O Dia Mundial do Gato é comemorado nesta segunda-feira, 17 de fevereiro. A data busca destacar a importância dos felinos e incentivar a conscientização sobre seus cuidados. O ancestral do gato doméstico (Felis catus) é o Felis silvestris lybica, felino selvagem ainda existente. Os primeiros gatos foram domesticados há cerca de 10 mil anos, quando começaram a caçar ratos em plantações agrícolas.

Os humanos incentivaram a presença dos gatos devido ao controle de pragas, o que levou à domesticação da espécie. Hoje em dia, é como se os bichinhos fizessem parte da família dos brasileiros, recebendo nomes, sobrenomes e até mesmo vestimentas. Para comemorar o dia dos felinos, o Jornal Opção selecionou os 10 dos mais belos poemas sobre gatos da história.

População de gatos no mundo

Estima-se que existam cerca de 500 milhões de gatos no mundo, sendo 27 milhões no Brasil. Dependendo da federação de felinos consultada, há entre 45 e 73 raças de gatos reconhecidas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há cerca de 10 milhões de gatos em situação de rua.

10 poemas sobre gatos

Neil Gaiman

Os gatos não têm nomes – respondeu.
Não? – perguntou Coraline.
Não – respondeu o gato. – Já vocês, pessoas, têm nomes. É por isso que não sabem quem são. Nós sabemos quem somos e por isso não precisamos de nomes.

Charles Baudelaire

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.
Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeca, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

Poema de T. S. Eliot

Dar nome aos gatos é assunto complicado,
Não é apenas um jogo que divirta adolescentes;
Podem pensar, à primeira vista, que sou doido desvairado
Quando eu digo, um gato deve ter TRÊS NOMES DIFERENTES.

Primeiro, temos o nome que a família usa diariamente,
Como Pedro, Augusto, Alonso ou Zé Maria,
Como Vitor ou Jonas, Jorge ou Gui Clemente –
Todos nomes sensíveis para o dia-a-dia.

Há nomes mais requintados se pensam que podem soar melhor,
Alguns para os cavalheiros, outros para titia:
Como Platão, Demetrius, Electra ou Eleonor –
Mas todos eles são sensíveis nomes de todo dia.

Mas eu digo, um gato precisa ter um nome que é particular,
Um nome que lhe é peculiar, e que muito o dignifica,

De outro modo, como poderia manter sua cauda perpendicular,
Ou espreguiçar os bigodes, orgulhar-se de sua estica?
Dos nomes deste tipo, posso oferecer um quórum,
Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopato,
Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum –

Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas, acima e para além, ainda existe um nome a suprir,
E este é o nome que você jamais cogitaria;

O nome que nenhuma investigação humana pode descobrir –
Mas O GATO E SOMENTE ELE SABE, e nunca o confessaria.

Se um gato for surpreendido com um olhar de meditação,
A razão, eu lhe digo, é sempre a mesma que o consome:
Sua mente está engajada em uma rápida contemplação
De lembrar, de lembrar, de lembrar qual é o seu nome:
Seu inefável afável
Inefavefável

Oculto, inescrutável e singular Nome.

Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra

Pablo Neruda

Ode ao gato
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa
de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogara as moedas da noite

Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na imterpérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundissimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insignia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
díscipulos ou amigos
do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalcullável,
a botânica,
o gineceu com os seus extrávios,
o pôr e o mesnos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos tem números de ouro.

Jacques Prévert

O gato e o pássaro
Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro pára de cantar
O gato pára de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Maravilhosos funerais
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Que você teria sofrido menos
Sentiria apenas tristeza e saudades

Não se deve deixar as coisas pela metade.

Cassiano Ricardo

O gato tranqüilo
Ei-lo, quieto, a cismar, como em grave sigilo,
vendo tudo através a cor verde dos olhos,
onça que não cresceu, hoje é um gato tranqüilo.
A sua vida é um “manso lago”, sem escolhos…
Não ama a lua, nem telhado a velho estilo.
De uma rica almofada entre os suaves refolhos,
prefere ronronar, em gracioso cochilo,
vendo tudo através a cor verde dos olhos.

Poderia ser mau, fosforescente espanto,
pequenino terror dos pássaros; no entanto,
se fez um professor de silêncio e virtude.

Gato que sonha assim, se algum dia o entenderdes,
vereis quanto é feliz uma alma que se ilude,
e olha a vida através a cor de uns olhos verdes.

Orides Fontela

Na casa
inefavelmente
circulam olhos
de ouro
vibre (em ouro) a
volúpia
o escuro tenso
vulto do deus sutil
indecifrado

na casa
o imperecível mito
se aconchega

quente (macio) ei-lo
em nossos braços:
visitante de um tempo sacro (ou de um não tempo).

Bocage

Os dois gatos
Dois bichanos se encontraram
Sobre uma trapeira um dia:
(Creio que não foi no tempo
Da amorosa gritaria).
De um deles todo o conchego
Era dormir no borralho;
O outro em leito de senhora
Tinha mimoso agasalho.

Ao primeiro o dono humilde
Espinhas apenas dava;
Com esquisitos manjares
O segundo se engordava.

Miou, e lambeu-o aquele
Por o ver da sua casta;
Eis que o brutinho orgulhoso
De si com desdém o afasta.

Aguda unha vibrando
Lhe diz: ”Gato vil e pobre,
Tens semelhante ousadia
Comigo, opulento, e nobre?

Cuidas que sou como tu?
Asneirão, quanto te enganas!
Entendes que me sustento
De espinhas, ou barbatanas?

Logro tudo o que desejo,
Dão-me de comer na mão;
Tu lazeras, e dormimos
Eu na cama, e tu no chão.

Poderás dizer-me a isto
Que nunca te conheci;
Mas para ver que não minto
Basta-me olhar para ti.”

”Ui! (responde-lhe o gatorro,
Mostrando um ar de estranheza)
És mais que eu? Que distinção
Pôs em nós a Natureza?

Tens mais valor? Eis aqui
A ocasião de o provar.”
”Nada (acode o cavalheiro)
Eu não costumo brigar.”

”Então (torna-lhe enfadado
O nosso vilão ruim)
Se tu não és mais valente,
Em que és sup’rior a mim?

Tu não mias?” – ”Mio.” – ”E sentes
Gosto em pilhar algum rato?”
”Sim.” – Eo comes?” – ”Oh! Se como!…”
”Logo não passa de um gato.

Abate, pois, esse orgulho,
Intratável criatura:
Não tens mais nobreza que eu;
O que tens é mais ventura.”

Vasco Graça Moura

A sombra, o gato
vejo atrás dos vidros
no jardim o gato
siamês que passa
entre os girassóis
na mesa da sala
há mais girassóis
num pote azul
de faiança,

às cinco da tarde
a janela,
a porta,
estão fechadas, mas

agora o gato
vai passar na penumbra,
entre os girassóis
e a parede.

é uma sombra
rapidamente
imaginada
sobre a mesa,

que fita em ponto,
de olhos límpidos,
e percebe o jogo
de espaços e que

já regressou ágil
de salto felino
ao corpo do gato
repentino lá fora.

Fernando Pessoa

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.