O concurso fotográfico “O Brasil em Preto e Branco: Imagens de Negros e Negras no Tocantins” destacou a diversidade e a riqueza cultural da comunidade negra do estado como parte da Semana da Consciência Negra: História, Territórios e Identidades Negras no Tocantins, evento de extensão universitária realizado no câmpus de Porto Nacional da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Organizada pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab), sob coordenação do professor Adelci Santos, a programação trouxe uma série de atividades interdisciplinares voltadas para a valorização da memória e das contribuições da população negra. O evento proporcionou um espaço de reflexão crítica e imersão cultural, resgatando identidades e histórias ancestrais do Tocantins.

Com 29 fotografias inscritas e participação estimada entre 12 a 15 fotógrafos, o concurso fotográfico chamou a atenção pelo olhar sensível dos participantes ao retratar a vida, a luta e a resistência do povo negro tocantinense. A seleção foi realizada por uma comissão formada pelos professores Marcelo Rodrigues, Mirian Tesserolli e Vera Lúcia Manduca, além do coordenador do Neab. Entre os critérios avaliados estavam a qualidade das imagens e a não utilização de edições digitais como o Photoshop.

O primeiro lugar do concurso ficou com “Força Ancestral”, de Emilly Vitória Moreira de Souza, o segundo lugar com “Quebradeira de Babaçu”, de Jaline Mikelly de Souza Silva, e o terceiro lugar com “Terra e Ancestralidade”, de Jussara Santos Carvalho. Jussara Carvalho, autora da terceira colocação, emocionou ao explicar a origem de sua fotografia, que retrata seu pai: “Além de ter um significado especial para mim, por ser a foto do meu pai, o significado dele está em capturar a essência da simplicidade do trabalho na roça, o carinho pela criação, a sabedoria de um povo forte, trabalhador, que superou muito preconceito na vida e que viveu com humildade. E acredito que também todos que, assim como ele, vivem ou viveram com esse mesmo propósito, têm essa conexão com a terra, com os animais”, afirmou.

“Terra e Ancestralidade”, por Jussara Santos Carvalho

O evento contou com mesas-redondas, palestras, apresentações culturais, como capoeira e dança suça, e uma oficina de tranças, além do lançamento de livros. As atividades também transcenderam os limites do câmpus, proporcionando experiências extracampo, como visitas ao Centro Histórico de Natividade, às ourivesarias artesanais que preservam técnicas ancestrais, e ao Sítio Jacuba, local que abriga a Casa da Mãe Romana, referência cultural e religiosa no Tocantins. 

Para o professor Adelci Santos, a Semana da Consciência Negra cumpre um papel essencial ao destacar as desigualdades sociais e promover a luta pela inclusão. “A consciência humana não é suficiente, pois ela constroi a diferença. O índio difere do branco, o negro difere do índio, o pobre difere do rico. Ao controlar as diferenças, você cria desigualdades. A consciência negra surge para combater essas desigualdades, batalhar por mais inclusão, reconhecimento e visibilidade, afinal, a herança negra foi escravizada de forma cruel por um povo específico por quase quatrocentos anos.”, destacou o professor. 

Adelci ainda ressaltou a importância de discutir o tema em espaços acadêmicos, especialmente com um público que muitas vezes não tem acesso a essas informações, “essa reflexão é fundamental para que não continuemos repetindo as mesmas histórias indefinidamente”, completou.