Júlio Resplande recebe homenagem da DPE e da família com lançamento de biografia em Palmas
28 novembro 2023 às 09h38
COMPARTILHAR
Nascido em Tocantinópolis, então norte de Goiás, em 1940, filho de família humilde, o hoje desembargador aposentado Júlio Resplande de Araújo deixou a toga para atender um chamado do então governador Moisés Avelino (MDB), que assumia o segundo governo do Tocantins, 1991. Veio ser secretário de Justiça e Segurança Pública. Colocou todo seu conhecimento de magistrado à disposição de sua terra natal, já que o norte de Goiás foi transformado em Estado do Tocantins.
Por tantos serviços prestados, como magistrado, secretário e depois tendo sido eleito deputado estadual, Júlio Resplande tem o respeito de toda a classe jurídica do Tocantins. Foi apoiador de primeira hora da Defensoria Pública do Tocantins (DPE) e por isso deve ser homenageado no dia 4 de dezembro. E a família aproveitou a homenagem para lançar a biografia dele, construída a quatro mãos pela filha dele, a poetisa Chris Resplande e pelo jornalista, poeta e crítico literário Luiz de Aquino.
O lançamento está marcado para 4 de dezembro, a partir das 10 horas da manhã, no auditório da sede da Defensoria Pública do Tocantins. Uma oportunidade de conhecer ou rever um personagem que fez história e tem um grande legado para o mais novo Estado da Federação.
Leia abaixo o texto de Chris Resplande escrito especialmente para o Jornal Opção, já que em Goiás o lançamento da biografia será no dia 1º de dezembro, na sede do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, onde atuou como juiz e desembargador.
Júlio Resplande, desembargador e deputado: um homem-humanista forjado dentro da lei
Por Chris Resplande
Especial para o Jornal Opção
“A vida de um homem é sempre maior que a sua biografia. Há nuances, há caminhos, há equívocos e angústias a que só o próprio biografado tem acesso. E há uma auréola de difícil captação e quase impossível transposição para uma narrativa”, diz o poeta e desembargador Itaney Campos no início do prefácio ao livro “Júlio Resplande de Araújo — Uma Biografia”, cuja autoria partilho com o jornalista, crítico literário e poeta Luiz de Aquino e que será lançada na sexta-feira, 1º de dezembro, às 16h, no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Trata-se de uma homenagem da família ao menino que veio do antigo Norte goiano e fez-se um desembargador em Goiás, deputado e secretário de Estado no Tocantins. Mas, sobretudo, é uma justa celebração à vida do grande humanista Júlio Resplande — de quem tenho a honra de ser filha.
O biografado nasceu em 1940, em Tocantinópolis, hoje Estado do Tocantins, uma cidade que era um amontoado de casebres à beira do Rio Tocantins, na divisa com o Estado do Maranhão. De origem pobre, pais analfabetos, viveu uma saga até se formar em Direito na capital de Goiás, Goiânia, onde chegou aos 18 anos, apenas com o ensino fundamental concluído. Talvez por isso tenha tão arraigado o senso do dever e do trabalho. São também sagrados a fé, a família e a solidariedade com os necessitados.
Em sua época de magistrado, não existiam as Varas de Assistência Judiciária, nem as Defensorias Públicas. Sabedor da dificuldade que o pobre enfrenta, incentivava advogados a assumirem suas causas gratuitamente. Aos domingos, após a missa, levava a Eucaristia à casa de enfermos e não raro ia à cadeia pública visitar os detentos. Conversava com cada um, checava como estavam e as condições de higiene, o que me remonta à passagem do Evangelho “tive fome e me destes de comer, estive preso e me visitastes”.
Sua biografia não é a de um santo e sua trajetória, como a de todos, contém atribulações, falhas e fraquezas. Mas o que a torna tão especial são as atitudes do homem público nas relações em sociedade, como bem conta o advogado Antônio Lucas Neto, em seu depoimento para o livro: “Com uma simplicidade franciscana, muito conhecimento jurídico e vasto senso de pragmatismo, Júlio Resplande de Araújo inaugurou um estilo diferenciado de atuação do Poder Judiciário” — referindo-se à sua passagem como juiz em Rio Verde.
Confirma o juiz de Direito Epaminondas Miranda da Rocha: “Sobressaiu-se em razão do elevado saber jurídico que sempre possuiu, elevado senso de Justiça, disposição imensurável para o trabalho, firmeza na prática e execução de seus atos, somados à sua simplicidade, seu humanismo no trato de seus jurisdicionados, principalmente para com aqueles menos favorecidos e, finalmente, por sua religiosidade”.
Criado o Estado do Tocantins em 1988 pela Constituição Cidadã — que este ano completa 35 anos —, o desembargador Júlio Resplande, aos 51 anos de idade, aposentou-se e a convite do então governador do Tocantins, Moisés Avelino, foi ocupar o espinhoso cargo de secretário de Segurança Pública daquele Estado. Reestruturou e modernizou todo o modelo de segurança pública então existente, mesmo enfrentando os mais difíceis desafios.
Atuou no Legislativo estadual, elegendo-se deputado em 1998. “Com a sua admirável oratória, sua capacidade de argumentação e sua grande experiência de vida, trouxe debates importantes para a Assembleia Legislativa, em várias áreas”, conta a então deputada Josi Nunes, que, ao lado do deputado Júlio Resplande, compunha toda a oposição ao governo, que contava com 22 deputados aliados em uma Casa com 24 parlamentares.
Ele foi também secretário de Estado da Cidadania e Justiça. Recriou as Coordenadorias de Direitos Humanos e de Sistema Penitenciário, as Superintendências de Defensoria Pública e de Direitos do Consumidor. Sempre profundamente sensibilizado com a causa dos menos favorecidos, um de seus feitos – e grande orgulho – foi o trabalho em favor da Defensoria Pública do Estado do Tocantins; seu empenho em sua estruturação e autonomia administrativa. Note-se que tudo isso bem antes da instalação da primeira Defensoria em Goiás.
Na construção desta narrativa biográfica, retratos do desembargador Júlio Resplande são desenhados por amigos de infância, por colegas da magistratura, antigos colaboradores e amigos. Depoimentos que formam um belo esboço de sua personalidade magnânima e idealista.
Nos últimos anos, percebendo a fragilidade da idade e da memória, impôs-se um autoexílio e mesmo na enfermidade se mantém sereno, tranquilo e sem súplicas. Ele fez de sua vida o que sempre mencionava nos seus discursos, citando São Paulo: combateu sempre o bom combate.
Celebremos! Sua bênção, meu pai!
Chris Resplande é poeta.