Delvânia Campelo morre após 21 dias internada; caso é reclassificado como feminicídio

12 abril 2025 às 08h17

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A assistente social Delvânia Campelo da Silva, de 50 anos, teve a morte encefálica confirmada às 14h40 desta sexta-feira (11), após permanecer 21 dias internada em estado grave no Hospital Geral de Palmas (HGP). Ela não resistiu aos ferimentos causados por uma tentativa de feminicídio ocorrida em Caseara, na região oeste do Tocantins.
Delvânia foi agredida no dia 22 de março, em uma propriedade rural, e desde então estava na UTI. Segundo a Polícia Civil, o autor do crime é o ex-vice-prefeito de Caseara, Gilman Rodrigues da Silva, de 47 anos.
De acordo com o inquérito, a motivação teria sido ciúmes e atitudes possessivas. O agressor teria utilizado o cabo de um rodo para atingir a vítima, principalmente na região da nuca, provocando ferimentos graves que a deixaram inconsciente.
Durante o ataque, Delvânia conseguiu enviar mensagens de áudio e imagens em um grupo de WhatsApp pedindo ajuda. O suspeito, na sequência, também enviou mensagens tentando minimizar a situação e impedir a ação de terceiros.
Gilman fugiu após o crime e se apresentou à polícia três dias depois, na cidade de Paraíso do Tocantins, acompanhado de advogado. Em depoimento, alegou legítima defesa — versão que, segundo a polícia, não se sustenta diante das evidências. Diante da gravidade do caso e do histórico de violência, a Justiça decretou sua prisão preventiva. Ele permanece detido na Unidade Penal de Paraíso.

Com a confirmação da morte encefálica, o caso, inicialmente tratado como tentativa de feminicídio, passou a ser investigado como feminicídio consumado.
Doação de órgãos
A família de Delvânia autorizou a doação de órgãos, decisão que, segundo os parentes, reflete a trajetória da assistente social, conhecida pelo trabalho em defesa de causas sociais e pelo cuidado com o próximo. O processo de captação pode durar até 36 horas e informações sobre o velório serão divulgadas posteriormente.
Autoridades lamentam
O caso de Delvânica repercutiu no Tocantins e contou com manifestações de amigos e familiares tanto em eventos oficiais, como a inauguração da Casa da Mulher Brasileira, em Palmas, quanto nas redes sociais. Confira abaixo as notas de pesar oficiais publicadas:
Secretaria de Estado da Mulher
É com imenso pesar que a Secretaria de Estado da Mulher recebe a notícia do falecimento de Delvânia Campelo da Silva, de 50 anos, vítima de uma brutal tentativa de feminicídio ocorrida no município de Caseara, no dia 22 de março.
Delvânia estava internada em estado grave na UTI do Hospital Geral de Palmas (HGP), após sofrer espancamentos violentos que resultaram em múltiplas fraturas na cabeça. Nesta sexta-feira, 11, infelizmente, sua luta chegou ao fim.
Delvânia não é estatística. É grito sufocado, é urgência, é memória viva da brutalidade que precisa parar. Seu nome agora ecoa como um chamado à Justiça e à responsabilidade coletiva de proteger cada mulher deste estado.
A Secretaria da Mulher lamenta profundamente esta perda e se solidariza com os familiares, amigos e toda a sociedade tocantinense que se comoveu com o caso. O feminicídio é a expressão mais cruel da desigualdade de gênero e reforça a urgência de ações efetivas de combate à violência contra a mulher em todas as suas formas.
Deputada estadual Vanda Monteiro
É com profundo pesar e indignação que nos despedimos de Delvania Campelo, moradora de Caseara. Del, era uma mulher guerreira, e infelizmente foi mais vítima da cruel e persistente violência contra a mulher. Delvania foi brutalmente espancada por seu ex-parceiro, enfrentou com coragem a dura batalha pela vida, mas agora descansa nos braços do Pai.
Neste momento de dor, nos solidarizamos com os familiares e amigos, oferecendo nossas mais sinceras condolências.
Reafirmamos nosso compromisso de lutar por justiça, por Delvania e por todas as mulheres vítimas da violência no Tocantins. Que sua partida não seja em vão e que sua memória inspire a mudança urgente que nossa sociedade tanto precisa.
Deputado federal Ricardo Ayres
O falecimento de Delvânia causa revolta. Uma mulher vítima do machismo enraizado, vítima de uma violência brutal, que lutou bravamente por sua vida após ser espancada por seu então namorado — agora assassino. Sua partida nos causa dor e, acima de tudo, reforça a urgência de combater a violência contra a mulher com firmeza, celeridade e justiça.
Delvânia não foi apenas mais um número nas estatísticas. Era filha, amiga, cidadã, e teve sua dignidade e seu direito à vida violados. Que sua memória sirva como um chamado à responsabilidade de todos nós — do poder público, da sociedade e das instituições — para garantir que nenhuma mulher seja silenciada, agredida ou esquecida.
Senador Eduardo Gomes
Com pesar lamento o falecimento de Delvânia Campelo da Silva, vítima de uma tentativa de feminicídio. Externo meus sentimentos aos familiares e amigos.
Sua partida levanta reflexão e demonstra a necessidade de combate a todos os tipos de violência contra as mulheres e ao feminicídio. Reafirmo meu compromisso com essa luta que deve ser de toda sociedade e órgãos.
Governador Wanderlei Barbosa
Com imensa tristeza, recebi a notícia do falecimento de Delvânia Campelo da Silva, na noite desta sexta-feira, 11. Vítima de feminicídio, Delvânia parte precocemente aos 50 anos, deixando não apenas as lembranças da mulher forte que era, mas também a urgente necessidade de agirmos com ainda mais firmeza pela segurança das mulheres tocantinenses.
Desde o início deste caso brutal, determinei todas as providências, tanto por parte da equipe multidisciplinar que a atendeu no Hospital Geral de Palmas, como da Polícia Civil para a apuração do crime e punição do culpado por parte da Justiça.