O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek, no Rio Tocantins, em dezembro, que resultou na morte de 14 pessoas e no desaparecimento de três, chamou a atenção para a precariedade das pontes no Brasil e os riscos de novos acidentes. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que, atualmente, 736 pontes no Brasil estão em condições críticas ou ruins. Contudo, um estudo realizado para empresas que atuam na construção e manutenção dessas estruturas sugere que o número real de pontes em estado precário seja ainda maior, superando 11 mil.

O estudo, que compõe o Panorama Geral das Pontes Rodoviárias Brasileiras, revelou que, além das 736 pontes identificadas pelo Dnit, há um número alarmante de pontes sem inspeção regular. Das 113.168 pontes em rodovias brasileiras, apenas 12.142 foram inspecionadas, e 1.039 dessas foram classificadas como críticas ou ruins. A falta de dados sobre a situação de muitas outras pontes, que pertencem a gestões municipais e estaduais, é uma das principais preocupações dos especialistas.

Em janeiro, o Dnit já havia sido forçado a interditar a Ponte dos Índios, no Rio Pindaré, no Maranhão, após uma corrosão estrutural ser detectada. O colapso da Ponte Juscelino Kubitschek no Tocantins, contudo, tem sido o evento mais devastador, pois expôs a realidade da deterioração de muitas pontes no país.

As estatísticas sobre a situação das pontes no país são preocupantes. O estudo revelou que existem aproximadamente 42 mil pontes com mais de 50 anos, o que as coloca em uma categoria mais vulnerável a falhas estruturais. No entanto, estudos mostram que as pontes não inspecionadas podem apresentar problemas ainda mais sérios. 

A tragédia no Rio Tocantins, somada a outros casos de falhas estruturais, reforça a necessidade urgente de um planejamento mais eficaz para a manutenção dessas obras. O Dnit está discutindo a reestruturação de seu Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas, com investimentos previstos de R$ 5,83 bilhões para 816 obras, mas ainda aguarda respostas de entidades do setor sobre a capacidade de atender à demanda.

O Manifesto pela Segurança e Manutenção das Pontes Brasileiras, elaborado a partir desse estudo, sugere que sejam alocados R$ 38 bilhões por ano para garantir a reabilitação e manutenção das pontes no país. Especialistas também recomendam a atualização das normas de capacidade de carga, uma vez que muitas pontes foram construídas para suportar tráfego de 36 toneladas, enquanto os projetos atuais consideram simulações para veículos de até 45 toneladas.

A falta de planejamento detalhado e a escassez de inspeções regulares são apontadas como os principais obstáculos para garantir a segurança das pontes. Rafael Timerman, vice-presidente da Associação Brasileira de Patologia das Construções, afirmou que, apesar das inspeções periódicas realizadas pelo Dnit, o estado geral das pontes é desconhecido, o que agrava o risco de falhas.

Panorama das pontes brasileiras


Das 113.168 pontes no Brasil, apenas 12.142 foram inspecionadas, e 14.874 estão inventariadas.Enquanto o Dnit aponta 736 pontes em condições críticas ou ruins, o estudo estima que esse número seja de 11 mil. Há cerca de 5,5 mil pontes com mais de 50 anos, e a estimativa é que o total de pontes com essa idade seja de 42 mil. O Dnit prevê um investimento de R$ 5,83 bilhões para reabilitar 816 pontes em condições precárias.