A construção da ponte sobre o Rio Araguaia, entre Xambioá, no Bico do Papagaio e São Geraldo do Araguaia (PA), continua em andamento e não foi paralisada durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como afirmam vídeos que circulam nas redes sociais. A principal pendência que impede a conclusão do projeto está relacionada às desapropriações e conciliações judiciais no lado paraense da obra. O empreendimento é uma antiga demanda da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e tem como objetivo facilitar o escoamento da produção agrícola.

Uma das publicações desmentidas foi feita por um perfil de Instagram identificado como “Jiripoca da Positiva”, que atribui a Bolsonaro o andamento da obra e acusa a atual gestão de paralisar os trabalhos. A checagem foi feita pelo Projeto Comprova e revelou que as afirmações são falsas.

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a ponte chegou ao final do governo Bolsonaro com 84,73% da estrutura convencional executada. À época, ainda faltavam trechos essenciais da parte central da ponte, que sequer tinha a pista construída. Em dezembro de 2022, foram registrados 93,93% dos pilares e travessas concluídos, além de toda a infraestrutura submersa (em lâmina d’água).

Já em 2024, com a gestão Lula no comando, o DNIT divulgou que a ponte estava 99,16% construída, mas os acessos no estado do Pará ainda impedem o tráfego completo. Vídeos feitos por moradores mostram que já é possível subir na estrutura a partir do lado tocantinense, mas não há como atravessar para o Pará. Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência, o projeto completo, estrutura da ponte e acessos, está 87,2% finalizado.

O DNIT informou ao Comprova que contratou os serviços de encabeçamento da ponte em 2023. Desde então, estão em curso os processos de desapropriação de terrenos no entorno, conduzidos por meio de conciliações judiciais. No Tocantins, os trâmites foram concluídos no primeiro semestre de 2025. No Pará, as primeiras audiências estão marcadas para os dias 6 e 7 de agosto.

O órgão federal disse que vai entregar a ponte ainda este ano, caso os processos judiciais avancem sem novos entraves.

Histórico da obra

A construção da ponte foi autorizada em 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB), com orçamento inicial de R$ 132 milhões. As obras, porém, só começaram efetivamente em abril de 2020, após disputas judiciais que atrasaram o início. O valor foi reajustado para R$ 157 milhões, com previsão de conclusão em setembro de 2022, prazo não cumprido.

Até 2022, o governo Bolsonaro divulgou em diversas oportunidades o andamento da obra, com destaque para uma visita técnica ao canteiro em março daquele ano. Imagens da época mostram que a ponte ainda estava incompleta, com trechos centrais sem tabuleiro.

Já no governo Lula, o foco tem sido a finalização dos acessos, especialmente no lado paraense. De acordo com o DNIT, o objetivo é garantir a funcionalidade total da ponte até o fim de 2025.

Ponte estratégica para a economia

Além de ser uma demanda histórica das populações da região, a ponte é estratégica para o transporte de cargas no Matopiba, importante fronteira agrícola do país, princiaplemnte após a queda da ponte JK, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Sem ela, a travessia entre Tocantins e Pará depende de balsas, serviço que sofre com longas filas e atrasos.

A obra, portanto, segue ativa, mas enfrenta gargalos estruturais, principalmente no que diz respeito à regularização fundiária. A desinformação propagada nas redes sociais omite esse contexto e tenta transformar o atraso da entrega em disputa político-partidária, desconsiderando o histórico e a complexidade técnica e judicial envolvida.