O ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse (Agir), rompeu o silêncio e fez duras acusações contra o deputado federal Toinho Andrade (Republicanos), a quem responsabiliza por uma suposta articulação política que resultou em seu afastamento e na tentativa de impeachment. Em uma entrevista recente a uma emissora de televisão, Carlesse afirmou que Andrade foi “o verdadeiro traidor” em meio à crise política que culminou com sua renúncia ao cargo.

O ex-governador foi solto no dia 19 de fevereiro após mais de dois meses de prisão preventiva, investigado por corrupção e suspeita de planejar uma fuga para o exterior. Ele obteve liberdade provisória por decisão, que impôs medidas cautelares, como comparecimento bimestral à Justiça e proibição de deixar o país. Carlesse alega ser vítima de perseguição política e afirma confiar na justiça. As investigações incluem suspeitas de fraudes em licitações, propinas no plano de saúde dos servidores e favorecimento na Polícia Civil. Ele nega todas as acusações e afirma que sua prisão foi injusta.

Carlesse negou categoricamente qualquer plano de fuga e classificou a acusação como uma “grande mentira”. Ele afirmou que nunca teve intenção de sair do país para escapar da Justiça, alegando que não há condenações contra ele e que sempre esteve disponível para responder aos processos.

O ex-governador explicou que possui cidadania italiana e que sua família costumava alugar uma casa na Itália para passar férias, mas que isso foi distorcido para justificar sua prisão. Sobre o Uruguai, ele afirmou que buscava abrir empresas e contas bancárias no país, algo que considera um procedimento normal para empresários.

Carlesse também criticou a forma como a investigação foi conduzida, alegando que usaram diálogos antigos e fora de contexto para embasar a prisão. Ele destacou que as supostas provas foram anuladas e sugeriu que a acusação foi motivada por perseguição política.

Durante a conversa, Carlesse relatou os momentos de angústia que viveu ao ser preso preventivamente, medida posteriormente revogada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele classificou sua detenção novamente como “um abuso de poder” e criticou a falta de transparência nos processos movidos contra ele. Segundo o ex-governador, até hoje ele não teve acesso a documentação completa para apresentar sua defesa.

“Foram três pedidos para o juiz enviar as provas, e até agora nada. A verdade é que me afastaram sem uma acusação formal concreta, baseando-se em narrativas”, declarou.

“Toinho Andrade liderou a traição”

Ao comentar a reviravolta na Assembleia Legislativa, Carlesse não poupou críticas a Toinho Andrade, então presidente da Casa, que teria articulado sua destituição. O ex-governador afirmou que, antes de seu afastamento, teve uma reunião com Andrade, onde pediu que aguardasse a apresentação formal das acusações antes de tomar qualquer decisão. No entanto, segundo ele, o deputado não apenas ignorou seu pedido como também impulsionou o pedido de impeachment.

“Esse sim foi o traidor. Duas vezes eu o apoiei para a presidência da Assembleia, e no momento em que eu mais precisava, ele virou as costas e puxou o tapete. Se ele quiser me processar, que processe, mas a verdade precisa ser dita”, desabafou Carlesse.

Segundo Carlesse, sua última conversa com Wanderlei Barbosa foi no dia do seu afastamento, quando o atual governador prometeu dar continuidade ao projeto de governo. No entanto, após assumir, Wanderlei nunca mais entrou em contato com ele.

Carlesse também criticou a substituição imediata de todo o secretariado após seu afastamento, classificando a atitude como uma movimentação política que influenciou os deputados estaduais a mudarem de lado. Ele sugeriu que essa reestruturação teve como objetivo consolidar o novo governo e afastar aliados de sua gestão.

“Fui um bom governador”

Apesar das polêmicas, Carlesse defendeu sua gestão e disse ter deixado o Estado equilibrado, com melhorias na infraestrutura, educação e segurança pública. Ele também acusou um “grupo” de atuar contra sua administração desde 2018.

“Colocaram adversários dentro do governo, mudaram completamente a equipe que construiu um Tocantins mais forte. Essa perseguição é porque fizemos o que precisava ser feito”, afirmou.

Futuro político

Questionado sobre suas pretensões futuras, Carlesse se mostrou cauteloso, mas indicou que pode voltar à política. “Não estou fugindo de nada. Quero percorrer o estado, conversar com as pessoas e esclarecer o que aconteceu. O futuro, só Deus sabe”, disse.

Toinho Andrade ainda não se pronunciou sobre as acusações feitas pelo ex-governador. O espaço no Jornal Opção Tocantins continua aberto.