A Frísia é uma das cooperativas agroindustriais mais tradicionais do Brasil, com cem anos de história. No Tocantins, a entidade está presente há nove anos, consolidando sua atuação em municípios como Paraíso do Tocantins, Dois Irmãos e agora com um terceiro entreposto em implantação na cidade de Pium. Atualmente, a Frísia conta com cerca de 140 cooperados, entre integrados e não integrados, que juntos cultivam aproximadamente 45 mil hectares.

A principal cultura produzida no Tocantins é a soja, seguida pelo milho e por outras culturas de menor escala, como sorgo, gergelim, feijão-mungo, milheto e braquiária. Além do fornecimento de insumos essenciais para o plantio, a Frísia oferece assistência técnica especializada por meio de uma equipe de agrônomos, que acompanham de perto o planejamento e o desenvolvimento das safras, contribuindo para a otimização da produção.

Na entrevista desta semana, Moacir Oliveira, coordenador Comercial da Frísia no Tocantins, fala sobre o funcionamento da cooperativa, seus serviços, o perfil dos cooperados e os desafios e perspectivas para a expansão da cooperativa no estado, com a meta aumentar a área plantada nos próximos cinco anos.

Como a Frísia chegou ao Tocantins?
A Frísia está no Tocantins há nove anos. O primeiro entreposto foi instalado em Paraíso do Tocantins. Em 2022, foi montada uma unidade em Dois Irmãos. Atualmente, estamos implantando o terceiro entreposto, que será em Pium.

Como funciona uma cooperativa agroindustrial?


A cooperativa é um trabalho coletivo, no qual todos colaboram. O cooperado produz soja, milho ou outras culturas com o apoio da cooperativa, que fornece os insumos necessários. Em contrapartida, ele entrega sua produção nos armazéns da cooperativa. Planejamos, de forma geral, qual será a área a ser plantada e, com essa programação, negociamos a compra dos insumos antecipadamente no mercado. Assim, conseguimos melhores condições junto aos fornecedores. O pagamento pode ser à vista ou a prazo, conforme análise de crédito, seguindo critérios usuais do mercado.

A Frísia atua apenas com soja?


A principal cultura é a soja, que movimenta a maior parte dos insumos e armazéns. Contudo, também trabalhamos com milho e outras culturas secundárias, como sorgo, gergelim, feijão-mungo, milheto — utilizado principalmente para cobertura do solo, e braquiária. Há diversidade de culturas, mas o foco maior é soja e milho.

E quanto à pecuária?


A Frísia reavaliou estrategicamente suas frentes de atuação no Tocantins e optou por concentrar esforços nas áreas com maior potencial de contribuição para os cooperados e para a sustentabilidade da operação, priorizando o desenvolvimento agrícola.

Vimos que vocês têm sede no Paraná e no Tocantins. Como foi escolhida a atuação no Tocantins para esse projeto?


O Tocantins apresentou características adequadas para a expansão do negócio da Frísia. O perfil do agricultor é o que mais se aproxima do perfil do cooperado do Paraná, embora não sejam iguais. Entre estados do Norte e Nordeste com fronteiras agrícolas, o Tocantins oferece um perfil mais alinhado ao que a cooperativa já trabalha.


O estado tem módulos rurais de tamanhos adequados e o agronegócio local está em fase de expansão, ainda em abertura. Além disso, conta com setores complementares, como serviços e logística. A infraestrutura, com ferrovias, energia elétrica e estradas, é importante para a operação dos armazéns e o escoamento da produção. Outro ponto fundamental é a regularização fundiária, aspecto muito observado na expansão para novas regiões.


Portanto, o estado possibilitou um planejamento de longo prazo para a instalação das unidades e atração de cooperados.

O Tocantins, então, tem um bom perfil para a Frísia?
Sim, o Tocantins tem um bom perfil, tanto para o produtor local quanto para aquele que vem do Paraná com a ideia de se instalar aqui nos mesmos moldes.

Quais as diferenças que vocês encontram entre a produção no Paraná e no Tocantins?
O sistema produtivo no Paraná é diferente. O solo lá é mais maduro, com maior quantidade de matéria orgânica e nutrientes, especialmente fósforo. Muitos solos no Paraná possuem níveis suficientes ou até excessivos desse nutriente. No Tocantins, o solo ainda está em processo de construção e maturação, exigindo calagem, gessagem e fosfatagem para viabilizar o cultivo.


Como toda nova fronteira agrícola, o início da produção exige investimentos e manejo adequado do solo. A lucratividade tende a aumentar à medida que o produtor atinge o ponto de equilíbrio, que varia conforme as características da área e os investimentos realizados. Com apoio técnico e planejamento estruturado, é possível obter resultados consistentes e sustentáveis ao longo das safras.

Como o governo do Tocantins tem contribuído para essa expansão do agronegócio?
O estado oferece suporte político ao que a Frísia precisa. Participamos dos principais fóruns de discussão do setor agro, como a APA do Cantão, onde integramos a comissão. Esse tema, que esteve parado por algum tempo nas pautas nacionais, voltou com força e é fundamental para nós.


O governo estadual, secretarias e órgãos ambientais estão envolvidos nas discussões sobre o remanejo e a viabilidade das áreas. Muitas foram adquiridas no passado por pessoas que agora precisam se regularizar para produzir. É essencial garantir que a produção, especialmente de soja, não seja bloqueada no futuro, evitando prejuízos por restrições ambientais.


Nossa participação é importante para orientar os cooperados, principalmente os que vêm do Paraná, para que não adquiram áreas irregulares e sofram prejuízos.

Essa preocupação é relevante, considerando os conflitos agrários e a crise ambiental no Brasil.

Sim. Hoje, é impossível falar de agronegócio e comercialização de grãos sem considerar as questões ambientais. A Frísia tem grande preocupação com a rastreabilidade, acompanhando todo o processo desde a origem até o destino final.


Embora ainda não exportemos diretamente, trabalhamos com grandes players do mercado que exigem saber a origem da produção e não financiam áreas ligadas a desmatamento ou produção irregular.


No entorno de Palmas, a área de atuação inclui Dois Irmãos, Caseara, Rio Sono, Aparecida do Rio Negro e, mais ao sul, Porto Nacional e Aliança. Pelo oeste, atuamos em Formoso do Araguaia, Gurupi, Figueirópolis, Lagoa da Confusão e Lagoa Seca. Quase todos os municípios contam com cooperados, mas a maior concentração está em Pium, seguida por Paraíso e Dois Irmãos.

Quantos cooperados vocês têm atualmente?
Temos mais de 100 cooperados integrados, que atendem aos quatro pilares da Frísia. Também há cooperados no perfil não integrado, que ingressam para conhecer a cooperativa e têm até dois anos para decidir se permanecem. Esse período serve para avaliar se o modelo realmente agrega valor ao processo produtivo. Caso optem por permanecer, tornam-se integrados; caso contrário, encerram a participação.

Como esse trabalho funciona na prática?


É um esforço conjunto. Um produtor com 100 hectares, sozinho, negocia insumos em menor volume e com preços mais altos. Já a Frísia, com cerca de 43 mil hectares plantados, compra em maior escala, obtendo preços melhores para todos. O mesmo vale na hora de vender o grão, garantindo melhores condições de negociação com as tradings.

No Tocantins, há alguma indústria da Frísia?
Ainda não. No Paraná, a Frísia possui unidades industriais, como o moinho de trigo, e unidade de beneficiamento de leite, num projeto de intercooperação com outras duas cooperativas. 

Como o produtor interessado pode se associar à Frísia?


Temos alguns canais para admissão de cooperados. Um deles é o site da Frísia, onde o interessado pode manifestar seu interesse e deixar seus dados para contato. A partir daí, nossa equipe em Palmas, coordenada por Daniela Macedo, faz o atendimento e avalia o perfil do candidato.

Além disso, fazemos prospecção ativa no campo, buscando novos cooperados com perfil alinhado ao sistema da cooperativa.

Há alguma exigência mínima para se tornar cooperado?


Sim. É necessário ter no mínimo 50 hectares para ingresso.

Qual a área total plantada pelos cooperados hoje?


Cerca de 43 mil hectares, com previsão de superar 45 mil ainda este ano.

É possível falar em lucro médio para os cooperados?


A Frísia não divulga publicamente esses números, mas apresenta trimestralmente aos cooperados os resultados financeiros, incluindo o EBITDA, lucro antes de impostos, para avaliação do desempenho do negócio.

Poderia falar sobre a parceria com a Fundação ABC?


A Fundação ABC é uma entidade de pesquisa que promove soluções tecnológicas para o agronegócio rodutores rurais filiados a três cooperativas, entre elas a Frísia. 

Realiza protocolos científicos e apresenta resultados que orientam a escolha dos insumos mais eficazes. Todos os produtos adquiridos pela Frísia passam por essa validação.

Vocês também oferecem assessoria técnica para o cooperado?

Sim. Contamos com agrônomos que prestam assistência técnica e fazem prospecção ativa. Trabalhamos com defensivos, fertilizantes e sementes de parceiros validados pela Fundação ABC, garantindo qualidade e eficiência. O serviço inclui planejamento da safra, avaliação das condições da propriedade e acompanhamento até a colheita.

Agora, poderia falar sobre a importância do centenário da Frísia e sobre a expansão da cooperativa no Tocantins, onde vocês devem chegar a 45 mil hectares ainda este ano?


A Frísia completou 100 anos em 1º de agosto deste ano, um marco importante para a instituição. Para celebrar, organizamos uma visita ao Paraná com cerca de 40 cooperados do Tocantins. Foi uma oportunidade para conhecer melhor as atividades no Sul, reforçar o sentimento de pertencimento e fortalecer os laços com a cooperativa.

A Frísia atua com responsabilidade econômica, buscando sempre o equilíbrio entre rentabilidade, sustentabilidade e os princípios do cooperativismo.

Não buscamos crescimento a qualquer custo, mas sim um desenvolvimento sólido e sustentável, com parceiros que compartilhem essa visão.

No Tocantins, já temos parceria com a Coapa, em Pedro Afonso, e contamos com a chegada da Castrolanda, importante cooperativa do Sul. Acreditamos que outras também enxergarão o potencial do estado e investirão na região.