissão mais atraente.

Quero deixar um legado de uma educação muito melhor. Não queremos ser lembrados como aqueles que pagaram dívidas ou realizaram ajustes; desejamos ser lembrados como os responsáveis pela transformação da educação no Tocantins em uma referência nacional. Estou certo de que conseguiremos isso com tudo o que estamos fazendo. O sistema de avaliação do Tocantins já é referência em várias ações em nível nacional.

Eu quero ser lembrado como aquele que, quando era professor, questionou e lutou pela educação, e quando teve a oportunidade de ser secretário, conseguiu fazer a diferença.

E após esses dois anos e dois meses de gestão, o senhor tem alguma pretensão política? Vai voltar para Palmerópolis?

Sou muito grato ao governador Wanderlei, que olhou para os prefeitos do interior com bons resultados em suas gestões e me deu a oportunidade de ser secretário da maior pasta do Estado.

Venho de uma cidade de 8 mil habitantes, então o reflexo eleitoral é muito pequeno em comparação ao universo do Tocantins. O governador me deu uma oportunidade valiosa. Ele disse: “Fábio, você é professor, efetivo, tem mestrado e continua estudando. Você tem tudo para ser um bom representante da sua categoria.”

Sou grato ao governador Wanderlei por essa oportunidade e sou um soldado dele. Ele sempre me diz: “Fábio, você vai ficar aqui para me ajudar a eleger fulano?” E eu estou pronto. Ele diz: “Fábio, você vai disputar tal cargo?” Estou à disposição. Vou distribuir toda a confiança que recebi durante esse tempo. A educação no Tocantins está mais empoderada, e isso se deve ao governador. Como trabalhador da educação tocantinense, sou muito grato a ele. Estou pronto para ir aonde ele me escalar, seja para pedir votos ou para apoiar outro candidato.

Há algo que o senhor não mencionou que gostaria de acrescentar?

Depois de ouvir toda essa trajetória, uma questão que tem impactado muito essa relação com a escola são as visitas que temos feito. Ninguém sabe que eu vou, porque preciso ver a realidade da escola nua e crua. Sou do tempo em que, quando o delegado ia à escola, preparávamos tudo: balões, tapetes, tudo para uma boa impressão. Não quero isso. Quero ver a escola como realmente é, inclusive no banheiro que os alunos usam. Isso nos mostra a intimidade da escola.

Costumo dizer que a escola é o reflexo do diretor. Se o diretor é bom, a escola voa; se é opressor, a escola é oprimida. O clima da escola depende do humor e da postura do diretor. Consegui reunir um pouco da técnica com a política. Sou um profissional de carreira.

Um dos pontos que mais me fortalece é a minha proximidade com o governo. A força política é fundamental para fazer as coisas acontecerem. Fui responsável por aprovar um programa de governo que oferece gratificações e premiações para municípios e professores.

Tive a sorte de ter força política, o que muitos secretários não tiveram, mesmo sendo técnicos qualificados. É preciso ter relacionamentos sólidos para fazer a roda girar. E eu agradeço a Deus, pois sinto que estou aqui para ser um canal de bênçãos na vida da educação, e não para criar atrasos ou perseguir.