Uma mulher, cuja idade e nome não foram divulgados, deu entrada no Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), em Araguaína, após ser picada por uma cobra no começo deste ano. De acordo com um relato enviado de forma anônima ao Ministério Público do Tocantins (MPTO) em maio, a paciente chegou orientada, consciente e conversando, e supostamente apresentando quadro clínico estável.

Conforme a denúncia, durante a internação, o estado de saúde da paciente piorou “severamente”, sem que medidas efetivas fossem adotadas imediatamente pela equipe médica responsável. Após exames de imagem, foi identificado sangramento intracraniano; mesmo assim, o documento aponta demora “injustificável” na implementação de condutas compatíveis com a gravidade do quadro.

Ainda segundo o relato, a paciente foi intubada na ala A do hospital, mas, devido à suposta demora no atendimento, apresentou sinais sugestivos de morte encefálica. O documento não informa a data do registro do óbito.

Especialistas afirmam que, na maioria dos casos de picadas por cobras peçonhentas, a morte pode ser evitada com atendimento médico rápido e adequado. O tempo entre a picada e a aplicação do tratamento, especialmente o soro antiofídico, é determinante para a sobrevivência. Quanto mais cedo forem adotadas medidas de suporte, como controle de sangramento, respiração e pressão, maior a chance de recuperação. Mesmo quadros graves não são automaticamente fatais, mas atrasos ou falhas no atendimento aumentam significativamente o risco de óbito.

Determinações 

Em razão da denúncia, o MPTO instaurou um Procedimento Preparatório para investigar a motivação da morte. A medida foi publicada na edição nº 2238 do Diário Oficial do órgão, na última sexta-feira, 12.

De acordo com a portaria, a denúncia aponta indícios de suposta negligência médica que teria contribuído diretamente para o agravamento do quadro clínico e o óbito da paciente. 

Diante disso, a 5ª Promotoria de Justiça de Araguaína determinou que o Conselho Regional de Medicina analise a conduta da equipe médica responsável pelo atendimento e encaminhe resposta no prazo de 40 dias. Além disso, foi requisitado ao Hospital de Doenças Tropicais que a Comissão de Revisão de Óbitos revise o prontuário, o atestado de óbito e demais documentos da paciente, apontando possíveis falhas e fatores que contribuíram para o desfecho, além de apresentar recomendações de melhoria na assistência, com prazo de 20 dias para manifestação. 

Já a Vigilância Sanitária Estadual deverá realizar uma apuração criteriosa e sistemática sobre a morte, indicar eventuais falhas no atendimento hospitalar e sugerir medidas para evitar novos casos semelhantes, igualmente em prazo de 20 dias.

O procedimento foi instaurado pela promotora de Justiça Bartira Silva Quinteiro Rios. O Jornal Opção Tocantins entrou em contato com o Hospital de Doenças Tropicais de Araguaína (HDT-UFT), Conselho Regional de Medicina e Vigilância Sanitária Estadual, e aguarda posicionamento sobre o caso.