Mais de 50 organizações da sociedade civil estão se posicionando contra um projeto de construção de um trecho da hidrovia no Rio Tocantins, uma parte essencial da futura Hidrovia Araguaia-Tocantins. Este projeto, intitulado “Dragagem e Derrocagem da Via Navegável do Rio Tocantins,” visa facilitar o transporte de commodities agrícolas e minerais, mas está sendo questionado por seus potenciais impactos socioambientais.

O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação pedindo a anulação do licenciamento concedido para a obra. Segundo o MPF, o licenciamento foi realizado sem consultas prévias, livres e informadas às comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas que seriam afetadas, o que contraria normas estabelecidas. Além disso, o MPF argumenta que houve uma fragmentação no processo de licenciamento ambiental, o que desconsiderou os impactos mais amplos que a hidrovia teria na região.

A obra envolve intervenções como a dragagem, que remove bancos de areia, e a derrocagem, que retira afloramentos rochosos ao longo de 560 km do rio, criando um canal de navegação para grandes embarcações. No entanto, a ação do MPF alega que foram utilizados critérios artificiais para delimitar as áreas de influência do projeto, excluindo diversas comunidades dependentes da pesca e navegação tradicional.

Os impactos previstos incluem erosão das margens, contaminação da água, perturbação da vida aquática e alteração das rotas de pesca, o que pode prejudicar gravemente a subsistência das comunidades locais. O MPF também alerta que, devido às mudanças climáticas e às previsões de crises hídricas, a navegabilidade do Rio Tocantins pode ser comprometida, transformando o projeto em um possível desperdício de recursos públicos bilionários.

Diante desses riscos, diversas organizações estão mobilizadas para discutir e divulgar os potenciais perigos do empreendimento. Elas se opõem à continuidade da obra sem a realização de estudos, consultas e licenças que considerem a totalidade dos impactos socioambientais envolvidos.

Debate na CMA

Durante uma audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) no Senado, na quarta-feira, 28, autoridades e especialistas debateram os impactos socioambientais e econômicos da Hidrovia Araguaia-Tocantins. O senador Jorge Kajuru, que presidiu a reunião, expressou preocupação com a degradação do Rio Araguaia, ressaltando problemas como o desvio de água por empresários locais.

Defensores da obra, como Larissa Martins, do Ministério de Portos e Aeroportos, argumentaram a favor da dragagem e derrocamento do Rio Tocantins, destacando a importância dessas ações para garantir a navegação segura. No entanto, críticos, como o pesquisador Alberto Akama e o procurador Sadi Flores Machado, questionaram a adequação do processo de licenciamento e alertaram sobre os possíveis impactos negativos para as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas que dependem dos rios Araguaia e Tocantins.

Lista de organizações que assinam a manifestação:

  1. A Vida no Cerrado – AVINC
  2. Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins – APA-TO
  3. Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins – ARPIT
  4. Articulação Tocantinense de Agroecologia – ATA
  5. Associação Alternativa Terrazul
  6. Associação Brasileira de Antropologia – ABA
  7. Associação da Comunidade Ribeirinha Extrativista Vila Tauiry – ACREVITA
  8. Associação de Amigos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros – AVE
  9. Associação de Jovens Engajamundo
  10. Associação Indígena Apinajé PYKA MEX
  11. Associação Onça D’água – Tocantins
  12. Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente – ARCA
  13. Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins
  14. Cáritas Brasileira Regional Norte 2
  15. Centro de Direitos Humanos de Cristalândia Dom Heriberto Hermes – CDHC
  16. Centro de Trabalho Indigenista – CTI
  17. Coalizão Pelos Rios
  18. Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática
  19. Coletivo Goiás Lixo Zero
  20. Coletivo Ideias Urbanas
  21. Colônia de Pescadores de Araguacema – Copesca Z-5
  22. Comissão Pastoral da Terra – Araguaia-Tocantins
  23. Comissão Pastoral da Terra – CPT Pará
  24. Comitê de Defesa da Vida Amazônica na Bacia do Rio Madeira – COMVIDA
  25. Conselho Indigenista Missionário regional Goiás-Tocantins
  26. Cooperativa de Trabalho de Catadores de Material Reciclável de Bela Vista de Goiás
  27. Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB
  28. FASE Amazônia
  29. Instituto Aldeias
  30. Instituto Altair Sales
  31. Instituto de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental – IDESA
  32. Instituto EcomAmor
  33. Instituto Madeira Vivo – IMV
  34. Instituto Plantadores de Água
  35. Instituto Pouso Alto
  36. Instituto Santa Dica
  37. Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN
  38. Instituto Zé Claudio e Maria
  39. International Rivers
  40. Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
  41. Movimento Estadual de Direitos Humanos e Ambientais do Tocantins
  42. Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
  43. Movimento Sos Cerrado
  44. Movimento SOS Chapada dos Veadeiros
  45. Museu da Águas Brasileiras
  46. Núcleo Rondônia do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental
  47. Observatório de Conflitos Socioambientais do Matopiba
  48. Rede Cerrado
  49. Rede Jandyras
  50. Rede Pouso Alto Agroecologia
  51. Sociedade Ecológica Porto das Antas
  52. SOS Rio Piracanjuba
  53. Territórios Globais – TG