Palmas e outras capitais da região Norte que disputam segundo turno enfrentam desafios semelhantes, afirma pesquisador
25 outubro 2024 às 11h13
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Neste domingo, 27, eleitores de Belém (PA), Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Palmas (TO) retornarão às urnas para decidir os próximos prefeitos dessas capitais do Norte do Brasil, que compartilham desafios semelhantes em suas administrações urbanas. As dificuldades habitacionais e de regularização fundiária, aliadas aos altos índices de violência e à carência de serviços públicos de qualidade, especialmente no setor de saneamento básico, têm gerado impactos expressivos na saúde e na qualidade de vida das populações locais.
Fernando Luiz Araújo Sobrinho, professor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador na área de urbanização da Amazônia, destaca cinco problemas estruturais que as próximas gestões dessas capitais precisarão enfrentar: regularização fundiária, habitação social, saneamento, melhoria dos serviços públicos e combate à violência. Segundo ele, esses aspectos são essenciais para o desenvolvimento sustentável e seguro dessas cidades, cuja população cresce constantemente em busca de melhores condições de vida.
Para o professor, que também integra o Departamento de Geografia da UnB, esses problemas exigem soluções de longo prazo e continuidade de políticas públicas bem-sucedidas. Ele enfatiza a necessidade de que os futuros gestores tenham consciência da importância de manter e aprimorar as políticas implementadas por administrações anteriores, passando esse compromisso adiante em futuras gestões.
“Infelizmente não vamos resolver tudo isso de um dia para outro. É um processo que vai demorar alguns anos e algumas gestões municipais, além de serem necessárias articulações com os governos federal e estaduais. É o caso, por exemplo, do saneamento, uma questão bastante importante na Amazônia brasileira. Trata-se de um indicador que está em situação muito mais vulnerável do que em outras regiões brasileiras”, disse o pesquisador.
Especificamente sobre Palmas, a capital mais jovem do Brasil, tem-se como destaque ser uma cidade planejada, com infraestrutura de qualidade na área central, fruto do projeto inicial de urbanização. Para o professor Fernando Sobrinho, o desafio do próximo prefeito vai além do centro urbano de Palmas, incluindo também a região metropolitana, que hoje se consolida como uma cidade de porte médio. “São os chamados consórcios intermunicipais, de forma a pensar formas mais integradas para a região que começa a ter um processo de crescimento muito grande, afetando principalmente a periferia da capital e os municípios de seu entorno”, afirmou o professor.
“Há ali uma expansão da população migrante mais pobre, que vem à capital do Tocantins em busca de melhores condições de vida, principalmente nas cidades do entorno metropolitano, o que acaba resultando em uma expansão para fora do município de Palmas”, complementou.
A violência é outro grave problema a ser combatido, agravado pelo fato de a região estar próxima a países produtores de drogas, o que a torna um corredor para o tráfico de cocaína e armas. Esse contexto facilita o aliciamento de jovens dessas cidades para o crime.
Segundo o professor, uma das questões centrais que também afeta as cidades na Amazônia é a da regularização fundiária, algo que, até pelas características da região, tem relação com a questão habitacional, uma vez que é grande o número de pessoas que se deslocam para a localidade, na busca por uma vida melhor.
“Até mesmo Palmas, cidade planejada que é a capital mais nova do Brasil, nasceu sob a égide deste problema antigo, que é a falta de regularização fundiária”, acrescentou.
A questão climática também é um agravante nessas capitais, pois assim como em outras partes do país, a Amazônia tem passado por sucessivos anos de secas extremas, por períodos maiores do que o esperado. Os rios da região, que têm papel fundamental para a conectividade e para a comunicação entre as populações da área rural, entre as cidades, e entre a região Amazônica e outras regiões do mundo, também têm sofrido com a estiagem prolongada. “Isso, de certa forma, afeta a vida nesses municípios, tanto no sentido da conectividade como para a manutenção da vida, uma vez que a população ribeirinha e a população urbana dependem da água desses rios. A mudança nos padrões climáticos verificada nos últimos anos mostra que precisamos pensar em como essas cidades enfrentarão desafios globais como as mudanças climáticas em curso”, afirmou o pesquisador.