Pecuária tocantinense: desafios e perspectivas frente à queda no preço da arroba do boi
09 julho 2024 às 16h16
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A balança comercial vem preocupando os pecuaristas brasileiros e principalmente os tocantinenses. Recentemente, o arroba do boi vem caindo devido a alta oferta. No Tocantins, a arroba do boi gordo está custando em média R$202. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, até o inicio do ano, o Tocantins tinha mais de 11 milhões de cabeças de gado, se subdividirmos esse total com a estimativa populacional do Tocantins, teríamos 6,25 cabeças de gado para cada habitante. Este aumento no número de animais também tem relação com o preço, uma vez que há uma oferta maior.
Para esclarecer essa queda no preço da arroba do boi, conversamos com o técnico de campo da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) e consultor do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ), José Ribeiro Martins Neto, que falou que essa queda é cíclica e até esperada, devido a liquidez da atividade pecuarista:
“A questão dos preços baixos que a gente está vivendo hoje na pecuária brasileira se deve, em grande parte, ao fato da pecuária ser uma atividade econômica que tem uma alta simplicidade, é uma atividade cíclica. Existem outros segmentos do mercado que não tem esse fator de ciclo. A atividade pecuarista, no entanto, é uma atividade de alta liquidez. Trata-se de uma atividade que é muito fácil de muita gente entrar e sair fora do negócio. Então, por exemplo, quando o preço da arroba está alto, ela atrai muitos investidores”.
Ribeiro também falou da sazonalidade dos investidores no setor:
“Esses investidores entram e isso vai aumentando a produção lá na frente, gerando uma oferta maior de produto. Que no caso do bezerro e posteriormente o boi gordo, essa maior oferta vai jogar o preço do gado para baixo. Aí, quando o preço do gado está baixo, muita gente sai também da atividade, oque vai fazer o efeito reverso, ou seja, vai diminuir a oferta, diminuindo essa oferta, o preço sobe. Então o valor da arroba no Brasil e consequentemente no Tocantins, é grande parte desse preço baixo que a gente está vivendo hoje se deve ao ciclo de baixa. Porque o pessoal há 3, 4 anos atrás, segurou muitas matrizes para produzir bezerro. E aí aumentou muito a produção de bezerros, jogando o preço para baixo”.
Apesar da queda recente, o técnico está confiante que os valores possam ser revertidos a partir do final do ano:
“A projeção é que a gente está vivendo o final desse ciclo agora, já no segundo semestre de 2024. A gente está com a expectativa do mercado começar a reagir em 2025, ou no final de 24, começo de 25. Inclusive com projeções de preço recorde no preço do bezerro. E esse ciclo que eu falei anteriormente é que regula isso. Agora, paralelamente a isso, a gente tem outros fatores, como por exemplo a mudança cultural na alimentação do brasileiro. Então hoje, a carne bovina compete com o peixe, compete com frango, compete com suínos. Quer dizer, o brasileiro aprendeu a variar o consumo de proteína animal entre esses tipos. Outro ponto que vale destacar é o baixo poder de compra do brasileiro, porque 80% da produção de carne no Brasil vem para o mercado interno brasileiro, que hoje tem um poder de compra menor, com a moeda desvalorizada e todas essas questões aí, que influenciam no consumo de carne, porque o aumento de renda tem uma alta correlação com o consumo de carne. E o inverso também é verdadeiro”.
Ele também apontou para o aparente oligopólio das empresas compradoras da carne, enquanto que o mercado produtor é diversificado e não possui grande organização:
“Um outro fator também paralelo a questão do ciclo e paralelo à questão do baixo poder de compra do brasileiro, é a própria estrutura do mercado da carne bovina em que onde você tem 80% do market share de frigoríficos composta por apenas 3 marcas. Quer dizer, são 3 grupos que dominam 80% do mercado comprador de boi no Brasil. Então, a cadeia compradora, ela é muito mais organizada. Muito mais fácil de se organizar para poder comprar. Uma organização que a cadeia vendedora não possui. Porque aí são milhares de pequenos e médios produtores que vão ofertar sua mercadoria para o mercado. Então a cadeia com o elo comprador, que são os frigoríficos corresponde a 80% do mercado que é absorvido por apenas 3 marcas. Já o pecuarista, tem mais dificuldades de se organizar. Então isso também afeta muito no preço do boi gordo.
O que o pecuarista tem que fazer para se defender desses preços baixos é ter a consciência do ciclo pecuário. De ter a consciência de que a pecuária é uma atividade cíclica e que acompanha o abate de matriz. Quando o abate de matrizes cai, indica uma retenção de fêmeas. Retenção de fêmeas nas fazendas, quer dizer um aumento na produção de bezerro e lá na frente um mal maior. A oferta do boi gordo que vai jogar o preço pra. E o maior abate de matrizes. É. Quer dizer, uma menor produção de bezerro, consequentemente uma menor produção de boi gordo. Automaticamente, um aumento maior no preço devido à baixa oferta dessa mercadoria”
Ele finalizou alertando para que os pecuaristas diversifiquem seus investimentos e tentem prever os ciclos de alta e baixa dos preços:
“Também é preciso que o pecuarista saiba diversificar seus investimentos. Entender e prever o ciclo de baixa, o ciclo de alta e investir em outras áreas em função desse ciclo”.