O alerta estava documentado desde 2020: vibrações excessivas, rebaixamento no vão central e condição estrutural “precária”. Mesmo assim, nenhuma reforma foi feita. Quatro anos depois, em 22 de dezembro de 2024, a ponte Juscelino Kubitschek, que ligava Aguiarnópolis (TO) a Estreito (MA), desabou, matando 14 pessoas.

Sete meses após a tragédia, um laudo da Polícia Federal confirma o que os relatórios já indicavam: o colapso foi causado pela deformação do vão central, agravada pelo excesso de peso de caminhões. O documento também aponta omissão de autoridades responsáveis pela manutenção da ponte. A investigação segue em curso, com a possibilidade de responsabilização criminal por negligência.

Construída na década de 1960, a ponte foi uma das primeiras do país a utilizar concreto protendido para vencer grandes vãos. Porém, nunca passou por uma reestruturação completa, apesar do aumento do fluxo e do peso dos veículos ao longo dos anos. A última grande intervenção ocorreu entre 1998 e 2000.

Durante as investigações, peritos da PF usaram drones, escâneres 3D e modelagem digital para reconstruir os segundos finais antes do colapso. A queda levou apenas 15 segundos; o vão central despencou em menos de um. Uma das conclusões foi que o reforço lateral instalado décadas atrás se desprendeu com facilidade, comparado a uma “fita crepe”.

O DNIT havia tentado licitar uma reforma em 2024, mas nenhuma empresa se interessou e uma nova licitação seria aberta em breve, tarde demais. No mesmo ano, o superintendente do DNIT no Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira, foi exonerado. Em nota, ele afirmou que ficou no cargo por pouco mais de um ano e nega ter responsabilidade pela tragédia. O órgão disse que o caso está sendo avaliado pela corregedoria.

O delegado da PF Allan Reis de Almeida afirmou que “era um risco conhecido, plausível e evitável”. O inquérito agora se concentra na apuração da responsabilidade técnica e administrativa.

A tragédia comoveu o país na véspera de Natal e de dezoito pessoas caíram no rio Tocantins; apenas uma sobreviveu. Após a tragédia, os escombros foram implodidos em fevereiro de 2025. Uma nova ponte está em construção no mesmo local, com estrutura maior: 630 metros de extensão e um vão central de 154 metros. A obra, estimada em R$ 171 milhões, deve ser entregue até o fim do ano. Enquanto isso, a travessia entre os estados é feita por balsas, com filas que se estendem por horas.

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