Uma investigação conduzida pela Polícia Civil do Tocantins revelou novos detalhes sobre o atendimento que resultou na morte de Karle Cristina Vieira Bassorici, grávida de 39 semanas, e de seu bebê, no Hospital e Maternidade Dona Regina (HMDR), em Palmas. A médica Marcelle da Silva Costa, responsável pelo primeiro atendimento à paciente, foi indiciada por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) sob acusação de negligência. Durante seu depoimento, Marcelle negou ter agido de forma negligente e apontou falhas sistêmicas no fluxo de trabalho do hospital.

Segundo o G1 Tocantins, que teve acesso ao inquérito, a médica informou que clínicos gerais começaram a atender no Dona Regina sem orientação clara sobre quando acionar obstetras. Marcelle também informou que a dinâmica no hospital teria sido alterada recentemente. 

Durante uma vistoria ao Dona Regina no dia 3 de novembro, o Conselho Regional de Medicina havia apontado, durante uma vistoria, falhas graves dentro do HMDR, inclusive indagou se era possível manter o hospital funcionando, nas condições em que se encontrava, tanto devido a falta de médicos, quanto pelas condições de trabalho dentro da maternidade. 

Confira o vídeo do CRM: 

No depoimento, a médica justificou que a paciente não apresentava sinais que, segundo ela, justificassem a intervenção de um especialista, como ausência de movimentos fetais ou sangramento. No entanto, reconheceu que, caso Karle tivesse sido avaliada por um obstetra, “a abordagem poderia ter sido diferente, mas não necessariamente o desfecho”.

O inquérito apontou que a falta de exames básicos no dia 29 comprometeu o diagnóstico de complicações que poderiam ter sido tratadas a tempo. No dia seguinte, 30 de outubro, Karle voltou ao hospital em estado crítico, com dor abdominal intensa e sinais de sofrimento fetal. Ela foi submetida a uma cesariana de emergência, mas o bebê já estava morto.

Nota à imprensa emitida pela Secretaria Estadual de Saúde

A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que o Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos (HMDR), que responde pelo cuidado de alta complexidade no Estado, opera com escalas completas de profissionais de saúde, dentre eles médicos especialistas em Ginecologia e Obstetrícia de plantão.

A SES-TO esclarece que a clínica médica do HMDR realiza atendimentos e intercorrências clínicas em gestantes e puérperas, sempre atentando para o fato de que este atendimento, no caso das gestantes, deve levar em consideração o binômio mãe e bebê. Em caso de dúvidas no atendimento ou queixas relacionadas à obstetrícia, a orientação é a avaliação conjunta com o obstetra plantonista.

A Pasta pontua que tem tomado medidas estratégicas para fortalecer a rede de cuidado materno-infantil no Tocantins, com foco principal nas unidades hospitalares estaduais que realizam partos, em especial o HMDR, que segue abastecido de materiais, medicamentos e insumos para funcionamento de rotina e não enfrenta falta de profissionais que comprometa a assistência à população.