Instituto ligado à primeira-dama foi usado para captar emendas e encenar entregas de cestas, diz PF

03 setembro 2025 às 15h39

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As investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Fames-19, que teve a segunda fase deflagrada nesta quarta-feira, 3, apontam que o Instituto de Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (IDEGESESC), posteriormente rebatizado como Instituto de Desenvolvimento Educacional, Social e da Saúde (IDESS), funcionava sob controle direto da primeira-dama Karynne Sotero Campos e foi usado para desviar recursos públicos no Tocantins.
Segundo o relatório juntado ao processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Karynne presidiu o instituto entre 2013 e 2019, mas diálogos extraídos do celular de Paulo César Lustosa Limeira, seu ex-marido, mostram que ela mantinha as chaves, intermediava contatos políticos e ainda usava a entidade para captar emendas parlamentares. Em 2024, por exemplo, a deputada estadual Cláudia Lelis teria buscado destinar recursos ao instituto da primeira-dama, em vez de ao seu próprio, numa tentativa de aproximação com o núcleo político do governador Wanderlei Barbosa.
Simulação de entregas
Em 2021, o IDEGESESC firmou um termo de colaboração com a Secretaria de Trabalho e Assistência Social (Setas), no valor de R$ 256 mil, para fornecimento de cestas básicas. Mas, segundo a PF, a entrega foi encenada: mensagens entre Paulo César e seu irmão Wilton revelam que eles chegaram a emprestar cestas de terceiros apenas para fotografar e enganar fiscais da secretaria. Dias depois, articularam a montagem de uma lista fictícia de 1.500 nomes e CPFs para justificar a suposta distribuição do material.
A polícia destacou que o contrato foi pago em dezembro de 2021, mas as fotos da entrega só foram feitas em fevereiro de 2022. Além disso, não há registros do convênio no sistema do Tribunal de Contas do Estado (TCE-TO), apesar da obrigatoriedade legal. “A situação do IDEGESESC aparenta ser ainda mais obscura que a das demais empresas contratadas”, escreveu a autoridade policial no relatório.
Estrutura política e financeira
A PF também identificou que o instituto era usado como moeda de troca política, com parlamentares destinando emendas em troca de aproximação com a primeira-dama e o governador. Em diálogos, Paulo César e Wilton relatam que costumavam receber cerca de 10% de cada repasse apenas pela intermediação.
Relatórios de inteligência financeira confirmaram que o IDEGESESC/IDESS continuou recebendo recursos do Estado até julho de 2024, inclusive por meio da Secretaria de Esportes e Juventude, anteriormente chefiada pela própria Karynne. Até hoje, não há clareza sobre quais serviços foram efetivamente prestados.
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