Facção criminosa usava aplicativos de geolocalização para fugir da polícia e cometer homicídios, diz delegado
03 setembro 2024 às 15h29
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Em entrevista coletiva na Delegacia-geral de Polícia Civil em Palmas, o secretário da Segurança Pública do Tocantins, Wlademir Mota Oliveira, o delegado-geral Claudemir Luiz Ferreira e o delegado adjunto da 1ª Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP – Palmas) Eduardo Menezes, forneceram detalhes sobre a 4ª fase da Operação Gotham City. Na manhã desta terça-feira, 3, foram cumpridos 13 mandados de prisão preventiva no Jardim Aureny IV e na Unidade Penal de Palmas. Os alvos eram 13 indivíduos supostamente ligados a uma organização criminosa de origem carioca, investigados por envolvimento em homicídios ocorridos em Palmas no primeiro semestre de 2023.
Os 13 alvos desta fase da operação são suspeitos de envolvimento na morte de Ayrton Evangelista de Araújo, motoboy assassinado em 8 de maio após uma emboscada em seu local de trabalho, uma pizzaria no plano diretor sul de Palmas. “Durante a investigação descobrimos que o monitoramento dos passos da vítima começou ainda na pizzaria. Quatro ‘soldados’ da facção rival a de Ayrton chegaram ao estabelecimento e, passando-se por clientes, chegaram a comprar uma pizza para confirmar a presença do motoboy no local. Depois do fim do expediente, Ayrton é seguido pelos marginais a caminho de casa e se torna alvo de uma tocaia”, afirmou o delegado Eduardo Menezes.
Entre os suspeitos, J.V.M.A. e L.G.J.L. teriam verificado se o motoboy estava trabalhando, enquanto M.S.S. e R.W.C.S., em uma motocicleta, seguiram a vítima após o expediente, sendo M.S.S. o responsável pelos disparos que levaram Ayrton a óbito. M.S.S. foi morto em 15 de setembro do ano passado em Gurupi por membros de uma facção rival, após escapar do Centro de Internação Provisória da Região Sul (CEIP/SUL), onde cumpria medida socioeducativa.
Outros dez suspeitos foram identificados como envolvidos no crime, entre eles G.G.J.B., D.R.S., P.H.M.G., J.L.C., J.R.S.N., A.S.S., T.R.S., H.H.S.N., W.O.C. (conhecido como Luxúria) e L.F.M.G. (conhecido como Beira Lago). Os dois últimos são apontados como líderes da facção e responsáveis por ordenar o crime e fornecer armas para a execução. Os demais teriam identificado Ayrton como o responsável pelo homicídio de Leonardo Gomes Zapani, membro da facção carioca, ocorrido também em 8 de maio no Jardim Aureny I, levando à decisão de matar Ayrton.
“Eles se mobilizaram para identificar quem foi o autor e aí eles identificaram que um dos suspeitos era o Ayrton. Começaram, então, a se comportar como se fossem investigadores, recorrendo a câmeras de segurança, pegando informações com pessoas. Até a análise do local do crime eles foram fazer. Diante do que colheram, decretaram a morte do Ayrton, consumando o crime na noite do mesmo dia”, explicou o delegado Eduardo.
Participação de líderes faccionados e outros crimes
As investigações revelaram que mais de 90 homicídios ocorreram em Palmas no primeiro semestre de 2023, a maioria decorrente da disputa entre duas facções de renome nacional. A onda de crimes teria sido desencadeada após Dad Charada, ex-membro de uma facção goiana, se aliar a uma organização carioca, o que gerou uma série de assassinatos. Luxúria, um dos líderes da facção carioca, teria apoiado a mudança de aliança de Dad Charada e financiado a violência com recursos provenientes do tráfico de drogas, de acordo com o delegado.
“Luxúria é a grande liderança responsável por financiar a guerra com o dinheiro oriundo da venda de drogas que ele gerenciava no Mato Grosso e aqui no Tocantins. Ele alimentava os soldados com muitas armas e munições”, ressaltou o delegado. Luxúria está atualmente preso na Unidade Penal de Palmas.
A investigação também identificou dois grupos de mensagens utilizados pela facção para coordenar homicídios, celebrar os crimes e desrespeitar as vítimas. “Estamos há oito meses analisando, ininterruptamente, dois grupos de whatsapp criados pela facção carioca, no qual planejavam os homicídios. Essa análise nos permitiu ver como eles agiam nesses crimes. Os “soldados” eram orientados a baixar aplicativos de geolocalização porque alguns aplicativos mostram onde viaturas estão posicionadas. Eles estavam focados em cometer o maior número de homicídios possível. Com total desrespeito à vida humana, eles faziam questão de postar vídeos nas redes sociais em perfis fakes criados por eles”, disse o delegado.
“O empenho dos policiais civis que atuam tanto na DHPP quanto na inteligência nos possibilitou dar uma resposta à sociedade. As lideranças foram presas, os números foram caindo ao ponto de não registrarmos nenhum homicídio em Palmas no mês de janeiro. Nossa Capital vive um momento bem diferente. Esse ano foram 25 homicídios, apenas seis ligados à disputa de poder de facção. Ano passado, só em maio foram 25 homicídios. Isso mostra que a população pode confiar no trabalho da Polícia Civil, que está preparada para investigar os casos e levar os culpados à Justiça”, afirmou o secretário Wlademir Mota Oliveira.
Outras vítimas de homicídios
Além de Ayrton, foram mencionadas outras 20 vítimas de homicídios durante a coletiva, cujos autores estão sendo identificados ao longo das investigações. As vítimas são: Pedro Duarte e Silva, Kauã Vinícius Lobo Rodrigues, Marcos Douglas Gomes Freitas, Marcos Vitor Elias Ribeiro, Wender Carvalho Borges, Victor Gabriel Alves Saraiva dos Santos, Clevis Passos Nunes, Artur Uchôa de Matos, Wewerton Rodrigues Lima, Geferson Rodrigues Lima, Aladione Araújo, Jardel Rodrigues Pereira, Ikaro Felipe Santos de Sousa, Ricardo Barra Guimarães, Wesley Dias Carvalho, Evaldo Rodrigues de Freitas Neto, Diuliam Marinho Fernandes, Ronildo Alves Dias, Carlos André Costa Martins e Leandro Ribeiro Nogueira.