O Ministério Público do Estado do Tocantins denunciou nesta sexta-feira, 17, Valdimar Carvalho dos Santos, conhecido como “Piroca”, e seu filho Tiago Pereira dos Santos, por homicídio qualificado e tentativa de homicídio contra quatro pessoas durante uma confraternização no Assentamento Água Fria II, zona rural de Tocantínia, em abril de 2025. Os dois estão foragidos e cabe à Justiça aceitar a denúncia e torná-los réus. Informações sobre o paradeiro podem ser repassadas anonimamente pelo Disque Denúncia no número 197 ou pelo telefone (63) 9 8145-0252.

De acordo com a denúncia apresentada à 1ª Vara Criminal de Miracema do Tocantins, o episódio teve início na noite de 12 de abril, no estabelecimento conhecido como Bar do Amarildo. O Ministério Público relata que pai e filho, sob efeito de álcool, atacaram e atiraram contra um grupo de pessoas após uma discussão motivada por assédio e agressão física.

Segundo a investigação, Valdimar teria se aproximado de Jaiane Sibakadi da Silva Xerente e apalpado as nádegas da jovem sem consentimento. O gesto foi reprovado pelo irmão dela, Rainel Waine da Silva Xerente, que pediu que o homem respeitasse sua irmã.

A reação de Valdimar foi violenta: ele empurrou Jaiane e desferiu-lhe um tapa no rosto. Rainel tentou defendê-la, o que deu início a uma luta corporal, contida por outras pessoas presentes. Ao deixar o local, Valdimar teria gritado a ameaça: “Pera aí que tu vai me pagar”, conforme consta nos depoimentos do inquérito.

Logo depois, o homem voltou ao bar portando uma arma de fogo. Seu filho, Tiago, então com 19 anos, também estava armado. Os dois começaram a atirar para o alto e, em seguida, dispararam em direção ao público, que tentava fugir. Testemunhas afirmaram que várias pessoas, entre elas indígenas da comunidade Xerente, correram em busca de abrigo. Em meio aos disparos, pai e filho atingiram o carro onde estavam Henrique Cardoso de Sousa e um amigo.

De acordo com o laudo pericial, Valdimar encostou a arma no vidro do veículo e atirou, acertando Henrique na cabeça. A vítima morreu quatro dias depois, em 16 de abril, no Hospital Geral de Palmas, em decorrência das lesões encefálicas causadas pelo tiro.

Após o homicídio, o grupo foi abordado por Paulo Jefferson Lemes dos Santos, que questionou o motivo dos tiros. Conforme a denúncia, Valdimar e Tiago o agrediram com socos, murros e coronhadas. Em seguida, Valdimar passou a torturar a vítima com o intuito de obter informações sobre o paradeiro de Rainel, esfregando a arma em seu rosto e provocando intenso sofrimento físico.

O Ministério Público relata que, não satisfeito, Valdimar atirou na cabeça de Paulo Jefferson, causando ferimentos graves. O homem sobreviveu graças à intervenção de terceiros, que conseguiram socorrê-lo a tempo.

Crimes e pedidos do MP

O promotor de Justiça Rodrigo de Souza, autor da denúncia, enquadrou Valdimar e Tiago nas qualificadoras de motivo fútil, meio cruel, perigo comum e dificuldade de defesa das vítimas, conforme o artigo 121, §2º, incisos II, III e IV do Código Penal.

Além do homicídio de Henrique, ambos respondem por três tentativas de homicídio, tortura e, no caso de Valdimar, também por ato libidinoso sem consentimento contra Jaiane. O Ministério Público pediu ainda que a Justiça fixe indenização de 20 salários-mínimos para reparação dos danos causados às vítimas e que ambos sejam julgados pelo Tribunal do Júri.

Entre as pessoas arroladas para depor estão as vítimas Jaiane e Rainel Xerente, Paulo Jefferson, além de testemunhas como Amarildo dos Santos, dono do bar, e Junior Carlos Kunkadi Xerente, que presenciaram o crime.

A denúncia foi protocolada na comarca de Miracema do Tocantins e segue em tramitação.