Mais de três meses após o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira (Ponte JK), entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), as empresas contratadas para executar e supervisionar a obra — Matera Engenharia Ltda. e Nova Engevix Engenharia e Projetos S.A. — seguem sem responder aos ofícios enviados pelo Ministério Público Federal (MPF). A omissão ocorre mesmo diante de evidências de falhas sérias na inspeção da estrutura, que colapsou em 22 de dezembro de 2024, deixando 17 mortos.

Até o momento, o MPF não obteve qualquer resposta formal das empresas aos questionamentos enviados após o colapso. Conforme apurado, os ofícios pedem esclarecimentos sobre as etapas de execução e supervisão das obras realizadas no trecho da ponte que desabou, incluindo relatórios técnicos, cronograma de serviços e registros fotográficos das intervenções.

O inquérito civil instaurado pelo órgão também requisitou ao DNIT a íntegra do contrato firmado com a Matera Engenharia, bem como os termos aditivos, fiscalizações realizadas e documentos produzidos pela Nova Engevix durante a supervisão dos trabalhos. A omissão das empresas tem sido registrada nos autos como pendência para a continuidade das diligências.

Procuradas pela reportagem, Matera e Nova Engevix não responderam até a publicação desta matéria.

Segundo despacho recente do MPF, a última vistoria da ponte antes da tragédia foi realizada de forma “visual e superficial” pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sem o uso de equipamentos técnicos nem coleta de amostras dos materiais utilizados. A justificativa do órgão foi a ausência de recursos para executar ensaios de verificação de qualidade.

A ponte havia passado por obras de manutenção no âmbito do Programa de Manutenção da Malha Rodoviária Federal. A execução ficou a cargo da Matera Engenharia, com supervisão da Nova Engevix, e a entrega definitiva ocorreu em 18 de outubro — apenas dois meses antes do desabamento.

O MPF apura responsabilidade técnica pelas falhas que antecederam o colapso, além de danos ambientais provocados pela queda de veículos com carga tóxica no Rio Tocantins. Enquanto a investigação avança, a ausência de resposta das duas empresas contratadas reforça os questionamentos sobre a lisura dos serviços prestados e pode resultar em responsabilizações civis, administrativas e penais.

Em caráter emergencial, o DNIT contratou o Consórcio Ponte do Estreito para construir uma nova estrutura, ao custo de R$ 171,9 milhões, com prazo de entrega de 12 meses. A ordem de serviço foi emitida no dia 3 de janeiro de 2025. Ainda não há previsão para conclusão dos laudos técnicos sobre as causas do acidente, que serão realizados em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).